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Uma das imagens mais eternizadas e famosas do ala-pivô do San Antonio Spurs, Tim Duncan, é aquela em que ele está abraçando uma bola, espiando o infinito com seus os olhos acima dos cotovelos. Ou então aquela em que cumprimenta um dos seus companheiros de equipe com a palma de sua mão na cabeça, como por exemplo, a de Tony Parker após mais uma bela assistência.
Estas são as imagens marcantes de uma carreira lendária. Momentos gravados na mente dos torcedores que nunca conheceram a NBA sem ele. Gerações de fanáticos que celebravam cada um dos seus arremessos com ajuda da tabela ou dos seus posicionamentos para pegar um rebote.
Duncan levou os Spurs ao melhor aproveitamento de vitórias nos esportes profissionais norte-americanos nas últimas 2 décadas. Mas nesta 2ª feira (dia 11/07), ele decidiu parar.
Quando um jovem vindo de St. Croix, a maior das ilhas do arquipélago das Ilhas Virgens Americanas, se juntou aos Spurs como a 1ª escolha geral no Draft de 1997, uma franquia, uma cidade e um esporte foram transformados para sempre. Os momentos foram tão consistentes, automáticos, que duraram juntos 1.392 jogos, dos quais 1.001 vitoriosos.
Ele possuía os fundamentos e a visão que o fizeram ser o 14º maior cestinha da história da liga na carreira (26.496 pontos), o 6º maior reboteiro em todos os tempos (15.091 rebotes) e o 5º maior bloqueador de arremessos (3.020 tocos) na carreira. Duncan e o lendário Kareem Abdul-Jabbar são os únicos jogadores que alcançaram estas marcas.
Com Duncan, os Spurs chegaram aos playoffs em cada uma de suas 19 temporadas e venceram 50 ou mais partidas nas últimas 17 temporadas, a maior sequência da história da NBA.
Ele jogou ao lado de 138 companheiros de equipe e foi treinado por apenas um técnico em sua carreira. Depois de cada jogo, Duncan era o último a entrar pelo túnel de acesso aos vestiários, sempre à espera da saída de sua equipe.
O francês Tony Parker distribuiu 1.533 assistências para 10.285 cestas na carreira de Duncan, mais do que qualquer outro jogador. Parker, Duncan e o argentino Manu Ginobili formaram um trio que encantou aquela torcida vestida de preto e prata. A liderança fiel de Duncan, o toque europeu de Parker e a energia emocionante do Ginobili somaram 575 vitórias em temporada regular e 126 nos playoffs, ambos recordes da NBA para um trio.
Duncan foi eleito por 2 vezes o MVP da NBA, disputou 15 partidas de All-Star Game, foi escolhido por 15 vezes para o quinteto ideal (All-NBA 1st Team) e para o quinteto defensivo (All-NBA Defensive Team). Ele detém os recordes de pontos, tocos e rebotes dos Spurs.
No entanto, com todos essas condecorações, a maioria dos adjetivos associados a Duncan falam, ao invés disso, dos seus relacionamentos e do seu caráter.
A postura tranquila e a natureza humilde de Duncan pode ter alguma relação com isso. Para alguém que carregaria a sua equipe sempre que convocado, Duncan passou a maior parte de sua carreira elogiando seus companheiros de equipe. Duncan deve ter “acariciado” as cabeças dos companheiros mais do que qualquer outro jogador na história.
Ele sorriu quando veteranos David Robinson, Kevin Willis e Michael Finley levataram o troféu Larry O’Brien pela 1ª vez. Ele ficou orgulhoso de dividir o vestiário no All-Star Game com Parker e Ginobili, e ver Parker e Kawhi Leonard receber seus prêmios de MVP das finais da NBA.
O técnico Gregg Popovich e Duncan começaram a construir uma confiança mútua logo após ele ter sido ‘draftado‘, quando Pop foi para a terra natal de Duncan se encontrar com o seu mais novo jogador por alguns dias. Eles nadaram e conversaram sobre a vida ao invés de basquete.
A relação entre eles se refere como uma espécie de casamento e abertura de Duncan para ser treinado estabeleceu um padrão para o restante da equipe. O tratamento para ser um astro em San Antonio significava ouvir Popovich.
Ambos sempre estiveram juntos em todas as 1.001 vitórias de temporada regular de Duncan. Nenhuma outra dupla formada por jogador/treinador ganhou mais do que 775 partidas juntos.
Duncan é um homem de rotina. A mais emblemática delas é seu ritual de abraçar uma bola de basquete ante de cada partida.
Só ele sabe o ritmo e a razão da forma como ele se pendura no aro durante as introduções de cada jogador ou tira a sua jaqueta de aquecimento de uma forma particular. Mas ele é excepcionalmente consistente na rotina e nos resultados.
Seus fundamentos são tão admirados que um vídeo no YouTube contendo uma seleção dos arremessos de Duncan com o auxílio da tabela tem aproximadamente 500.000 visualizações. Mas a marca da longevidade de Duncan se deve da maneira como ele mudou seu estilo ao longo de sua carreira.
Ele continuou acrescentando peças ao seu repertório, com seu trabalho de pés ou suas reposições de bola. Ele mudou seu regime entre as temporadas para prolongar sua carreira. O resultado foi o 5º título da NBA em 2013/2014, sua 17ª temporada e um triunfo depois da derrota na final da NBA no ano anterior.
