A lição do futebol

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Publicado em: 21/02/2011

Normalmente as segundas-feiras são movimentadas no noticiário esportivo. Normalmente pelos resultados, e suas consequências, no fim de semana. O que aconteceu hoje, entretanto não teve nada a ver com um jogo de futebol. Ou melhor, teve. Teve a ver com jogos disputados há 24 anos e que por motivos que não nos interessam aqui, se arrastaram por todo esse tempo. Por trás da discussão, há uma imensa batalha política travada pelas maiores emissoras de televisão do país.

Resumindo (muito) a história, temos basicamente que o CADE acabou com o favorecimento a uma emissora nos contratos de transmissão do Campeonato Brasileiro, de longe o evento esportivo mais rentável do país. Os direitos de transmissão foram então quebrados em pacotes. TV aberta, TV fechada, internet e telefonia celular. As disputas serão através de envelopes lacrados numa disputa realizada com auditoria e tudo mais. De olho nisso, a Rede Record (cuja origem do dinheiro também não entrará em questão aqui) resolveu investir pesado e é quase uma unânimidade entre especialistas no assunto que a Globo não terá verba suficiente para concorrer com o dinheiro da emissora paulista.

Na teoria seria excelente para os clubes, que receberiam uma fortuna na divisão dos direitos de transmissão. Para os clubes. A Globo, sem o futebol, passaria a investir pesados em novelas e séries com forte apelo ao público feminino. O público certamente será maior na emissora carioca e todos os patrocinadores do futebol, hoje, têm um apelo grande para as telespectadoras, o que certamente causará uma divisão no dinheiro pago ao futebol. Muito possivelmente, acima de 50%. E quem fatura com esses patrocínios é a CBF, que vem utilizando os clubes como fantoches, seja através de decisões polêmicas, seja de decisões “suspeitas” (para usar um vocabulário melhor), ou seja de qualquer outra forma, nem sempre lícita, para atingir seus interesses. O interesse dos clubes é deixado de lado em favor de terceiros, quartos, quintos, pessoas cada vez menos ligadas diretamente ao espetáculo.

E por que raios uma história dessas está num site de basquete? A ponte se dá com  uma diferença de mais de 30 anos. Assim como no início das transmissões futebolísticas, hoje o basquete brasileiro engatinha acordos que o amarram às vontades da TV. Claro, a justificativa da LNB hoje é que a decisão é temporária e que visa favorecer o basquete, mas na minha visão é o início de um caminho sem volta. Dizem que a decisão em jogo único, sendo exibida em TV aberta ajudará a popularizar o esporte. Justificativa nobre, mas que pode ser alcançada por meios menos árduos. Se hoje a Rede Globo pagou X por esse regulamento absurdo no NBB 4, a idéia da LNB é que na versão 5 a liga não necessite disso mais. Daí a Globo vai e oferece 50% a mais, e os clubes, vendo todo aquele dinheiro sendo oferecido em troca de um mísero jogo sendo exibido numa data e horário que pode não lhe convir, aceitam, claro. E a cada ano o elo vai se tornando mais forte. A cada ano a dependência vai se tornando maior, até chegar num ponto em que a dependência é total.

Muito menos relevante, mas ainda assim pertinente, há de se convir que o fato de ter jogos em TV aberta não ajudam exatamente a “massificar” o esporte. O handball, por exemplo, é um esporte que cresceu do nada para uma posição incrível sendo ensinado fortemente nas escolas brasileiras, sem qualquer exibição no Esporte Espetacular.

A idéia do dinheiro certo da transmissão televisiva foi o que afundou os clubes de futebol. Por contarem sempre com o dinheiro contado, passaram a não enxergar outras formas, possivelmente mais rentáveis, de tornar garantir uma independência financeira. O futebol nos ensinou, num percurso de 30 anos, que o caminho sem volta da TV transformou os clubes em marionetes. O basquete brasileiro segue pelo mesmo caminho. Ainda em fase embrionária, a dependência do basquete brasileiro, começa a se modelar com acordos unilaterais como o assinado com a Globo para o NBB 4.

O que fazer então? No Draft Brasil, somos unânimes que essa decisão não tem pontos positivos a médio e a longo prazo. A curto, claro, há o dinheiro que salvará meia dúzia de equipes, mas uma liga que pretende se estabilizar e resgatar o prestígio do brasileiro, reocupando o posto de segundo esporte nacional, não se pode dar ao luxo de pensar tão pequeno. Nós acreditamos que as decisões devem ser menos paliativas. O famoso tapar o Sol com a peneira não serve. Tanto os clubes, quanto a liga devem procurar se profissionalizar de forma que o campeonato seja atraente, bem organizado e competitivo a ponto de que todos os envolvidos passarem a enxergar alí uma oportunidade de parceria,  não de vassalagem. Acordos em que ambos possam crescer juntos, e que possam, se necessário, cada um tomar seu rumo sem que os clubes se sintam mutilados.

O futebol está aí, com clubes vivendo das migalhas restantes do banquete dos poderosos, esperamos que o basquete tenha entendido a lição.

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