As pequenas vitórias de um grande resultado
Nós temos ao longo de nossos cinco anos uma recente porém recheada folha corrida de críticas ácidas e pesadas em relação às seleções brasileiras. Não por acaso, todas elas. Não seria honesto com nossos leitores pregar que esse foi um resultado comum, corriqueiro, obrigatório. O Brasil jogou bem contra a Argentina e venceu por 9 pontos (embora tenha controlado o ritmo de toda a partida), um grande resultado.
Digam o que quiser, e enumerem todas as ausências, o time argentino jogou uma partida de alto nível, cadenciando o ritmo, tentando ditar o seu estilo e sobrepor o seu padrão ao brasileiro. Não foi, nem de perto, o apático time dos amistosos ou da estréia contra a Venezuela. Estiveram em quadra boa parte dos jogadores que acabaram de conquistar o bronze olímpico em Atenas: Prigioni, Scola, Léo Gutierrez, Paolo Quinteros, Román González, Federico Kammerichs.
Não sou apenas eu quem penso assim. O site especializado argentino Basquet Plus, por exemplo, celebra uma mudança de atitude, de organização e de defesa, apesar da derrota.
Ao meu ver, a história do grande resultado passa por entender algumas pequenas vitórias ao longo da partida.
A rotação curta
Moncho manteve a rotação curta para os jogos difíceis. Com a impossibilidade de contar com Marcelinho por mais tempo, trazer mais um pra rotação? Nada! Enxugamos ainda mais. Basicamente com seis jogadores, o Brasil venceu a Argentina. Provavelmente não venceria se envolvesse outros jogadores. Apenas um grupo muito pequeno de jogadores brasileiros estão acostumados com partidas na intensidade da que foi jogada esta tarde. A comissão técnica soube entender isso. A receita é simples: nos jogos mais tranquilos, todos jogam e até vão bem, dão conta do recado. Nos jogos de alto nível, contamos com sete atletas.
Alex no Prigioni
A questão de ritmo/volume de jogo foi decidida antes do jogo, quando ficou definido que Alex faria a marcação individual em Prigioni. Logo que iniciou a partida, Alex mandou um de seus frangos voadores irritantes, o que nos fez temer pelo pior. A partir dali, foi um gigante. Uma pena que muita gente preferisse pontos. Ao meu ver, Alex foi um dos principais, se não o maior, fator decisivo para o triunfo brasileiro. Com muito mais leitura defensiva para sair de bloqueios, desgastou Prigioni que simplesmente não jogou. A tão aclamada dupla-armação (motivo pelo qual teve gente que criticou o corte de Fúlvio!!!) tentou ser a saída argentina com Cantero e Prigioni jogando juntos. Mas como Cantero não tem qualidade na armação (tem um bom chute de longa distância e nada mais), a Argentina simplesmente não teve resposta. Na defesa, não deixou Kammerichs se aproveitar do matchup fisicamente favorável.
Leandrinho
Leandrinho não é Manu Ginóbili. Quando encararmos que ele não será o ala que vai promover as ações ofensivas nos momentos chave, ou o controle cerebral do ritmo de jogo e aceitarmos que ele é um pontuador nato, passaremos a admirá-lo como o craque que é. Leandrinho é um pontuador formidável, é o jogador mais veloz do mundo. Tem absurdas dificuldades em jogar no cinco contra cinco por motivos óbvios: não exerce esse tipo de jogo desde os tempos de Bauru. Dito isso, fez o que espera dele: pontuou e desafogou. Quando a vantagem caiu pra cinco, meteu uma bola de três que fechou a porta.
Contra a arbitragem
Diferente das outras partidas em que o Brasil teve uma arbitragem, por assim dizer, mais camarada, hoje o cenário foi totalmente invertido. Se os juízes não prejudicaram o Brasil diretamente, no mínimo, abusaram do direito de errar. É verdade que a quinta falta de Scola foi cavada, mas ela veio em um momento em que a arbitragem apitou pelo menos quatro marcações que poderiam ser pró-Brasil, todas para os argentinos. O time, muito diferente de jornadas anteriores, se mostrou controlado e seguro, uma novidade pra lá de bem-vinda.
Acrescentando ao jogo
Guilherme não vai ser um bom marcador de garrãfo. Ainda assim, o que é necessário, quando ele entre, é que ele acrescente algo de diferente ao jogo brasileiro para que, no descanso de Splitter ou Anderson, possamos sobreviver na partida. E hoje ele trouxe os arremessos de três pontos, que em amistosos já haviam saído, mas que na Copa América ainda estavam enroscados. Se ontem pontuei que Olivinha poderia roubar a sua vaga, meu xará hoje mostrou que ainda pode ajudar de alguma maneira.
Marcelinho Huertas e Anderson
Foram os dois grandes nomes da partida. O primeiro dominou o ritmo da partida sem comprometer na defesa de perímetro (não tenho dúvidas que jamais defenderia os pick´n roll argentinos tão bem se fosse o encarregado da defesa de Prigioni). Os torcedores da espanhola Vitória que assistiram a partida saíram convencidos de que uma troca de armadores principais pode não ser tão catastrófico assim. Já Varejão até bola de três chutou (até demais, três, convertendo uma, espírita), marcou Scola muito bem (muito melhor que Splitter, diga-se) e foi de grande valia no ataque. Se no primeiro jogo difícil, Alex e Splitter apareceram, hoje foi a vez de Marcelinho, Anderson e o já citado Leandrinho colaborarem. É assim que se constrói um grande time.
Moncho Monsalve
A evolução é notória e talvez sem precedentes no basquete brasileiro recente. Independente dos resultados contra Porto Rico e Canadá (aparentemente, as outras duas forças da competição), uma troca de comando seria criminosa. Não percamos a chance de evoluir. 2010 é logo ali!