Como lidar com o colapso financeiro no NBB?
Quem acompanhou a rodada dupla do NBB nesta sexta-feira pela TV pôde observar que os jogadores do Flamengo/Petrobrás entraram em quadra com uma camisa preta de protesto, pedindo respeito à diretoria do clube.
E pudera. Afinal, já são 4 meses de salários atrasados, o que cria uma situação insustentável para qualquer atleta, até mesmo os mais bem pagos.
De fato, o risco de extinção da equipe de basquete do Flamengo não parece ser uma hipótese descartável. Afundado em dívidas e em enorme crise política, a diretoria do clube prioriza nitidamente o futebol do clube.
E se engana quem pensa que a prioridade é por conta da maior rentabilidade da modalidade preferida do brasileiro. A rigor, o futebol do Flamengo é um dos maiores poços de dívidas do esporte brasileiro. E, ao invés de reduzir os custos do elenco, a diretoria não para de fazer contratações por um simples motivo: o futebol é o que garante a sobrevida política dos dirigentes.
A verdade é que o torcedor, de maneira geral, não se incomoda tanto com o fato de o clube estar se afundando cada vez mais em dívidas, bastando que o elenco do futebol seja competitivo. No ano passado, por exemplo, após uma série de derrotas no campeonato brasileiro, torcedores (criminosos) chegaram a jogar uma bomba nos jogadores. No entanto, apesar da crise interminável que ronda o clube, esses mesmos torcedores aplaudem a diretoria quando são anunciadas novas e caras contratações.
E o basquete rubro-negro? Esse só recebe os salários se sobrar algo do futebol (o que não acontece), apesar de gerar uma boa verba para o clube. Apenas neste primeiro semestre, a marca Petrobrás já foi exibida 10 vezes na TV fechada através do basquete do Flamengo (4 partidas do NBB, 3 partidas da Liga das Américas e mais 3 partidas da Liga Sul-Americana). É muito mais do que a imensa maioria dos clubes de futebol do Brasil.
No entanto, como não há autonomia financeira entre as modalidades do clube, os dirigentes usam toda a verba para o futebol, único esporte que, repita-se, garante a sustentação do poder.
E qual seria a solução para uma situação que pode causar danos irreparáveis ao basquete brasileiro? O amigo Fabio Balassiano propõe não apenas a greve dos jogadores do Flamengo, como também a recusa dos adversários de enfrentar a equipe.
O direito de greve é constitucional e os jogadores têm motivos mais do que suficientes para utilizá-lo. No entanto, ouso discordar do Bala em relação à segunda medida proposta.
A uma, porque infelizmente o Flamengo/Petrobrás não é a única equipe com seríssimos problemas de salários no NBB. O Saldanha da Gama, por exemplo, ao menos até alguns dias atrás, também estava com meses de salários atrasados. Não sei se a situação do time capixaba já foi regularizada, mas creio que se os jogadores não entrassem em quadra na partida da última quarta-feira seria muito mais em virtude dos seus próprios problemas do que pelo que se passa no Flamengo.
A duas, porque essas equipes dariam um tiro no próprio pé. Sejamos realistas, para a maioria dos times do NBB, jogar contra o Flamengo revela-se o grande momento de exposição na mídia. Em alguns casos, é até mesmo a única oportunidade de ter uma partida transmitida na TV. Tenho certeza que os diretores do Univates, por exemplo, não ficaram satisfeitos se os jogadores do Univates/Bira se recusassem a entrar na quadra contra o Flamengo.
A medida mais sensata da liga, ao meu ver, seria corrigir para as próximas temporadas a lamentável omissão da questão remuneratória no regulamento do NBB.
Deveria haver regras rígidas que coibissem os atrasos salariais. Aliás, defendo inclusive a utilização de um teto salarial para preservar o equilíbrio técnico da liga (interessa a todos) e evitar situações como a que passa no Flamengo e em outras equipes.
Obviamente, ao menos num primeiro momento, essa regra não poderia ser tão radical que não poderia ser cumprida. Diante da realidade da nossa economia e da instabilidade dos próprios patrocionadores, não adianta simplesmente prever que um clube será excluído da liga se atrasar um dia de salário. Seria letra morta.
Há no NBB equipes que possuem cerca de 40 patrocinadores cada, sendo impossível, de uma hora para outra, depender do pagamento pontual de cada um deles para manter-se no campeonato.
Já trabalhei com leis o tempo suficiente para aprender que uma lei ruim e que não pode ser cumprida consegue ser pior do que o vazio legal, pois acaba por desmoralizar todo o ordenamento. Assim, no caso da NBB, uma boa solução seria criar uma regra progressiva, a fim de que as equipes pudessem se adequar com o passar de 2 ou 3 anos.
Em 2010, por exemplo, poderia haver uma regra que impedisse o atraso por mais de 2 meses consecutivos. Em 2011, o prazo poderia cair para 1 mês e, no ano seguinte, quem sabe, limitar em alguns dias o atraso, punindo com a aplicação de multa.
Dessa forma, as equipes poderiam readequar os seus contratos de patrocínio, a fim de elas próprias poderem cobrar com mais eficiência a sua remuneração mensal (inserindo cláusulas prevendo pesadas multas para o atraso, por exemplo).
No caso específico do Flamengo, os dirigentes teriam que pensar várias vezes antes de utilizar a verba destinada ao basquete no futebol do clube e também na hora de montar um elenco sustentável.
Uma outra medida a ser discutida seria uma futura proibição ou, ao menos, limitação de verbas públicas no patrocínio das equipes, a fim de evitar-se times de aluguel formados com mero escopo político e, principalmente, afastar o NBB de brigas políticas como ocorre, por exemplo, com o time de Assis.
O que não é possível é a LNB manter as rédeas frouxas como estão. Afinal, não interessa ao basquete brasileiro que a questão salarial se torne um assunto mais importante do que o que acontece dentro das quadras.