O triângulo como solução em Cleveland?
O forista do Draft Brasil, Linelson y Castro, publicou um achado tático sobre o Cleveland Cavaliers. Uma análise tática de dois movimentos baseados em triangulações, tendo como referência o pivô no poste baixo. Algo próximo ao que o Los Angeles Lakers realizava na época em que Shaquille O´Neal era a referência do time.
No caso dessa triangulação do Cleveland, a formação do ataque é feita com: Mo Williams e LeBron James (zona morta) no perímetro e Shaq no garrafão. Os outros dois atletas no lado fraco da defesa, um posicionado na linha de três pontos, acima da cabeça do garrafão e o outro posicionado entre a extensão da linha de lancre livre e a zona morta.
Por que utilizar essas triangulações ? Quais as vantagens ?
Primeiro que Shaquille O´Neal no poste baixo domina o jogo por completo. Sabe a hora de tentar o arremesso, de passar a bola, tem excelente visão de quadra e se posiciona muito bem. Fora isso, a qualidade com que joga de costas para cesta lhe dá muita vantagem sobre os marcadores. Seu tamanho também dificulta a defesa individual sobre ele, além de que veremos, que caso ele realize um bloqueio, o desequilibro defensivo se torna evidente.
No perímetro o Cavs tem Mo Williams que domina os chutes de três pontos e LeBron James, com sua explosão e velocidade para infiltração ou mesmo para chutes de fora.
Veremos a análise em um jogo contra o Toronto Raptors.
Triângulo Ofensivo do Cleveland – Variação 1
1 – Posição inicial: Como mencionada anteriormente, Shaq-Mo-LeBron no lado forte da defesa e Anderson e Delonte no lado fraco. Vale destacar o espaçamento entre os atletas, com Anderson e Delonte tendo importância também no balanço defensivo.
2 – Passe para o garrafão: A disputa pela posição no garrafão é complicada e cansativa. Aqui vemos Shaq tomando à frente do seu marcador, o que lhe garante uma posição mais confortável para receber a bola. Nesta situação o Cavs retira da primeira ajuda um homem alto do garrafão, Chris Bosh que defende Anderson no perímetro. Nesta formação, dobrar em Shaquille ou em LeBron se torna um tanto quanto complicado pelas opções que abririam e também pela qualidade dos passadores.
3 – Bola no poste baixo: Mo passa a bola para Shaquille e abre espaço para o pivô começar a “empurrar” o defensor para baixo.Com isso Shaq já cria o primeiro problema para a defesa, contê-lo no um contra um.
4 – Atitude da defesa: A defesa do Toronto começa a confrontar a situação com Calderón (marcador de Mo), Turkoglu (marcador de LeBron) e Bosh (marcador de Anderson) tentando uma possível dobra, que o ataque não sabe de onde pode partir.
5 – Corta-luz e Mo desce para linha de três: Lebron faz um corta-luz para Mo Williams, que na indefinição da defesa (Marcar quem ? Shaq, Mo, LeBron ? Qual a prioridade ?) e atraso na saída do marcador, deixa Mo livre na zona morta.
6 – Passe e chute: Shaq passa para Mo livre na zona morta, que arremessa confortável. Calderón tenta contestar o arremesso porém está atrasado na jogada.
7 – Convertido o arremesso: A bola de três pontos é feita, Anderson e Delonte tentam o rebote ofensivo e o balanço fica por conta de LeBron James, com Shaq também recuando para ajudar.
Triângulo Ofensivo do Cleveland
1 – Triângulo no lado forte: Mo com a bola, LeBron na zona morta na linha de três pontos e Shaq no poste baixo. Bargnani tenta marcar Shaq, mas não toma a frente do pivô, que está em uma posição mais confortável para pegar a bola.
2 – Passe para o garrafão: Shaq recebe o passe de Mo, Bosh desce um pouco mais do que na primeira variação para tentar uma ajuda defensiva.
3 – Corta-luz e William afundando: Mo corre para o fundo, LeBron fará o corta-luz, parecendo com a variação 1.
4 – Corte para infiltração: LeBron faz o corta-luz para Mo, porém ao sair, muda de direção, infiltra em direção à cesta recebendo um bloqueio de Shaq em Turkoglu. Calderon nada pode fazer para ajudar pois tem que marcar Mo, Hedo fica preso com Shaq e a defesa sente o desequilibro.
5 – Passe e infiltração: Shaq passa para LeBron, que infiltra com muita explosão. Neste ponto, Bargnani e Bosh se chegarem em James estarão atrasados. A tendência é uma falta, isso se houver tempo.
6 – Pegue-me se for capaz: LeBron passa pelo corredor aberto no bloqueio realizado por Shaq. Está dentro da cesta praticamente.
7 – Finalização: Em 13 segundos de execução, o Cavs faz uma cesta com uma jogada bem trabalha e bem pensada. LeBron pontua, West e Anderson podem fazer o balanço e abaixo as imagens que falam por si.
Análise:
A variação 1 desta triangulação proposta por Mike Brown parece ser a mais simples de ser executada pelo Cleveland e também de ter uma defesa contra, após as análises feita pelos adversários. Como podemos ver Turkoglu consegue sair do bloqueio e acompanhar James. Apesar do atraso de Calderon, a jogada tem apenas uma possível troca defensiva. Logo, com poucas trocas e um movimento em direção à zona morta, a tendência é a defesa conseguir conter com ajustes na defesa de corta-luz.
Na variação 2, a situação é mais complexa. Requer mais ajuda do lado fraco, uma vez que o corredor que é aberto para LeBron infiltrar é enorme. Além disso, Turkoglu fica realmente preso no bloqueio. Uma saída poderia ser Bargnani e Turkoglu trocando a defesa, porém a dificuldade que isso cria é muito maior. Bargnani seria capaz de parar LeBron em movimento? Turkoglu seria capaz de parar Shaq no poste baixo se necessário?
De toda forma, a variação 2 é uma jogada em que LeBron, melhor atleta da NBA em infiltração atualmente, tem sua grande jogada e em grande vantagem contra a linha defensiva dos adversários. É uma alternativa excepcional e dificilmente será contida sem falta.
Fora isso, Shaquille O´Neal poderá realizar tudo que sabe e que sempre demonstrou por onde esteve: visão de jogo, passe de qualidade e jogo de costas pra cesta raro de se ver. Com isso, Cleveland ganha um recurso que não existia no começo da temporada: envolver o pivô em jogadas que começam por ele.
Mike Brown parece que encontrou ao menos dois movimentos que poderão dificultar muito as defesas e que poderão fazer Shaq ser determinante novamente em um sistema, algo que há muito tempo não assitiamos dentro da liga.
Você pode discutir esta jogada no fórum do Draft Brasil, além de ver o artigo original também clicando aqui.
Henrique Gonçalves
Henrique é treinador de basquete e mora em Belo Horizonte, MG.