O melhor às vezes não é o melhor: o Real Madrid na Euroliga
O basquete acaba por ter um diferencial em relação ao Futebol (e se formos fazer uma analogia com os Estados Unidos, também com o Futebol Americano): seus playoffs são disputados em “séries”. Ou seja: não existe um jogo único que decide o campeão do campeonato (como na Copa do Mundo ou no Super Bowl, respectivamente).
Alguns argumentam que esse esquema premia o melhor time – haja vista que quanto maior o espaço amostral, maior a chance de “um dia ruim” não contar tanto para o resultado final (porque se um time for bom, ele geralmente terá mais dias bons do que dias ruins). Com efeito, no longo prazo, a habilidade vence a sorte (ou o azar).
O oposto acontece na Euroliga de basquete. Ao contrário da NBA e da MLB – e em congruência com a Copa do Mundo – a Euroliga usa a partir das semi-finais um sistema parecido com a NCAA nos EUA: um final four que é decidido em um jogo único. Adivinhem o que aconteceu?
Calma, não vou colocar o carro na frente dos bois. Antes você tem que entender que ano passado (temporada 2012-2013) o Real Madrid teve uma temporada sólida. Não tão boa quanto a deste ano (a qual falaremos mais adiante) – mas, ainda sim, coesa. A equipe chegou à final do campeonato europeu de clubes passando pelo Tel Aviv e pelo arqui-rival Barcelona. Contudo, caiu ante o Olimpiakos na grande final – em jogo único, como falado acima – em Londres. A equipe grega – embora o país tenha considerável tradição no Basquete europeu – não era a favorita. Levou, contudo, seu tri-campeonato numa partida bastante disputada.
Fazia bastante tempo desde a última vez que a equipe merengue não chegava tão longe em competições europeias. Mais: fazia bastante tempo que a própria torcida não se empolgava tanto com a equipe. Acabou por ser um grande desapontamento na Espanha como um todo.
O melhor, às vezes, não é o melhor. É o ônus do sistema de Final Four com jogo único.
2014 começou diferente para a equipe. Como toda a história de um gigante que quase chega lá e toma um tombo, talvez a derrota para o Olimpiakos tenha sido o que a equipe madrilena precisava para vencer tudo neste ano. A equipe já não pipocou quando foi exigida novamente numa final – na Copa del Rey de Basquete, o equivalente do basquete à Copa del Rey do Futebol. O adversário, novamente, foi o Barcelona.
Mais: a equipe só perdeu uma partida na Euroliga – contra o CSKA de Moscou. A partida, aliás, foi fora de casa (e todos nós sabemos como é difícil para uma equipe de basquete vencer uma equipe forte fora de casa). No campeonato espanhol (a Liga Endesa), o Real Madrid não perdeu nenhuma partida ainda. Em outras palavras, agora vai?
Pode ser. Sergio Llull e Sergio Rodriguez estão tendo um desempenho fenomenal neste ano e chegaram a levar, sozinhos, à equipe a algumas importantes vitórias. É fácil dizer, portanto, que o Real tem um dos melhores elencos da Europa.
Contudo, só parece fácil. Ter o melhor elenco no papel às vezes não significa ter o troféu em casa. É como numa partida de poker: a sorte e o que adversário tem em mãos acaba por falar mais alto algumas vezes. Em outras palavras, você pode ter a melhor mão, mas dependendo do que seu adversário oferecer e o que a sorte lhe sorrir, você tem a chance de perder no último minuto (se você não entendeu a analogia veja aqui como se joga poker direitinho).
A questão que fica é essa: às vezes o melhor não leva. Saberemos se a resposta será justa – pelo elenco – ou se fica a cargo da emoção para o público – e nova zebra.