Mucho trabajo, pero poco tiempo… por Prof. José Marinho
Antes de tudo, gostaria de parabenizar o DraftBrasil, na pessoa de Alfredo Lauria, pelo excelente trabalho na entrevista-apresentação do novo técnico da seleção brasileira, Moncho Monsalve, que propiciou a confecção deste artigo.
Monsalve, segundo um amigo, é um dos técnicos mais capacitados da Espanha. Trata-se de um homem sério, honesto, detalhista e disciplinador. Um apaixonado pelo basquete, que tem feito do esporte sua vida. Assim sendo, enfim, a CBB acertou em alguma coisa…
Além disto, faz tempo que ninguém de expressão é pego falando com emoção de nosso basquete. Legal alguém se comover com nossa situação! O máximo que temos visto atualmente é indiferença, indignação e revolta pelo descaso que nosso amado esporte vem sendo tratado na última década. Ou então pessoas tentando obter dividendos pessoais sobre a “terra devastada”.
Um bom técnico europeu vive o basquete 24h por dia. Portanto, nada mais natural que o bom conhecimento demonstrado pelo técnico espanhol sobre os atletas brasileiros em ação no exterior. Lá fora, um treinador nada mais é que um gestor de informação e pessoas, se capacitando cada vez mais para transformar o conhecimento em ações na busca das vitórias.
Monsalve destacou a qualidade de alguns de nossos atletas e o potencial de outros. E nem poderia ser diferente… Muitos analistas desfrutam da mesma opinião. Definitivamente, não compactuo com todo este otimismo. Embora considere que nossos resultados internacionais obtidos pela atual geração de jogadores estejam aquém de seus potenciais, não posso concordar que temos um grupo de grande talento. A maioria de nossos jogadores desempenha papeis secundários em seus times.
Leandrinho, nosso principal nome, é reserva no Phoenix. Varejão, Splitter e Nenê também não são titulares. Na seleção, todos precisam estar na linha de frente, tendo que decidir e assumir o jogo, vivenciando situações não muito comuns na rotina de seus clubes. Não tenho dúvidas que algumas de nossas derrotas recentes podem ser atribuídas a este fator. Quem não se lembra de nosso percentual de lances-livres no Mundial? Além disto, continuo insistindo que nossos armadores apresentam muitas deficiências, quando exigidos ao nível internacional. Monsalve parece acreditar no Marcelinho Huertas.
Talvez seja mesmo a melhor aposta, embora pouca coisa ele tenha rendido em nossa seleção até agora. Huertas tem a seu favor o fato de passar pelo melhor momento de sua carreira como armador titular do iurbentia Bilbao (6º colocado no Espanhol). Sem solucionar o problema desta importante função de jogo, nossas chances de ir a Pequim são irrisórias.
Outro “detalhe” que aflige a todos é o do jogo coletivo. Como transformar talentos individuais em um grupo vencedor? Monsalve destacou a tríade “trabalho, diálogo e disciplina” como lemas de sua conduta para tentar resolver este intrigado quebra-cabeça.
Monsalve terá, segundo ele próprio, 35/40 treinos para implantar conceitos de jogo, tais como, a seleção de arremessos, valorização da posse de bola, jogo com os pivôs, rotação e sistema de ajuda defensiva, posicionamento de rebote, equilíbrio defensivo, entre outros. Ele afirmou que todas as seleções terão o mesmo tempo de preparação, mas se esqueceu que partiremos do zero e nossos rivais não. Tempo curto para tanto trabalho…
Diálogo, com certeza, ele precisará ter, já que se depender da credibilidade da CBB com nossos jogadores, ele estará perdido. Monsalve terá que usar argumentos muito fortes para reverter um ambiente de descrédito existente. Ele precisará passar confiança na dose certa para semear o poder de decisão sem que os egos se avolumem.
E por fim, a disciplina. A imprensa insistiu em apontar desvios de conduta de nossos atletas no Pré-Olímpico. Embora o fato tenha sido um tanto supervalorizado, é patente que está geração não tem um líder e que existem alguns “grupinhos” estabelecidos. Como Monsalve aceitou o convite não por necessidade e sim pelo desafio, penso que ele não titubeará em afastar aqueles que não estiverem focados no sucesso coletivo.
Monsalve, com certeza, não permitirá que a CBB interfira em seu trabalho da mesma forma que o Grego o fez na coletiva. O técnico espanhol afirmou que estará de volta para assistir aos playoffs. De que campeonato? De pronto, uma questão. E se o Monsalve decidir por convocar um jogador em ação na Supercopa? Como reagirá a CBB?
No “frigir dos ovos”, o primeiro contato com nosso novo técnico foi muito auspicioso. Ele apresentou um bom conhecimento sobre nossa realidade, apontou alguns caminhos interessantes e muita vontade de acertar. Dois problemas: o pouco tempo e a nossa conhecida falta de estrutura.
Prof. José Marinho