Fim de semana em Uberlândia: vacinado, mas esperançoso
Meio atrasado, em função da pressa que tem tomado os dias, venho lhes contar da minha rápida porém proveitosa passagem pela mineira Uberlândia, cidade que não conhecia e sigo sem conhecer, a convite da LNB, para cobertura do Jogo das Estrelas do NBB 2.
Em linhas gerais, sigo o que os camaradas com quem por lá compartilhei bons momentos disseram, para o bem e para o mal, no Basketbrasil, Bala na Cesta e Folha de Londrina, nas pessoas de Adriano, Fábio e Thiago: a festa foi bem feita, proveitosa, com mais prós do que contras. Confesso não ter visto o desconforto que a ausência de Carlos Nunes causou como comentou o UOL, e ainda não sei o que pensar em relação às palavras de Wellington Salgado. As negociatas políticas as vezes seguem linhas tortuosas e acho que, de qualquer maneira, ainda é muito cedo para apontar qualquer coisa em relação ao time de Brasília: quer seja a sua permanência (tese da qual me aproximo com menos resistência) ou sua debandada (como tem sido noticiado com certa adesão da grande imprensa).
Sem o arsenal tecnológico que me permitiria uma cobertura mais em tempo real, deixei pra trás o fundo da quadra destinado à imprensa que cobria o evento mais ou menos ao vivo e me dediquei a conversar com as personalidades do basquete que na área que lhes fora reservada acompanhavam as atrações na quadra. Valeu a pena porque, no twitter, Alfredo Lauria, do Rio, mandava suas impressões (isso no sábado. No domingo, problemas técnicos não deixaram a dose repetir) e, fundamentalmente, pude produzir material para abastecer o site por um bom tempo. Nos acompanhem e verão.
Tenho resistência a ocasiões festivas envolvendo partidas de basquete. Como prefiro a competitividade, várias vezes me entedio em um evento como esses. Com alegria posso confessar que não foi o caso. Os jogadores estavam dispostos a dar um show interessante sem deixar de lado a vontade de acertar. Deu pra curtir, embora eu ainda ache que uma Copa, aos moldes da ACB, seja mais atraente do ponto de vista esportiva. A verdade é que a idéia ali não era ressaltar o ponto de vista esportivo, mas promover uma festa do basquete nacional e esse objetivo foi sim atingido. Kouros me disse que uma Copa está nos planos, embora não tão imediatos, em função do problema com o calendário.
A sensação de quem acompanha o basquete há mais tempo e estava lá era de uma certa satisfação misturada com esperança. Era realmente inimaginável, há cerca de dois ou três anos, um fim de semana como esse, em que a imprensa tivesse o trabalho tão facilitado, em que a organização realmente fosse um aspecto de se elogiar, em que a comunidade do basquete se encontrasse em uma aparente harmonia – ou minimamente falando a mesma língua.Com jogo de veteranos, campeonato de enterradas, de três pontos, o próprio Jogo das Estrelas com homenagem a dois históricos professores, a LNB caminhou em direção a se firmar como um grande projeto a longo prazo, cumprindo as metas etapa a etapa.
O maior penar, ao meu ver, ainda segue dentro de quadra. Por mais que todas as equipes tenham mesmo se reforçado e evoluído inclusive em seu modo de jogar, nenhum time do NBB se classificou ao Final Four da Liga das Américas. Quando levantei essa questão na entrevista coletiva que antecedia o evento, tanto Lula quanto Bial não receberam com muita alegria. O primeiro, embora alterado com a inoportuna questão, ainda argumentou com certa razão, ressaltando que é preciso tomar cuidado ao analisar resultados em um torneio de tiro tão curto como o organizado pela Fiba Américas. O segundo, em um momento de iluminação espontânea, teve a perspicácia de dizer que a participação brasileira não havia sido ruim. Uma pena que naquele momento, desprovido do arsenal tecnológico, não tinha em mãos as estatísticas do duelo de sua equipe contra os Halcones de Xalapa, quando os mexicanos venceram a trupe de Bial por 100-72. Kouros foi bastante feliz, ao complementar a resposta dos técnicos, reconhecendo a falta de experiência de nossas equipes em confrontos internacionais e anunciando um torneio contra líderes da liga argentina pouco antes de nossos playoffs finais, sinal de que algo está sendo feito também neste sentido.
Outro ponto que me preocupa e também abordei na Coletiva, perguntando diretamente a Marcelinho, foi em relação aos salários atrasados. O ala flamenguista sabe que apesar de ser um líder entre os atletas, a situação do Flamengo é bem menos desconfortável do que outras equipes que atrasam salários bem menores do que o rubronegro carioca – Londrina foi o caso imediato que me veio à cabeça. Sem um sindicato de jogadores organizado, eles continuarão nas mãos de maus pagadores. Kouros deixou claro, aliás, que só através de um corpo organizado de jogadores é que será possível negociar a ponto de ceder.
Enfim, quem é vacinado sabe que não seria um evento, simplesmente, que nos livraria de tamanhos males que há tempos assombram nossa bola laranja. Levando isso em consideração, dá pra dizer que o final de semana em Uberlândia valeu a pena. Voei com todo basquete nacional (o que me permitiu ótimas conversas, de Wlamir a Facundo Sucatzky), conheci companheiros da imprensa especializada, coletei bastante material para as próximas semanas e tive a oportunidade de acompanhar um pouco mais de perto essa retomada do basquete brasileiro. Voltei igualmente vacinado, mas ligeiramente mais esperançoso.
Guilherme Tadeu de Paula
guilhermetadeudepaula@gmail.com
editor do Draft Brasil
Foto: Luis Pires – LNB