No topo do basquete brasileiro
O título
Um título que valeu por dois. Essa deve ter sido a sensação dos jogadores do Flamengo depois da vitória por 76 x 68 sobre o Universo/BRB.
Afinal, o alto do pódio na 1ª edição do NBB, mais do que uma conquista, significa a ratificação do título do nacional de 2008, e consequentemente, a consolidação do rubro-negro no topo do basquete nacional.
De fato, se havia dúvida a respeito do nível enfrentado no ano passado, por causa da não participação das equipes paulistas no último campeonato, essas se dissipou com a mais nova conquista rubro-negra.
Por outro lado, o título de 2009 representa também o ineditismo, pois é mesmo impossível comparar os dois últimos campeonatos nacionais de basquete. Se tecnicamente não houve muitas mudanças dentro das quadras, fora delas, a transformação foi muito positiva. Ir ao ginásio acompanhar uma partida de basquete voltou a ser um programão para os brasileiros. E ganhar um título nessa “nova era” deve sim ter um sabor especial…
O jogo
Na quinta e decisiva partida, a tensão pré-existente entre as duas equipes ficou evidente desde que a bola subiu. para cada uma das 15.430 pessoas que acompanharam a partida na HSBC Arena.
Hoje, contudo, essa tensão foi extrapolada pelos jogadores com menos de 2 minutos de basquete jogado. Após uma largada de braço desnecessária de Cipriano em Marcelinho, Baby resolveu partir para cima do pivô de Brasília. Cipriano, não deixou barato e “isolou” o ala Marcelinho.
O ambiente era caótico e, por isso, ouso discordar dos comentários da televisão, no sentido de que a arbitragem não soube lidar bem com a situação, excluindo Rafael Araújo e Márcio Cipriano da partida.
Se é verdade que a arbitragem cometeu excessos ao longo de toda a fase playoffs, também não se pode negar a existência de um limite razoável para a atitude dos atletas dentro de quadra. E, naquele caso, creio que os jogadores seriam excluídos pelos juízes em qualquer liga séria.
Se é uma pena ver dois jogadores titulares fora da decisão com tão pouco tempo de jogo, a culpa pelo fato deve recair sobre os próprios e não sobre os árbitros.
Aliás, excessos de jogadores e técnicos é um problema tão sério no basquete brasileiro quanto as más arbitragens. Por exemplo, a (justa) expulsão de Rafael Araújo aparentemente só foi ordenada após o escândalo promovido por Alex. Em seguida, foi a vez de Marcelinho armar um barraco para reclamar da nova decisão do juiz.
Lula Ferreira reclamou insistentemente durante todos os 40 minutos da decisão – na maior parte das vezes, em qualquer fundamento, enquanto membros da comissão técnica rubro-negra só faltaram agredir o delegado da partida após uma anotação mal feita.
No sábado, escrevi que o clima tumultuado favorecia mais os brasilienses, mas não foi o que se viu nesta decisão.
Embora os nomes envolvidos sugiram o contrário, acredito que a exclusão de Cipriano e Baby acabou favorecendo mais a equipe carioca. É que o garrafão vinha sendo um dos maiores destaques da equipe do Universo/BRB nesta série e justamente um dos pontos fracos do Flamengo.
E quando os demais pivôs de Brasília começaram a sofrer com o excesso de faltas e com o (des)temperamento de Mineiro, o time de Lula Ferreira perdeu boa parte da sua produção ofensiva. De quebra, trouxe para dentro do garrafão Jefferson William, ala/pivô do Flamengo que em geral se destaca mais atuando no perímetro.
Marcelinho, por sua vez, novamente pouco inspirado nos arremessos de fora, aproveitou-se da ausência dos dois “maiores” e mais truculentos jogadores do confronto para explorar muito bem as jogadas no interior.
Pelo time do Universo, Alex tentou valer-se da mesma fórmula, mas parecia estar mais focado na arbitragem e nos (corpos) adversários do que propriamente na cesta.
Aliás, o único jogador de Brasília que teve uma participação realmente destacável na grande decisão foi Diego. Dono de um estilo de jogo peladeiro que falha mais do que funciona, o ala estava num “dia sim”, causando apreensão nos torcedores rubro-negros.
Esses torcedores sofreram também com os lance-livres desperdiçados por Fernando Coloneze e Wagner. Em nove tentativas, todas no primeiro tempo, apenas uma atingiu o seu objetivo. Aliás, Coloneze, que tantou se mostrou incomodado com a falta de tempo de jogo, teve uma oportunidade de ouro neste domingo, mas não soube aproveitar. Até o enferrujado Alírio acabou sendo mais produtivo…
Duda alternou ótimos e maus momentos, os primeiros quando optou pelas infiltrações e/ou passes, os últimos, quando optou pelo seu “pouco provável” arremesso da linha de 3 pontos.
Chamou a atenção o número absurdo de erros cometidos pelos brasilienses (24), muito dos quais sequer foram forçados pela defesa rubro-negra. Além disso, o time de Lula Ferreira permitiu 17 rebotes ofensivos aos adversários.
O destaque no momento final
Embora Marcelinho Machado mereça o título de MVP da final, pela regularidade apresentada durante todo os 40 minutos da decisão, sendo figura determinante para que o Flamengo mantivesse sempre uma pequena liderança no placar, acredito que nenhum jogador foi mais decisivo do que Jefferson William.
Como ocorreu durante todo o campeonato, o ala/pivô começou a partida de forma apagada, sendo pouco acionado.
No entanto, nos minutos derradeiros, encontrou buracos no garrafão do Universo/BRB, apanhando rebotes ofensivos e acertando pelo menos 3 bandejas decisivas, duas delas nos últimos 3 minutos do jogo. Foi exatamente quando o Flamengo transformou uma vantagem que teimava em não passar da casa dos 3 pontos em confortáveis 6 pontos.
E é exatamente por causa desse fator que os norte-americanos costumam chamar de “clutch” e por sua versatilidade, que Jefferson William acabou superando, a meu ver, o badalado pivô Rafael Araújo, como a melhor contratação rubro-negra da temporada.
A festa da torcida e o grande palco
A participação das torcidas foi o verdadeiro ponto forte da 1ª edição do NBB. Bastou um pouco de organização para que ficasse para trás o estigma de que o brasileiro não gosta mais de basquete.
Muito pelo contrário, o NBB 2009 revelou um público ainda apaixonado pela modalidade, disposto a assistir até mesmo partidas de baixo nível técnico. Não fosse assim, o que levaria o campeonato a ter médias de público superiores aos jogos de vôlei no Brasil, estrelados por medalhistas olímpicos?
Ginásios cheios em Joinville, Bauru, Limeira, Brasília e em todas as outras cidades marcaram essa nova fase do basquete brasileiro e caberá aos dirigentes da LNB cuidar com carinho desse “amor resgatado”.
E o campeonato não poderia ter sido fechado de outra forma, com o encontro da maior torcida com a melhor e mais moderna arena esportiva do país. Bandeirões, coreografias, mosaicos, cantos, tudo isso deu um toque especial a um ambiente que já não precisa de muitos enfeites para impressionar, a HSBC Arena.
Espera-se que essa obra realizada através de recursos públicos de agora em diante seja constantemente utilizada pelo basquete, não apenas do Flamengo, mas de qualquer outro clube carioca que assim deseje.