Wlamir Marques – O Diabo Loiro
Talvez falte à história do basquete brasileiro o número de craques que o futebol nos deu, mas, pelo menos, quanto aos apelidos o esporte da bola laranja não deixa nada a dever ao esporte bretão. Basta ver a escalação dos times do XV de Piracicaba e do Corinthians na decisão do campeonato paulista de basquete de 1955.
Naquela época, o campeão do interior enfrentava o campeão da capital em uma série de três jogos. O XV, do jovem Wlamir, bateu o São Carlos Clube, se classificando para a grande final contra o então já poderoso time do Parque São Jorge (na era “pré-Wlamir” o Corinthians conquistou todos os paulistas entre 1950 e 1957). Na terceira e decisiva partida o time de Piracicaba entrou em quadra com o nosso querido Wlamir, Pecente (Pedro Vicente da Fonseca), Mané, PaulA Motta (José da Paula Motta, queria saber quem foi o sacana que resolveu chamá-lo apenas de PaulA Motta) e Buck (Milton Saliba). Zé Obinha (José Carlos Ometto) e Zé Côco (José Lázaro Coelho Renzi) eram alguns dos que compunham o banco do time do interior. O Coringão entrou em quadra com o lendário Angelim, Laerte, Peninha, Bifulco e Sinistro (fico imaginando como devia ser O SINISTRO).
A final do paulista de 1955 (com o Diabo Loiro, os Zés, o Paula Motta e o SINISTRO) é uma entre tantas histórias que Auri Malveira conta em seu livro sobre aquele loirinho de São Vicente que foi ainda adolescente morar sozinho em Piracicaba para se tornar um dos maiores jogadores do basquete brasileiro, “Wlamir Marques – O Diabo Loiro”, lançado pela Panda Books.
O livro abrange toda a carreira de Wlamir, desde a época em que se dividia entre natação, basquete, futebol e vôlei em São Vicente, até sua atual carreira como comentarista esportivo na ESPN. Voltando aos apelidos, descobrimos que além de Diabo Loiro e Disco Voador, Wlamir já foi chamado de Professor Pardal (porque era capaz de atrair a bola até as suas mãos) e Gastão (segundo seus companheiros de seleção, era um sortudo daqueles). Que, ainda em São Vicente, chegou a ser cogitado para ser goleiro do Santos. Que o próprio Pepe (aquele mesmo, que jogou num time fraquinho aí do Santos da década de 1960) costumava ver Wlamir jogar no Tumiaru. Que em sua primeira convocação para a seleção adulta tinha apenas 16 anos, e já em sua segunda partida pelo selecionado se tornaria titular. Também não faltam as histórias da relação nem sempre amistosa de Wlamir com o maluco do Kanela. Piracicaba, Corinthians, Seleção, Mundial, Olimpíadas, está tudo no livro.
Não dá para negar que Auri Malveira fez um ótimo levantamento histórico sobre a carreira de Wlamir, trazendo muitos detalhes desconhecidos pela maioria dos fãs. Tendo em vista que a bibliografia sobre basquete no país não é lá aquelas coisas, é uma publicação muito bem-vinda. Mas eu ainda não acredito que seja a biografia definitiva de Wlamir Marques. Senti falta de uma coisa, é mais uma sensação. É a sensação que sinto quando vejo uma entrevista de Wlamir falando de seu passado, aquela sensação de êxtase sobre um passado que só conheço por relatos e textos que leio. É um pensamento que surge: “Caramba, queria ter visto esse cabra jogar”. E é incrível que toda hora que Wlamir fala ou escreve, esse pensamento vem a minha mente. E de forma alguma isso é culpa do autor. Todo mundo sabe que Wlamir Marques mantém um blog na ESPN, muito bem escrito, por sinal. Não sei se é pretensão minha chegar a pensar nisso, mas eu adoraria ver o próprio Wlamir escrevendo sua história (como ele tem feito em seu blog). Afinal, tem todos os requisitos necessários: vivacidade impressionante, boa escrita e história. Uma longa e bela história. No entanto, essas minhas impressões não tiram a importância do lançamento. Recomendo.