“Faz um passing game, joga um contra um…”

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Publicado em: 23/02/2008

Antes de começar meu texto, gostaria de agradecer ao espaço cedido pelo amigo Guilherme. É sempre uma honra escrever para o Draft Brasil, um verdadeiro clã de apaixonados por basquete. É verdade, porém, que a alegria que tenho em escrever este texto é acompanhada pela tristeza que sinto quando penso no basquete nacional. Convido os amigos leitores a me acompanharem neste pequeno causo que dividirei com vocês.

Estava eu no meu MSN, pensando na vida e não fazendo nada para ela, quando meu amigo Guilherme Tadeu de Paula me lembra que era dia da final do Paulistão, que Franca poderia varrer São Bernardo. “Um bom jogo”, pensei, “é sempre bom ver os times do Hélio Rubens, técnico do melhor time que vi jogar aqui no Brasil, aquele Vasco de Demétrius, Rogério, Helinho, Vargas, Byrd, etc”. “Como jogava aquele time”, continuei pensado. Aquele time realmente era muito bom, tinha uma defesa muito forte, um jogo de garrafão muito consistente, arremessadores incríveis… Do outro lado, temos o time do Neto, técnico daquela seleção sub-20 que foi muito bem no Mundial. Na mesma hora liguei a TV, então, com o intuito de assistir ao jogo e depois escrever alguma coisa sobre. Já tinham se passado cinco minutos do primeiro quarto.

São Bernardo começou melhor que Franca, e o jogo começou pior que o meu MSN. Começou e terminou, infelizmente. Correria e organização dignas de peladas no Aterro do Flamengo, jogadores com péssima leitura de jogo – exceção feita aos experientes Danilo e Rogério -, técnicos que não conseguiam controlar os seus times. Devo dizer, aliás, que os treinadores me decepcionaram muito no jogo. Em um tempo pedido, a TV – aqui me lembro de falar da transmissão horrível; mais tarde volto ao assunto – cortou a conversa da Ulbra e foi dar uma olhada no papo do Hélio. Irritado, e com motivos para tal, o melhor técnico brasileiro na minha humilde opinião (!!!) dizia: “faz um passing game, joga um contra um”. Esse vai ser o título do meu texto, pensei. Fiquei embasbacado com tal discurso; logo ele, Hélio Rubens, alguém que sempre deu tanta importância ao jogo de 5 contra 5, a um padrão tático rígido, ao jogo coletivo…me lembro de uma reunião de um curso para técnicos de basquete organizado pela FBERJ, alguns treinadores fazendo piadas com o excesso de bloqueios (em São Paulo, corta-luzes) dos times “heliorubenzianos”. “Agora vá bloquear o diretor de basquete”, dizia um dos técnicos humoristas, “depois o Eurico Miranda”, falava outro, rindo. Logo ele, Hélio Rubens, me solta uma pérola daquela. Meu desespero aumentou quando pensei no que os outros, piores que Hélio, dizem aos jogadores, no que os caras da base não falam pros garotos… depois não conseguimos ganhar de ninguém fora do país e não sabem o porquê.

Fiz um esforço e deixei a frase do Hélio pra lá; Franca equilibrou o jogo com os arremessos de três do Helinho. “Que jogador seria o Helinho se fosse melhor trabalhado”, falei sozinho. Ele, Marcelinho, Rogério, todos vítimas do basquete brasileiro e sua falta de estrutura. Rogério não jogava bem, mas era o jogador mais inteligente em quadra e por isso Hélio lhe dava bastante tempo de jogo. Márcio com problemas de faltas, Matheus quebrando o chão da quadra de tanto bater a bola.

Naquele momento senti pena dos técnicos, pois a falta de estrutura afeta aos jogadores diretamente e aos técnicos indiretamente, já que estes dependem daqueles na concretização do plano tático. Não adianta você treinar um time por horas se os jogadores não têm a leitura de jogo necessária para as mudanças que acontecem num jogo de basquete. Neto, por exemplo, teve que pedir ao seu armador reserva para ele chamar outra jogada, caso Franca marcasse zona. “Ele não precisava explicar isso ao jogador”, pensei. Tenho pena dos técnicos brasileiros.

O jogo continuou ruim e equilibrado. Cledi Oliveira comparou o armador Matheus a Mané Garrincha, Rogério ganhou o jogo com sua experiência, Wlamir Marques disse que o basquete brasileiro ainda era muito bom, e que tem gente que diz que ele é ruim injustamente. Segundo o melhor jogador brasileiro de todos os tempos (junto com Amauri Pasos), aquele jogo equilibrado e aguerrido era a prova da qualidade do nosso basquete. Concordo, Wlamir, o jogo realmente foi a prova da falta de qualidade do basquete nacional.
Acabado o jogo e o meu sofrimento, corri para o MSN para falar com o meu amigo de Maringá. Precisava desabafar com alguém. “Se eu conseguir escrever alguma coisa sobre este jogo, será um texto amargo e pessimista”, pensei (eu penso muito, não?).
Guilherme não estava no MSN e todo aquele sofrimento estava me corroendo. Eu precisava sair de casa. A boemia me salvaria.

Pois bem, depois de alguns dias fora de casa, de muitas cervejas, de botequins variados, de glicose na veia e álcool na mente, voltei pra casa e procurei – e achei – o Guilherme no MSN. Todo o tempo na rua não foi suficiente para eu me esquecer daquele jogo. Expliquei o acontecido a ele, que me pediu para escrever um texto contando isso tudo. Eu estava apreensivo em magoar as pessoas envolvidas no jogo e na transmissão, mas resolvi escrever mesmo assim. Foi um ato de egoísmo, pois eu sei que continuaria sufocado e teria de voltar pra boemia.

Muito obrigado aos que leram o texto até o fim. Se você achou o meu texto absurdo, não fique chateado. Depois eu lhe mostro o meu ensaio de dez páginas intitulado “Porque eu detestaria jogar com o Steve Nash”.
Beto Miller Jannarelli

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