A importância dos coadjuvantes
Cleveland e Boston fizeram o jogo de estréia da NBA, ontem a noite em Cleveland. A vitória foi do Celtics por poucos pontos, seis para ser exato, porém mais uma vez o elenco pesou. Como tem pesado nos grandes jogos para o Cavs.
LeBron James mais uma vez foi fantástico. Fez tudo que se esperava dele mais um pouco. Cestas de dois, de três, muito bem nos lances livres, carregando adversários de faltas e ainda achou tempo para dar quatro tocos e e roubar duas bolas. Fez de tudo um pouco não, fez de tudo muito e muito bem. Shaquille O´Neal em seu primeiro jogo pelo Cavs mostrou que tem pernas e basquetebol para ajudar. Demoliu um grande marcador de pivôs altos e fortes, que é Kendrick Perkins, que mal viu a cor de Shaq Diesel na defesa. Porém o super-pivô e LeBron não jogam torneios de duplas.
O elenco pesou ao passo que Boston teve um banco pontuando sempre que necessário e requisitado. Cleveland não. Boston teve outros titulares (além dos nomes principais de sempre) cooperando com a equipe quando era necessário, Cleveland não. Os detalhes nestas partidas equilibradas fazem muita diferença. Ter um atleta que consegue converter 50% das suas tentativs pesa não somente na estatística ao final do jogo, quando podemos ver o produto final, númerico, do jogo mas também na dinâmica da partida. LeBron poderia ter menos trabalho ofensivo se alguém ao seu lado conseguisse sair de quadra chutando pelo menos 50% dos seus arremessos. Cada atleta do Cleveland tem poucos arremessos se comparado com LeBron. Natural e totalmente lógico isso ocorrer. Porém se somados os outros três titulares do Clevland, o aproveitamento somado de Mo Williams (que vive do arremesso preciso em primeira instância), Anthony Parker e Anderson Varejão foi de 9 arremessos convertidos para 26 tentados, ou seja, 34,6%. Pouco, muito pouco.
O banco de reservas contribuiu com apenas 10 pontos dos 89 totais, 11% dos pontos do time. E teve aproveitamento 3 convertidos para 11 tentados, lamentáveis 27,2%.
Se pegarmos o Boston, o banco fez 26 pontos dos 95 da equipe, logo 26,3% do total. E com um aproveitamento de 47% nos arremessos (8 convertidos em 17 tentados).
Estes pequenos detalhes afastam as equipes do sucesso e do fracasso. Não somente na NBA, como em qualquer jogo de basquetebol equilibrado, como foi o de ontem. Em jogos entre equipes com grande disparidade técnica-tática-física, talvez isso não faça grande diferença. Porém para times que tem que vencer jogos por 2 pontos, 3 pontos, detalhes como estes soam importantes.
LeBron poderá até fazer mais do que fez ontem. Ele é um atleta fora de série e atletas fora de série fazem coisas surreais. Porém, nos esportes coletivos, ele vai precisar de uma ajuda do resto do time, que ontem veio apenas pelas mãos de Shaq.
A falta de qualidade do resto de elenco em conseguir passar de uma defesa forte e bem trabalhada como a do Boston, torna o time do Cleveland limitado neste tipo de jogo. O time e não LeBron. Por mais que ele consiga realizar jogadas e passes de tudo quanto é maneira, os outros não conseguem escapar da defesa. A tendência na defesa é focar ainda mais em LeBron e dar certo espaço (e não conforto) para os outros queimarem chutes, pois sabem que a criação ofensiva é limitada nestes caras.
Lances para evidenciar isso tivemos aos montes. Anderson Varejão conseguiu dois bons arremessos, um no primeiro arremesso da partida e outro na cabeça do garrafão (livre). Porém em bolas dentro do garrafão errou, tomou tocos e praticamente não é marcado de perto quando sai do garrafão. Sua utilidade diminiu bastante em qualquer “pick and pop” por ele não conseguir ter consistência no arremesso de média distância. O que dizer de Mo Williams, com mais uma noite ruim contra um adversário forte. Jogar bem contra times fracos também é válido, porém chega uma hora que atuar contra times fortes é necessário. Os dois fconverteram apenas 6 arremessos de 17 tentados.
Coadjuvante em Boston, Rasheed estreiou bem e deu suporte ao forte time do Celtics. Ele mais do que ninguém sabe o quanto é importante a presença de bons coadjuvantes para ganhar o anel de campeão da NBA
O Boston por sua vez teve todos os atletas convertendo para um bom percentual quando tiveram a oportunidade de arremessar. Marquis Daniels e Rasheed Wallace, os dois principais nomes do banco, combinaram em sete arremessos convertidos para quatorze tentados (50%) Ray Allen, curiosamente, teve o pior aproveitamento dos arremessos do time de Boston, cinco convertidos em dezesseis tentados (31%). Agora, se Rasheed e Marquis tivessem um aproveitamento de 30% como o parte do time do Cleveland, seria possível a vitória para o Boston ? O time venceria somente por ter Garnett, Pierce e ou Rondo jogando bem ?
Creio que não. O Boston mostrou ao Clevleand que o trabalho dos coadjuvantes é tão importante quanto o trabalho das estrelas. Seja no rebotes, nos tocos, nas recuperações de bola e também nos arremessos. E o arremesso é uma parte do jogo que tem um peso importante. Saber arremessar e saber criar uma situação de arremesso faz parte do jogo de basquetebol. Não pode ser colocada apenas para as grandes estrelas ou para o playbook da equipe. A sensibilidade do atleta dentro de quadra e a tomada de decisão são tão importantes quanto a técnica desenvolvida ou a raça, a garra, a concentração no jogo.
O Cleveland tem mais 81 jogos antes do playoffs para conseguir criar nos coadjuvantes responsabilidade em decidir jogos. O Boston tem mais 81 jogos para desenvolver ainda mais recursos em seu banco e coadjuvantes. Pela estréia de cada equipe, o Boston parece um passo na frente. E este passo é tão importante para o título que sem ele, cai muito a chance de ser campeão da liga.