Universo BrasÃlia é o campeão do NBB 2
Há alguns meses, escrevi neste mesmo espaço que só algo muito absurdo tiraria o tÃtulo do time de Lula Ferreira nesta versão do NBB 2. Faltavam alguns dias para o Jogo das Estrelas e o BrasÃlia reinava muito acima dos demais. O Flamengo, agora vice-campeão, na época apenas podia acreditar no tÃtulo baseado na mÃstica rubro-negra, ou algo do tipo, uma vez que com contusões e um basquete bem esquisito, não conseguia emplacar.
Acontece que havia algo na água de Uberlândia, que certamente mudaria os rumos da equipe na competição. Foi lá que pela primeira vez Wellington Salgado, senador sem voto, mandatário do grupo Universo, declarou a possibilidade de um desmanche na equipe do cerrado.
Não sei se esse foi o motivo principal. Se não foi, foi, sem dúvida, um dos fatores que acabaram transformando o passeio da equipe pelas quadras brasileiras em uma verdadeira peregrinação. A derrota em Franca, com confusão, Mineiro desdentado e exclusões dinamizou uma seqüência muito ruim que teve em seu momento ápice a heróica vitória do pequenino Saldanha da Gama, sob comando do gigante Paulo Murilo, melhor técnico do NBB essa temporada.
Uma vitória importante contra o Flamengo ameaçava encerrar o mau momento, que foi devidamente sepultado depois do bom rendimento na primeira fase do Interligas. Se é verdade que a final, em Mar del Plata, escancarou a diferença técnica entre as duas melhores equipes das duas melhores ligas da América do Sul, ficava claro que o Universo fazia justiça ao primeiro lugar conquistado na temporada regular do NBB.
Uma série de playoff em que o destaque foi o baixo nÃvel técnico e tático dos rivais de Bauru acabara por obscurecer a superioridade do time brasiliense, até que em função de uma série semifinal bastante difÃcil, as desconfianças todas voltaram. Onde estavam os favoritÃssimos ao tÃtulo? Suando para vencer o apenas esforçado Minas, desfalcado de seu principal armador?
Do outro lado, chegava o dono da taça, Flamengo, incrivelmente encorpado, por incrÃvel que pareça. Era um cenário pra lá de improvável, imaginar que o Flamengo poderia chegar fortalecido em uma final contra o time de Lula. Afinal, as equipes tiveram percursos basicamente antagônicos. De um lado, chegavam reforços importantes com Nezinho e Guilherme, dois jogadores que seriam titulares em quase todas as equipes da competição (entre elas, ouso dizer, o Flamengo). Do outro, partia o ex-NBA Baby, pivô que voltara ao basquete brasileiro na temporada anterior ajudando na conquista do tÃtulo do primeiro NBB sem encontrar uma reposição do mesmo nÃvel. Se alguém, naquele momento, dissesse que Teichmann poderia ser um Upgrade em relação a Baby, seria taxado de maluco (como fui, aliás).
A principal arma do Flamengo para conseguir fazer frente aos rivais de BrasÃlia foi a defesa. Por mais que a torcida rubro-negra adore ler que ela faz a diferença, nessas finais definitivamente não foi o caso. Só porque evoluiu defensivamente é que conseguiu chegar à s finais. Caso contrário, sequer bateria Franca, naquele arremesso espetacular de Marcelinho que calou o Pedrocão.
Pois nesses trancos e barrancos, tristezas e sobressaltos, e bons momentos de parte a parte, o NBB chegou a final sem grande primor pela parte tática do jogo. A única variação imposta, pelos dois treinadores, foi o suficiente para causar tremores inimagináveis nos rivais. Gostaria de dizer que venceu quem soube encontrar a melhor maneira de furar o bloqueio da equipe adversária. Não seria verdade. No jogo cinco, a vitória foi da mesmice, dos dois lados da quadra e qualquer um que vencesse essa partida, seria tão merecedor do tÃtulo quanto é do vice-campeonato.
Sobrou porém para quem teve os principais atletas em melhores momentos técnicos. Quando o nÃvel tático se reduz a basicamente nada, resta aos atletas definir e as estrelas brasilienses apareceram quando precisou, sobretudo Alex e Valtinho. Guilherme Giovannoni, contratado para resolver, se tornou um jogador burocrático, de uma bola só: a de três pontos. Seria injustiça, porém, com o ala da seleção caracterizá-lo sozinho assim. Em boa parte da série, essa foi a história dos jogos. E venceu quem melhor soube encestar de longe.
Alex foi o melhor, como aliás, deveria já ter sido eleito MVP da temporada regular, ao contrário do que ele mesmo pensa, e boa parte da imprensa e treinadores brasileiros, que votaram em Guilherme e Valtinho em sua frente. Soa absolutamente ridÃcula a idéia de que Alex é apenas o terceiro melhor jogador do time de BrasÃlia.
E Lula, que não conseguiu fazer a superioridade técnica da sua equipe fosse vista em quadra, ao menos venceu e não nos premiou com rompantes de desvario nas entrevistas pós-jogo. Coerente com o que disse antes do campeonato, quando afirmou que se perdesse a culpa seria apenas dele em função do poderoso elenco que tinha em mãos, não fez mais do que a obrigação ao vencer.
O tÃtulo está em boas mãos, livrando de certa maneira a barra da LNB. Assim, a não suspensão de nenhum atleta flamenguista acabou permitindo com que a vitória viesse plenamente na quadra, salvando o tÃtulo de qualquer asterisco futuro. O Universo BrasÃlia foi, aos trancos e barrancos, com momentos esquisitos e outros brilhantes, o melhor time da segunda edição do NBB e, com justiça, leva o tÃtulo para a capital federal. Saudemos o novo campeão.
Guilherme de Paula
guilhermetadeudepaula@gmail.com