Três derrotas seguidas. Quantas derrotas mais serão necessárias para mudar algo ?
A Seleção Brasileira Sub-16 perdeu para a Venezuela, horas atrás, por 81 x 58.
Mais uma derrota na base, o que já criou uma rotina e se tornou normal.
Hoje, cavamos um pouco mais para baixo no poço que parece não ter fim, de tão fundo que está. Ao perder da Venezuela, chegamos à conclusão, mais uma vez, que existem erros graves no nosso sistema. Afinal, de quem mais falta perder ?!
Nesta década, provavelmente a pior da história do basquetebol nacional, conseguimos ficar em sétimo lugar em um Pré-Olímpico das Américas. Parecia que era o final dos tempos. Seguimos em frente não indo para os Jogos Olímpicos na década, o que se tornou natural. Afinal, a desculpa de que existe a Argentina, cola por aí, na beira das quadras do país.
Décimo-nono lugar no Mundial de 2006 ? Cereja do bolo para a crítica, que claro, está sempre errada em criticar e apontar os erros. E mesmo mostrando soluções práticas, é ridicularizada nos ginásios do país.
O fundo do poço em 2006, parecia ter ido até o final. Porém em 2007, conseguimos fazer um Pré-0límpico pra esquecer e ser eliminado pelo time B da Argentina. E perdemos duas vezes também para Porto Rico, seleção que muitos chamam de peladeiros por aí. O último lance do jogo contra Argentina, o bate-cabeça de Leandrinho e Nenê, com este querendo realizar um bloqueio direto, mostra nossa fragilidade, o quanto entendemos do jogo. Nossos ditos melhores jogadores, não conseguem concluir um bloqueio na bola ou resolver o jogo de uma forma mais adequada. Os críticos estavam errados.
O Mundial Juvenil de 2007 foi o único fato positivo e de fato relevante, nos últimos dez anos da modalidade no país. Conseguimos bons jogos e vitórias sofridas, como contra Austrália. Porém, esta passagem, fica cada vez mais claro, que foi a exceção que comprova a regra. A regra é que estamos indo na contra-mão do mundo do basquetebol. Se estamos na mesma mão, uns andam rápido nas mudanças, nós carregamos o peso das derrotas em várias competições.
Em 2008, disputamos dois torneios com o time adulto. No Sul-americano, tivemos dificuldades contra times do nível de Chile e Colômbia. Jogando com boa parte do que tinhamos de melhor nas quadras brasileiras, naquele momento, não conseguimos dominar times fraquíssimos. Foi triste ver o time B ou C, se virando na vontade, jogos contra estes selecionados limitados. Tivemos também mais uma eliminação importante. Perdemos da “vencível” Alemanha. Tomamos um festival de cestas de três pontos no torneio. Se não me engano, 11 delas foram para o Líbano, pasmem, que achou buracos na defesa brasileira e não perdoaram. Mas vencemos do Líbano, pelo menos. Porém contra Alemanha e Grécia, desafios de nível, mais uma vez jogamos mal. O último jogo, no intervalo já estava perdido. A derrota gerou revolta. Porém mais uma vez, os críticos estavam errados.
obs: Lembrando o coro frenético de revolta do “meio” do basquetebol quando Moncho Monsalve assumiu o comando da Seleção Brasileira Masculina. Muitos foram contra, uma vez que “temos vários técnicos que poderiam treinar a Seleção”. Mas veio Moncho, que ficará até o Mundial. Bom ou ruim, certo ou errado, só poderemos avaliar ao final da sua passagem.
2009 chega com esperança em algumas gerações. Sul-americana Juvenil e perdemos do Uruguai e da Argentina. Em 1998 vencemos pela última vez o Sul-americano Juvenil. Nesta década não vencemos o Sul-americano Juvenil. Algo que não tem precedente na nossa história. Viramos fregueses de argentinos, mais e uruguaios, menos, na base.
Porém, os críticos ainda estão errados.
Temos no torneio nacional um sopro de esperança por uma mudança. A primeira temporada nacional chega em sua série final e acompanhamos jogos com bom público, tivemos 16 mil pessoas na final em Brasília (é mais gente do que leva jogos da Seleção de Vôlei, para compararmos), ou seja, o povo gosta de basquetebol. Porém não o conhece, não tem acesso fácil aos clubes, as federações não tentam massaficar o jogo. As taxas são ridiculamente caras, o marketing nas federações quase não existe.
Mas tudo quando é criticado, é sempre dito que existe má intenção. Por que não falar de coisas boas ?! Sempre, sempre, o discurso é este.
Quando arremessamos 63 bolas de três em um final de brasileiro e 65 de dois pontos, as críticas acontecem, mas os críticos estão errados. Afinal, não treinam times, “que história tem no basquetebol para criticar”, ou seja, vivemos em uma realidade diferente então.
Porém, como pontos positivos (sim existem coisas positivas), tivemos 16 mil pessoas na final em Brasília. É mais gente do que leva jogos da Seleção de Volei, por exemplo.
Destes 16 mil, está uma mensagem de que podemos voltar a sermos grandes. Sermos potência. Temos no basquetebol uma modalidade ímpar. A emoção do final do jogo, vencer o tempo fazendo uma última bola do jogo, virando placar. Enfim, não faltam imagens poéticas ou não, para mostrarmos porque o basquetebol é apaixonante. Mas isso só vale se tivermos trabalho sério para colocarmos mais e mais gente jogando o jogo. Indo nas quadras, nos parques, nos aterros, nos clubes e terem nas mãos, a bola laranja.
Temos tempo para melhorar e temos porque de melhorar. Temos debates, temos gente séria trabalhando em todas as categorias, na imprensa, na direção de ligas e federações. Temos como resolver os problemas do basquetebol, porém sem resquicios dos vícios passados, com análise dos erros e reconhecimento de que hoje, não estamos bem.
Completamos três derrotas seguidas em um sub-16. Os críticos continuarão errados ? A realidade se choca com a ilusão, mais uma vez. Os críticos apontam os erros, buscam debates inteligentes, tentam deixar de lado as panelinhas, os velhos modismos do nosso jogo. Porém sempre estão errados ?
Vivemos na ilusão do que fomos no passado. Uma potência no basquetebol. A realidade dos resultados que acontecem, mais de uma década, não é pelo acaso. É pelo trabalho que estamos realizando.
Quantas derrotas mais serão necessárias para mudar algo no basquetebol ? Para quem falta perder para o sinal de alerta ser ligado ? Ou aliás, ser ouvido por muitos.
O que falta para chegarmos ao fundo do poço ?
Todas estas dúvidas passam na cabeça de quem gosta de basquetebol. De quem acompanha a modalidade. De quem gosta de ir no ginásio e ver um bom jogo, seja base ou adulto. São dúvidas de quem, infelizmente, é visto como crítico, como só fala mal do jogo.
Quando na verdade, o clamor de todos é pelo avanço do jogo. Os debates são pelo avanço do jogo e o principal, a crítica é para o sistema que estamos inseridos e como modifica-lo.
Hoje, a sensação é de que sepultamos mais uma geração. Mais uma geração que será alvo de críticas pesadas e algumas delas erradas (ao criticar atletas, que não tem culpa do que estão realizando). Mais uma geração nasce no Brasil e está fadada a ser lembrada da derrota para a Venezuela por mais de 20 pontos.
Hoje, a sensação é de que os críticos não estão errados. Mas eles nunca são ouvidos. Afinal, que história eles tem no basquetebol ? O fato é que eles não perdem campeonatos e nem treinam adolescentes que amam o jogo. Os críticos mais uma vez, estarão errados.