Pode comemorar sim…e muito!

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Publicado em: 7/09/2009

Os críticos mais céticos mal esperaram o apito final de Porto Rico 60 x 61 para lembrar do título de 2005, e os subsequentes fracassos no Mundial 2006 e nos Pré-Olímpicos 2007/2008. Alguns mais radicais até deixaram de comemorar a conquista de San Juan por esse motivo.

Trata-se de comportamento perigoso. Críticas são válidas, a seleção ainda possui vários defeitos a serem sanados, e esses devem ser debatidos da forma mais ampla possível. No entanto, deixar de reconhecer e exaltar as evoluções percebidas na Copa América 2009 podem acabar surtindo o efeito contrário, qual seja, o de estagnação e, quiçá, a involução.

A começar, de semelhança com 2005, só há o título…para por aí. Toda conquista deve ser comemorada, mas a verdade é que, naquele ano, o nível da Copa América foi consideravelmente mais baixo do que o atual, apesar da “participação” dos Estados Unidos.

A Argentina, por exemplo, levou a Santo Domingo uma esquadra similar àquela que conquistou o bronze em San Juan, com exceção de Luis Scola e Pablo Prigioni. Ou seja, uma seleção infinitamente inferior. Ainda assim, ficaram com a prata, perdendo para os brasileiros na decisão.

Os EUA, por sua vez, levaram àquele torneio um elenco com jogadores que, em sua maioria, atuavam na Europa, como uma espécie de experimento contra o fracasso nas Olimpíadas de 2004. O resultado é que o time comandado por Charlie Bell e Kris Lang quase deixou os EUA de fora do Mundial 2006.

Porto Rico não contou com as suas duas maiores armas de 2009: Carlos Arroyo e a torcida. O veterano Daniel Santiago, na época em melhor forma física e técnica, também esteve ausente.

Para completar, 2005 marcou o início da renovação da seleção canadense e os anfritriões dominicanos  ainda não contavam com nenhum jogador atuando na NBA (Francisco Garcia já estava na seleção, mais ainda não havia estreado na liga profissional norte-americana).

Já a equipe brasileira, apesar dos 4 anos a menos de experiência e bagagem internacional, contou basicamente com a mesma equipe que ganhou o ouro em 2009. Estavam presentes em Santo Domingo os 7 jogadores utilizados na rotação atual, com a diferença de que havia opções mais sólidas no banco (Murilo e Nezinho).

Ainda assim, aquela equipe comandada por Lula Ferreira passou um verdadeiro sufoco no caminho para o título. Passou à segunda fase com uma campanha medíocre (4 vitórias e 3 derrotas). E só deslanchou na semifinal (aquela célebre partida em que Leandrinho se revoltou com o técnico norte-americano, que pediu para os seus jogadores fazerem faltas duras no brasileiro).

Além de termos registrado naquela competição derrotas para os “Estados Unidos”, Argentina e Porto Rico, passamos sufoco contra o Panamá e a Rep. Dominicana.

Em 2009, ao contrário, registramos uma única derrota e, ainda assim, num resultado comemorado apenas por nós.

Não tivemos uma atuação dominante em San Juan, já que passamos sufoco 2 vezes contra Porto Rico e tivemos partidas tensas contra a Argentina e contra o Canadá (apesar do domínio em ambas). De qualquer maneira, não tomamos conhecimento das equipes mais fracas, o que já é um grande avanço.

Nenhuma melhora registrada, todavia, foi tão positiva como a forma de atuar da seleção brasileira.

Nitidamente, abandonamos o estilo, digamos assim, “portorriquenho” e adotamos o tal basquete moderno, em que a defesa e as posses de bolas são mais valorizadas do que os arremessos.

Se a nossa produção ofensiva caiu de 91,6 para 78,6 pontos por partida, a nossa defesa passou a limitar os adversários a 65,9 contra os 82,4 pontos registrados por partida em 2005.

Um ótimo sinal, considerando que as últimas competições intercontinentais mostraram que o Brasil não possui uma seleção capaz de se impor ofensivamente. Defensivamente, pelo contrário, possuímos uma geração privilegiada, com jogadores como Alex, Tiago Splitter, Anderson Varejão e Nenê, todos com atributos defensivos de nível mundial.

O ataque, por outro lado, fica por conta de jogadas que, se bem ensaiadas e trabalhadas, podem dar bons resultados até mesmo contra as melhores seleções do mundo.

Por isso, creio que entramos no caminho correto, o que, evidentemente, não significa que atingimos a perfeição.

Nas partidas mais difíceis dessa Copa América, por exemplo, ficou evidente que precisamos ampliar o nosso repertório de jogadas e ensaiar melhor as já programadas, a fim de evitar que olheiros adversários consigam derrubar o nosso ataque antes mesmo da partida começar (como parece ter ocorrido na 1ª partida contra o Canadá).

E os ensaios não podem vir apenas na forma de treino. Antes de entrarmos numa competição como o Mundial, é necessário testar essas jogadas contras as melhores defesas do mundo, principalmente as européias. Isso se chama bagagem internacional e só com ela poderemos reduzir os “apagões” ofensivos, quando, diante da falta de paciência e eficiência para executar as jogadas, acabamos apelando para a individualidade.

Até porque, o excesso de individualidade de Leandrinho e Anderson Varejão que pode nos salvar diante de adversários como Canadá e Porto Rico, certamente será inócuo contra gregos, espanhóis e etc.

Ainda estamos longe (e muito) de um pódio intercontinental e esse talvez só ocorra quando finalmente massificarmos o basquete no país. Contudo, entrar na trilha correta foi difícil e não pode ser ignorado ou diminuído, pois temos bons motivos para acreditar em evolução para os próximos anos. Isso, é claro, se os nossos dirigentes não atrapalharem…

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