O jogo da minha vida
Escrevi, pra ótima série “O jogo da minha vida”, do Bala na Cesta, dois textos.
Fábio preferiu este, que publicou hoje e está disponível aqui.
Só pra não perder o outro, segue abaixo.
O Jogo da minha vida
Eu não sou, nem de longe, uma figura apropriada pra fazer parte deste quadro. Não é exatamente porque tem mais gente com a memória mais seletiva do que eu, mas porque eu devo ser o maior pé-frio da História do basquete. Todos os meus “jogos históricos” foram derrotas.
A começar, porque moro em uma cidade do interior do PR cuja grande façanha basquetebolística nos últimos anos foi uma participação honrosa na Nossa Liga Masculina. Por mais respeito que a empreitada maringaense mereça, convenhamos que a emoção não era a companheira principal naqueles jogos do Chico Neto. Poderia recorrer ao Mundial Feminino, nas madrugadas da minha infância, mas eu não lembro quase nada e não vale mentir. NBA talvez? O jogo que mais me emocionei foi San Antonio Spurs e Los Angeles Lakers. Aquela bola do Tim Duncan, quase da linha dos 3, o que foi aquilo? Vibrei como um louco, sozinho, tarde da noite. Mas no meio do caminho tinha um Derek Fisher, tinha um Derek Fisher no meio do caminho.
Recorro então à minha torcida pela seleção brasileira masculina. Aquela bola do Marcelinho contra a Turquia com o Milton Leite desafinando? Mas dizer que o jogo da minha vida foi decidido pelo Marcelinho contraria todos os princípios que este jovem escriba pode ter tido um dia. Teve aquela emocionante conquista (foi emocionante, eu juro) no Pan de Santo Domingo, dominando a República Dominicana de Vargas na final (se não me engano, abrimos 21-3 no primeiro quarto, fora o baile). Mas meu orgulho de torcedor ficaria arranhado se o jogo da minha vida fosse um Pan contra o Vargas.
A minha geração é realmente desprivilegiada. Se eu falasse com qualquer amigo argentino, ele poderia escolher entre a vitória contra os EUA no Mundial de Indianápolis, a vitória contra a Sérvia ou Itália em Atenas, o bronze heróico contra a Lituânia em Pequim. Mas por mais que eu torça sempre para os hermanos nas competições em que a seleção brasileira não disputa, é apropriação indébita dizer que o jogo da minha vida foi capitaneado pelo meu maior ídolo na bola laranja, Manu Ginóbili.
Então o que me resta, como jovem basqueteiro, é dizer (que nem dizem esses idiotas da auto-ajuda adoram repetir) que o jogo da minha vida está por vir. E se der pra escolher, vai ser decidido já no terceiro quarto, porque eu odeio esse negócio de decisão no momento final quando o time é o meu.