Moncho não está certo (nem errado) no corte de Fúlvio

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Publicado em: 15/08/2009

Quando Rodrigo Alves avisou no twitter do Rebote que, entre Duda, Diego e Fúlvio restariam dois e questionou sobre quem cada um escolheria, lhe respondi com uma nova pergunta: você quer morrer enforcado ou na cadeira elétrica?

Como avisou Henrique, em texto aqui publicado, não foi ontem que se definiu que não teríamos mais de um armador na competição. Henrique lembra que isso ocorreu quando saiu a lista da seleção principal durante os Jogos da Lusofonia. Tenho a impressão que podemos dar um passo atrás ainda para entender a ausência de armadores selecionáveis.

Convido os leitores a retomarem dois artigos fundamentais pra discussão desse tema, ambos escritos há cerca de um ano: em setembro de 2008, neste espaço, Raoni Moretto avisava que tínhamos apenas dois jogadores de bom nível na posição: Huertas e Valtinho, e pontuava, através dos critérios que estabeleceu, o motivo pelo qual somente ambos têm características para atuar em alto nível em uma competição internacional. O Prof. José Marinho, ainda antes, salvou Helinho, mas em artigo que tenta entender o porquê não conseguimos desenvolver os talentos aqui no basquete nacional, também menciona o problema na armação brasileira, a partir da evolução técnica e tática de Huertas.

Sabemos, não só nós, mas todos que militam no basquete, que o problema é antigo. Tanto que, assim que saiu aquele primeiro listão do Moncho, promovemos a enquete que ainda hoje vigora em nosso site, sobre quem deveria ocupar a vaga no banco da posição número um da seleção. Me parecia, até ontem, unânime que nem Duda nem Fúlvio eram os nomes indicados para essa posição. Talvez por isso, sempre me pareceu absolutamente esquizofrênico gritar contra Moncho por este corte. O corte não pode suscitar nada além do debate que já era previsto há mais de um ano. Aos que reclamam desta ação em específico do treinador espanhol, lanço a pergunta: teria Fúlvio desenvolvido, na calada da noite, surto de alguma experiência ousada de nosso departamento fisiológico, características de um grande jogador? As informações que chegam de quem acompanhou os treinos e as minhas observações no Super 4 argentino não deixam a menor dúvida de que, além de continuar jogando o seu já conhecido basquete, Fúlvio está MUITO longe do seu auge técnico e físico.

Seria possível evitar que chegássemos a um abismo cantado em verso e prosa de maneira tão adiantada? Sim e não. Obviamente que para termos uma fartura na posição um, como tem, por exemplo, a Espanha (Calderón, Rubio, Lopez, Llull, Cabezas, etc), só com um trabalho a longuíssimo prazo, planejamento, revisão dos conceitos na base e uma boa dose de sorte (um exemplo para a necessidade deste último fator é a Argentina que não deixa a desejar na formação de atletas e também padece na posição). Agora certamente não precisaríamos passar pelo extremo de viajar com apenas um jogador efetivo para o posto.

Como isso poderia ser evitado? Também aqui tenho a impressão que há dois caminhos complementares: o primeiro, seria rejeitar a fracassada percepção da constante renovação de nossos plantéis. Alguns veteranos têm qualidade para jogar poucos minutos em alto nível. Rogério, Helinho, Ratto, por exemplo, poderiam ajudar mais em competições anteriores e sequer foram mencionados. Dos citados, acho que o armador francano ainda teria como colaborar muito mais do que Fúlvio e Duda. Mas esse, ao meu ver, é um erro menor.

O maior é não contar com Valtinho. Sei que os Policarpos Quaresmas de plantão vão se irritar ao saber que não faz parte dos planos do armador do Universo jogar pela seleção. O atleta acaba de ter um segundo filho, acompanhou a ausência coletiva no Pré-Olímpico Mundial do ano passado quando, especula-se, não deu qualquer explicação a Moncho Monsalve. Outros ainda podem lembrar que ele jogou muito longe do alto nível nas finais do NBB, sendo, algumas vezes – outras nem tanto, presa fácil para a dupla de armadores do Flamengo, Hélio e Fred. Dito isso tudo, há poucos meses, Valtinho liderou o time brasiliense a uma conquista fantástica na Liga das Américas (competição de nível não tão longe do que a Copa América que será disputada neste mês), merecendo até o título de MVP das Finais no México – ao menos na minha opinião, já que o título oficial foi de Alex. Uma seleção que lamenta o corte de Fúlvio pode mesmo prescindir de um craque como Valtinho? Por isso acho que, se nos planos de Moncho estiveram uma excursão aos EUA e visita aos jogadores nos clubes europeus, ele deveria fazer o mesmo nas terras brasileiras e tentar agregar ao grupo o jogador. Não tenho informações de que ele tenha sequer tentado isso. Se alguém me disser que sim, houve essa tentativa, retiro a crítica, a principal, aliás, que dirijo ao treinador ao longo desse texto.

Assim como Henrique e o professor Paulo Murilo, também acredito nas vantagens que a dupla armação proporciona. Mas alguém realmente acredita que Fúlvio, ao lado de Huertas, poderia colaborar para que isso acontecesse? Alguém se recorda de como ele reagiu à marcação quadra toda da Grécia no Pré-Olímpico Mundial ano passado? Não precisamos ir tão longe. Quem acompanhou o Super 4 em Rosário o viu cometer cinco desperdícios de posse de bola em menos de cinco minutos, no início da partida contra a Argentina. A única diferença dele para Duda e Diego é a alcunha de armador, título que de maneira alguma faz jus quando entra em quadra (o atleta prefere muito mais o ataque do que a armação). Acredito, ousando respeitosamente a discordar, que esteja havendo uma inversão de sujeito e predicado: uma equipe deve ser montada a partir das qualidades dos jogadores disponíveis. Um sistema não pode vir antes do que a característica dos jogadores que temos e, como sabemos, não temos material humano para acompanhar essa dinâmica da dupla armação que hoje tem se mostrado tão bem recebida por equipes de alto nível ao redor do globo.

Quanto ao corte, o ideal é que nenhum dos três fosse a Porto Rico. Nem Fúlvio, nem Duda, nem Diego têm nível técnico para jogar em alto nível internacional. Era melhor ter dado a vaga a dois pivôs, ou a dois jovens, ou a dois conselheiros para justificarem os salários que parece que vão receber a partir da reforma estatutária da CBB. Ou que inscrevêssemos apenas 10 jogadores. De qualquer maneira, Moncho não fez nada demais no corte de ontem. Se ele merece críticas, jamais deve ser pelo corte de Fúlvio.

Guilherme Tadeu de Paula

Editor do Draft Brasil

guilhermetadeudepaula@gmail.com

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