Tempo desperdiçado
Uma das inúmeras boas oportunidades do Final de Semana das Estrelas foi a reunião dos 15 técnicos do NBB. Isso mesmo: todos estavam aqui, numa excelente iniciativa da LNB.
Os técnicos reuniram-se por horas num encontro, realizado na manhã de sexta-feira, sem participação da imprensa. E foi numa escapada dessa reunião que um dos técnicos resolveu desabafar com jornalistas que estavam próximos à sala.
Em breve suma, o técnico disparou sua metralhadora contra o padrão tático argentino e europeu, mirando em especial na participação recente de técnicos estrangeiros no Brasil. Seu principal argumento? A derrota do Flamengo, do técnico argentino Gonzalo Garcia, para Franca, no Pedrocão. Foram quase 5 minutos de discurso (muito) exaltado sobre o assunto.
A partir daí é possível constatar como alguns de nossos técnicos ainda perdem um precioso tempo com picuinhas ou vaidade, tempo este que poderia ser utilizado no aprimoramento do seu próprio trabalho.
Para começar, o discurso é extremamente superficial. Oras, é como se fosse possível atribuir toda razão da vitória de Franca ao técnico Gonzalo Garcia. Bem, embora o argentino tivesse parcela de culpa, principalmente por não ter conseguido controlar os nervos de seus jogadores, não foi isso que pude constatar na tensa partida de quinta-feira.
Se considerarmos que duelavam o mais consagrado técnico brasileiro em atividade contra um nome de pouquíssima expressão no basquete argentino, se considerarmos também que o Pedrocão naquela noite mostrou a sua lendária força e se considerarmos, ainda, a total falta de controle emocional e maturidade dos jogadores do Flamengo, a única conclusão possível é a de que partida de quinta-feira jamais poderia ter chegado aberta aos últimos 4 minutos.
O maior acerto de Franca nesta partida foi ter concentrado o jogo na sua boa dupla de armação Fernando Penna e Vitor Benite. E, convenhamos, isso não seria possível se o veterano Helinho não tivesse suspenso.
E se é verdade que o Flamengo buscou reagir no segundo tempo na base dos chutes de 3 pontos de Marcelinho, o fato é que o time carioca só se manteve no jogo na primeira etapa graças à eficaz utilização dos seus pivôs, que levavam grande vantagem sobre os francanos (a diferença de estatura era colossal).
Agora, determinante mesmo para o desfecho do jogo foi o destempero dos jogadores do Flamengo, em especial de Marcelinho e Duda, ou seja, não ocorreu nada parecido com um nó tático. Não foi uma daquelas partidas em que você pode atribuir o sucesso da vitória ou o fracasso da derrota aos treinadores.
O discurso exaltado do treinador, portanto, tem a mesma significância, por exemplo, de uma afirmação que atribuísse a vitória da equipe de estrangeiros no Jogo das Estrelas ao brilhantismo do técnico argentino Néstor Garcia. Isto é, não tem nem pé, nem cabeça.
Felizmente, no entanto, é possível perceber que uma boa parcela dos nossos técnicos já constatou que a incrível sequência de derrotas do nosso basquete em competições internacionais não é uma obra do acaso ou de uma lua mal posicionada, e já está correndo atrás da evolução. Uma pena que eles ainda sejam obrigados a perder um precioso tempo ouvindo esses descabidos e exaltados resmungos.