Reflexões Turcas

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Publicado em: 15/06/2013

“They are not general fans, they are basketball fans”. Esta frase foi dita pelo armador turco Sinan Guler, durante seu depoimento para o documentário “Capitais do Basquete”, produzido pela ESPN (seria legal vê-lo por estas bandas) explicando como é o perfil dos fãs de seu atual clube, o Anadolu Efes de Istambul, que segundo o mesmo documentário, é considerado o maior clube do basquete turco.

O time começou a competir em 1976, quando o grupo Anadolu, um dos maiores conglomerados industriais da Turquia, comprou um clube falido da segunda divisão, que foi rebatizado com o nome de Efes Pilsen que fazia menção a um dos seus produtos mais famosos – a cerveja Efes – nome que durou até 2012, quando uma lei turca que proibia a associação de bebidas alcoólicas com o esporte profissional o fez mudar para o atual nome. De lá pra cá, a equipe se tornou a maior vencedora da liga turca (13 títulos), foi a primeira do país a ganhar um título continental (a antiga Korac Cup, em 1996) e segue sendo o único representante do país a atingir o Final Four da Euroliga.

Jogadores do Anadolu Efes comemoram junto com sua torcida em vitória na Euroliga. (Foto: Euroleague)

Segundo o site gigabasket sua média de público na principal competição europeia nesta temporada foi 8619 pessoas/jogo, a maior entre as equipes turcas, feito que se torna notável quando estas foram Fenerbahçe e Besiktas, times da mesma cidade e marcas, que ao contrário do Efes, estão vinculadas ao futebol, o que lhes proporciona uma legião de fãs. Também não se pode esquecer o outro vizinho, o Galatasaray, que apesar de não ter disputado a Euroliga este ano, também tem investido muito no basquete (no momento em que esta coluna é escrita, o Galatasaray lidera a série final da liga turca, contra o Banvit, por 3-0, estando a uma vitória do título).

Intrigada sobre como o Efes consegue atrair este número considerável de público em seus jogos (foi o quinto da principal competição europeia), a coluna conversou via twitter com o administrador do perfil @turbasket, especializado em notícias do basquete turco. A resposta para tal questionamento foi a seguinte: “Por tudo que faz pelo basquete do país (investimento e boas campanhas nos torneios continentais), o Efes tem a simpatia da população turca. É comum que torcedores de Fenerbahçe, Galatasaray e Besiktas apoiem o Efes, mas este apoio se restringe apenas à Euroliga. Na liga local a média de público da equipe despenca para a casa de 1000 torcedores, pois aí existe a competição direta”.

A rivalidade entre Galatasaray e Fenerbahçe extrapola as quatro linhas do futebol e é ferrenha também no basquete. (Foto: Fenerbahçe)

Aqui podemos começar a fazer algumas comparações com o basquete brasileiro.  Primeiro é possível traçar um paralelo com Minas Tênis, Paulistano e Pinheiros: todos estão em cidades importantes e populosas (mercado consumidor grande), onde o futebol, apesar de reinar de forma absoluta como modalidade preferida, ainda não introduziu suas marcas no basquete com força total – Palmeiras ainda tímido e em Belo Horizonte, Galo e Cruzeiro nunca demonstraram interesse.  Este cenário encontra similaridade no basquete turco das décadas de 80/90, quando a modalidade ainda estava se desenvolvendo, a dupla Gala/Fener não dava muita atenção para a bola laranja e o Efes aproveitou para investir e desenvolver seu carisma. É claro que o basquete brasileiro possui uma história incomparavelmente mais rica que basquete turco, mas atualmente vivemos uma fase de reconstrução e com uma bela oportunidade de desenvolver uma base de fãs.

Segundo o @turbasket, o Efes começou a cair na graça dos torcedores quando ganhou a extinta Korac Cup, mesmo este torneio sendo considerado o terceiro na escala de importância da Europa (atrás da Euroliga e da Eurocup). Aqui é inevitável a comparação com o Pinheiros/Liga das Américas. Continuo insistindo: enquanto a competição latino-americana não for tratada com mais cuidado (organização, calendário, critérios para a participação e forma de disputa) os clubes irão capitalizar em cima dela muito menos do que poderiam.

Pinheiros faturou neste ano pela primeira vez o título da Liga das Américas. (Foto: Fiba Americas)

Pinheiros faturou neste ano pela primeira vez o título da Liga das Américas. (Foto: Fiba Americas)

Outro grande desafio do basquete brasileiro é conseguir voltar a ocupar espaço nos grandes centros. Nos últimos vinte anos a modalidade migrou para locais onde o futebol tem estado longe da elite (o Rio de Janeiro é a exceção que confirma a regra). Fortaleza e Goiânia são bons alentos, mas talvez as marcas do próprio futebol sejam cruciais neste aspecto. Na Turquia a modalidade se consolidou como a segunda em popularidade depois que a dupla Gala/Fener passou a investir pesado, o que fez a rivalidade ser transportada para as quadras e isto foi benéfico ao Efes. Para aqueles que são temerosos quanto à entrada de clubes do futebol no basquete, duas afirmações e uma pergunta: 1) Os últimos 12 campeões europeus são marcas com forte presença no futebol. 2) A liga europeia que mais sofreu declínio nos últimos tempos foi a italiana, que coincidentemente não possui tais marcas e; 3) A nossa “cultura esportiva “se assemelha mais a quem, Europa ou EUA?

E para encerrar, talvez o nosso maior desafio, que é achar e quantificar quem gosta mesmo de basquete, o que nos faz voltar à frase de Sinan Guler, que inicia este texto. Se na Turquia já foi provado que o verdadeiro fã de basquete existe, por aqui ele anda desaparecido.

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