Oportunidade Lusofônica
Para a seleção brasileira de basquete, é provável que os II Jogos da Lusofonia não tenham tanta valia. Afinal, Moncho Monsalve praticamente reservou 11 ou 12 vagas para a Copa América, sobrando poucas vagas a serem disputadas pela “seleção B”. No entanto, o torneio poderia ser uma oportunidade única para os clubes que disputam o NBB.
O nível da competição, é verdade, não é dos melhores. Equipes como São Tomé e Príncipe, Moçambique, Macau e Guiné Bissau dificilmente revelarão algum talento.
Não é o caso, todavia, das seleções de Portugal, Angola e Cabo Verde, principalmente das duas primeiras.
Ao contrário do que se possa imaginar, o basquete português e o angolano não estão num nível tão distante daquele jogado no país, principalmente depois da nossa abrupta queda sofrida nos últimos 10 anos.
Portugal carrega o fardo de pertencer ao continente com o maior número de países competitivos no basquete. O resultado é que a seleção portuguesa jamais conseguiu se classificar para um Campeonato Mundial ou para uma edição de Jogos Olímpicos. Por outro lado, em 2007, os portugueses romperam um jejum de 56 anos, classificando-se para a principal divisão do Campeonato Europeu (neste ano, Portugal disputará a fase classificatória da 1ª divisão da competição continental).
A seleção da Angola, por outro lado, sem grandes adversários na África, é figura frequente nas principais competições de basquete do mundo. Disputou as últimas 5 Olimpíadas e os últimos 2 Campeonatos Mundiais.
No último Mundial (Japão 2006), Angola foi considerada a maior surpresa da competição, ao vencer 3 jogos na fase de classificação (Panamá, Japão e Nova Zelândia) e causar problema para 3 poderosas seleções: Espanha (83 x 93), Alemanha (103 x 108, após 3 prorrogações) e França (62 x 68, nas oitavas-de-finais). Terminou a competição na 10ª colocação, bem à frente da seleção brasileira (19ª colocação).
Cabo Verde possui uma história no basquete infinitamente mais modesta, mas obteve bons resultados recentemente nas competições africanas, classificando-se, por exemplo, para o último Campeonato Pré-Olímpico Mundial, disputado em Atenas.
E o qual a importância dessas seleções para a LNB? A possibilidade de abrir um mercado internacional praticamente inexplorado para os times brasileiros.
Ora, o regulamento para a próxima temporada do NBB permitirá a presença de até 3 jogadores estrangeiros em cada equipe. Na última temporada, é verdade, até pela correria para o campeonato sair do papel e pela falta de recursos das equipes, poucos estrangeiros foram contratados.
E o pequeno mercado brasileiro para jogadores estrangeiros tem uma enorme fixação pelos jogadores norte-americanos. O problema é que diante da escassez de verba, os norte-americanos que acabam no Brasil em geral são de quinta categoria e, em alguns casos, representam um péssimo investimento para as equipes (vide a contratação do pivô Sylvester Morgan pelo Vivo/Franca).
Assim, por que não explorar o mercado dos países lusofônicos? Certamente não falamos aqui de salários astronômicos.
Dos 15 jogadores convocados para a seleção portuguesa, por exemplo, apenas 3 atuam fora de Portugal e, ainda assim, 1 deles joga numa equipe modesta da 2ª divisão francesa, outro atua na 3ª divisão espanhola e o último integra o elenco do lanterna da 4ª divisão da Espanha.
Na Angola, a possibilidade de se encontrar uma barganha é ainda maior. Dos 18 convocados pelo técnico Luis Magalhães, apenas 1 atua no exterior (NCAA). Os outros 17 espalham-se em apenas 4 equipes angolanas (a primeira divisão do país conta com apenas 6 equipes). Há jogadores já conhecidos pelos basqueteiros brasileiros como os bons arremessadores Eduardo Mingas e Olimpio Cipriano, além do ala/pivô Joaquim Gomes.
Cabo Verde, por mais incrível que possa parecer, dentre as 3 citadas, é a seleção que mais exporta jogadores, até pelo pequeno tamanho do arquipélago. Há algum tempo, os dirigentes locais tentam convencer Ryan Gomes (Minnesota Timberwolves), descendente de nacionais de Cabo Verde, a atuar pelo país.
Além do preço mais acessível, há uma indiscutível e óbvia vantagem em contratar atletas lusofônicos: a língua. Sem problemas de comunicação com técnico e demais atletas e considerando a proximidade cultural, a adaptação de um atleta de um país lusofônico, ao menos em tese, é muito mais simples do que um norte-americano, por exemplo.
Além disso, os problemas burocráticos na contratação de jogadores estrangeiros (o Brasil vale-se do Princípio da Reciprocidade para tornar um inferno a concessão de visto de trabalho para jogadores nascidos nos EUA, o que sempre demanda tempo e paciência) são infinitamente inferiores no caso de atletas lusofônicos, em virtude dos inúmeros tratados internacionais e, principalmente, do estímulo constitucional (art. 12 da Constituição Federal).
Para clubes com poucos recursos, técnicos e financeiros, uma viagem de alguns dias para Portugal pode se revelar um bom investimento. É melhor do que ficar em casa assistindo DVDs de atletas…