Muito prazer, Brandon Jennings
Jennings fez muito barulho antes de chegar à NBA. Não só pelo seu incrível talento, sempre considerado na ponta dos rankings que avaliam jovens atletas do país, mas por uma ousada e inédita atitude: jogar na Europa antes de estrear na NBA.
O fato se explica pelo seguinte: com a proibição de draftar jogadores oriundos do segundo grau, o que todos os jogadores com pouca idade e muito talento que se forma no segundo grau nos EUA faz é jogar em alguma universidade e esperar o momento certo para dar o salto para o basquete profissional. Todos menos ele.
Reprovado no SAT, desistiu de fazer uma segunda prova para poder estudar e jogar por Arizona e arriscou cruzar o oceano e esperar ter idade para jogar na NBA sendo pago por isso. Em Roma, foi coadjuvante de um time experiente e sem muito brilho que alternou bons momentos com outros nem tanto.
Com números nada empolgantes (aqui suas estatísticas na liga italiana e aqui na Euroliga) da temporada européia, chegou, de certa forma, desacreditado ao draft de 2009. Fez mais barulho pela sua língua afiada do que, exatamente, pela expectativa que se podia ter em relação ao seu basquete.
Na noite do draft, ouviu 9 nomes serem chamados antes do dele (Blake Griffin, Hasheem Thabeet, James Harden, Tyreke Evans, Ricky Rubio, Jonny Flynn, Stephen Curry, Jordan Hill e DeMar DeRozan). Quando foi chamado, sabe-se lá o que fazia, e perdeu a hora de subir ao palco (apareceu depois apenas, constrangido). Na pré-temporada, bons jogos, mas que sempre deixam o receio pelo caráter amistoso das partidas.
O Milwaukee, pra piorar, foi uma das últimas equipes a debutarem na NBA.
A verdade é que só quem acompanha a NBA muito de perto é na sexta-feira se lembrou que a tratava-se de uma data importante para pra essa interessante história do basquete dos nossos tempos. A visita à primeira capital dos EUA para enfrentar os 76ers computou uma esperada derrota, porém um inegável brilho individual do outro lado da quadra: o nosso personagem, Brandon Jennings, emplacou simplesmente 17 pontos, 9 assistências e 9 rebotes. Se não foi grande coisa, pelo menos já o colocou em pé de igualdade ou até com certa vantagem com boa parte dos calouros da NBA que estrearam com bons jogos como Flynn, Curry, DeMar DeRozan, etc, na briga pelo título de melhor estreante da temporada.
A atuação deste sábado, porém, jogando para sua torcida, mostrou um jogador diferente, pelo menos ao meu ver. Vi ali um jovem atleta com grande QI de jogo, coragem incomum, espírito de liderança e capacidade de decidir partidas. Ok, foi apenas uma partida. Impressionante o suficiente para escrever essas linhas.
Nos números, nada de novo: 24 pontos, 3 assistências, 2 rebotes – até pior que na noite inaugural. Em quadra porém, se viu um jovem inflamando uma torcida e liderando (!) companheiros mais experientes como Michael Redd, Carlos Delfino, Ersan Ilyasova, Andrew Bogut e Hakeem Warrick. E o principal, as vezes esquecido em tempos de vício por números: vitória contra o bom time do Detroit Pistons.
Ainda restam 80 jogos. Mas é inegável para quem acompanhou a partida de ontem que ali acontecia algo especial.
Foto: Journal Sentinel de Milwaukee