Duncan evoluiu com o jogo e seu impacto nunca gerou nenhuma incerteza. Ele produziu médias de, pelo menos, 10,5 rebotes por 36 minutos em todas as suas 19 temporadas e, pelo menos, 17,1 pontos por 36 minutos nas 18 primeiras temporadas.
Em 2014/2015, aos 38 anos de idade, Duncan registrou 13,9 pontos e 9,1 rebotes por partida se tornando o mais velho jogador a ser nomeado para o quinteto ideal da NBA em 29 anos.
Quando Duncan completou 40 anos de idade na temporada 2015/2016, os Spurs sofreram 93,8 pontos para cada 100 posses de bola enquanto ele esteve em quadra, a menor marca por qualquer jogador na liga. Duncan ajudou os Spurs a estabelecer uma campanha de 67-15 na temporada – um recorde na franquia.
Esta foi a conclusão de uma carreira defendendo as cores preto e prata, que começou no dia 31/10/1997, quando ele produziu 15 pontos e 10 rebotes naquela noite em Denver, o 1º dos seus 840 ‘double-doubles‘ na carreira (relembre no vídeo a seguir). Duncan também registrou outros 164 ‘double-doubles‘ nos playoffs, um recorde na NBA.
Sua jornada começou vencendo o prêmio de novato do ano em 1997/1998 e o título da NBA em sua 2ª temporada. Os Spurs tiveram dificuldades no início de 1999, quando começaram com uma campanha de 6-8 durante a temporada encurtada devido ao ‘lockout‘. E então Duncan tomou as rédeas da equipe. Ele liderou os Spurs a vencer 31 dos próximos 36 jogos até o fim da temporada regular e então registrar uma campanha de 15-2 nos playoffs.
Isso foi há 17 anos. Duncan surgiu como uma força dominante na liga, ganhando 2 prêmios de MVP seguidos em 2002 e 2003.
Sobrevivendo a batalhas épicas contra Kobe, Shaq e o Los Angeles Lakers, Duncan levou os Spurs de volta às finais em 2003 para enfrentar o New Jersey Nets. Em uma das maiores atuações em uma partida que decidiu o título, Duncan estabeleceu 21 pontos, 20 rebotes, 10 assistências e 8 tocos no jogo 6. E também proporcionou a David Robinson o desfecho de conto de fadas em sua última temporada.
Os Spurs ganharam o 3º título em 2005, derrotando os atuais campeões, o Detroit Pistons em 7 jogos. Duncan acabou anotando 17 dos seus 25 pontos no 2º tempo do jogo 7.
Ao lado de Michael Jordan, Magic Johnson, Shaquille O’Neal e LeBron James, Duncan são os únicos jogadores a conquistar o prêmio de MVP das Finais em 3 ocasiões.
Seu sentimento soou verdadeiro nos próximos 2 títulos, quando Duncan comemorou junto com Parker e Leonard, os prêmios de MVP das Finais em 2007 e 2014.
Líder em minutos disputados nos playoffs em toda a história da NBA (um total de 9.370), a média de pontos de Duncan aumentou nos playoffs a cada temporada regular em 10 das últimas 12. Duelos contra o Los Angeles Lakers de Kobe & Shaq, o Dallas Mavericks de Dirk Nowitzki, o Phoenix Suns de Steve Nash, o Cleveland Cavaliers de LeBron James e o Miami Heat cimentaram o legado de Duncan através de uma série de fintas sobre os marcadores, dos arremessos de média distância e de uma cesta de 3 pontos restando 3 segundos para o fim da prorrogação contra o Phoenix.
Duncan disputou 251 partidas de playoffs em sua carreira – mais de 3 temporadas regulares completas – repletas de rivalidades e memórias incríveis.
Seus joelhos cansados já não eram mais os mesmos e Duncan conseguiu conquistar um título da NBA em 3 décadas separadas. Os Spurs se transformaram como uma equipe que venceu uma partida acirrada e decisiva por 78X77 sobre o New York Knicks em 1999 ao “jogo bonito” contra o Miami Heat em 2014.
Duncan passou de um fenômeno de 23 anos de idade, comemorando com os veteranos em 1999 para um campeão com 38 anos de idade, segurando seus 2 filhos no Dia dos Pais em 2014.
Duncan foi a inspiração para milhares de crianças e animais de estimação que receberam o nome de “Tim” ou “Duncan”, para milhões de moradores de San Antonio e levou alegria para mães e filhas, pais e filhos que ele reuniu na apaixonante torcida de preto e prata por 19 anos.
Todos têm guardado lembranças de Duncan abraçando a bola ou seus companheiros de equipe. E como não podemos esquecer, tivemos a sorte o bastante de vê-lo em quadra inúmeras vezes. E talvez, quem mais vai sentir a sua falta, seremos nós – não os fãs – mas sim as bolas de basquete.
19 temporadas. 5 títulos. 1 time. O único integrante deste clube foi Tim Duncan. Obrigado por tudo.
#ThankYouTD, for everything.https://t.co/tsjN4go8Rk
— San Antonio Spurs (@spurs) 11 de julho de 2016