Draft Brasil entrevista, com exclusividade, Facundo Sucatzky, maior passador do país
O Draft Brasil foi até o Centro de Treinamento Juscelino Kubitschek do Minas Tênis em Belo Horizonte e entrevistou um dos grandes jogadores em atividade no basquetebol brasileiro.
Facundo Luis Sucatzky, armador argentino do Pitágoras/Minas de 36 anos (09/04/1972), “baixinho” de 1 metro e 77 centímetros e um gigante nas quadras por onde passou. Entre outros feitos podemos destacar seus 792 jogos pela Liga Argentina de Basquetebol (oitava marca da história), seus 1415 arremessos de três convertidos (quarta marca da história), suas 1112 bolas roubadas (quarta marca da história) e, principalmente, suas 3901assistências, que o credenciam como o maior passador da história do basquetebol argentino. Aliás, são mais de 1000 assistências na frente do segundo colocado, Sebastián Ginóbili, irmão mais velho de Manu. Sucatzky ainda liderou por 10 anos consecutivos o seu país nas assistências.
O que não mudou na vinda para o Brasil, para jogar no Minas, é justamente o fato de Facundo sempre ser o líder de assistências do torneio nacional. Em 2006, foram 141 assistências em 17 jogos, com média excelente de 8,3 por jogo. Na segunda temporada, manteve uma média de 9,5 assistências em 22 partidas. E, na temporada 2008, conduzindo o Minas para o terceiro lugar do torneio, foram 218 assistências em 21 jogos (10,4 por partida). Para termos idéia do que isso representa, o segundo lugar na estatística em 2008, o armador do Brasília, Valtinho, até pouco tempo titular da Seleção Brasileira e um dos expoentes da posição no Brasil, distribuiu 110 assistências a menos do que o armador do Minas, numa média de “apenas” 5,6 por partida. Uma diferença gritante.
Facundo jogou no meio de um basquetebol que se reergueu nos anos 90, que teve ali o começo de uma liga organizada, com grandes jogadores, belos times, muito trabalho e empenho. O armador faz parte desta geração, jogou com e contra vários nomes conhecidos, como Marcelo Milanesio, Andrés Nocioni, os irmãos Emanuel e Sebastían Ginóbili, Pepe Sanchez, Luis Scola, Ruben Wolkowyski, entre outros grandes jogadores. Jogadores que tiveram berço nas quadras argentinas. As quadras dos clubes e as quadras das seleções nacionais da base até o adulto.
Nesta entrevista com o armador do Pitágoras/Minas buscamos conhecê-lo melhor, sua carreira, suas conquistas, seu orgulho por estar em uma geração dourada, sua chegada ao Brasil e um pouco do seu futuro.
Draft Brasil – Sucatzky como você iniciou no basquetebol e quando começou sua trajetória no basquetebol ?
Facundo Sucatzky – Começou muito cedo. Com quatro, cinco anos, já começava a brincar de jogar basquetebol. Logo mais, com os colegas de escola começamos a realmente praticar nos clubes. Na época, só tinha basquete ou futebol, acabei optando por basquetebol.
Draft Brasil – Quais os clubes que você jogou na Argentina ?
Facundo Sucatzky – Joguei pelo Independiente de Pico, Libertad Sunchales, Atenas de Cordóba, Obras Sanitárias de Buenos Aires e Quilmes.
Draft Brasil – Sabemos que você é um dos grandes jogadores da história do basquetebol argentino. Entre outras coisas, detém o recorde de assistências na história da liga, é destaque em partidas jogadas, em arremessos de três pontos convertidos. Como é ter tantas glórias e destaque nestes números ?
Facundo Sucatzky – Olha, sempre pautei minha carreira para o melhorar o jogo coletivo da equipe. Em realmente fazer o melhor para o time e para os companheiros. Fazer a equipe obter destaque, ganhar os títulos que disputamos. Mas é um orgulho para mim ter estes números.
Draft Brasil – Qual sua seqüência na Seleção Argentina, quando começou a defendê-la ?
Facundo Sucatzky – Comecei na categoria Cadete, passei também pela Seleção Juvenil e por fim, na Seleção Adulta.
Draft Brasil – Qual a sua geração então dentro do basquetebol Argentino ?
Facundo Sucatzky – Minha geração é uma após à geração do Marcelo Milanesio e uma antes à geração de jogadores como Andres Nocioni, que hoje tem 28 anos. Da minha geração posso destacar de cor, entre os mais conhecidos internacionalmente Montecchia, Pepe Sanchez e Ruben Wolkowyski.
Draft Brasil – A concorrência para chegar na Seleção Adulta então era tremenda ?
Facundo Sucatzky – Muito difícil chegar. Todos têm muita qualidade e realmente era das tarefas mais complicadas conseguir convocação.
Draft Brasil – Mesmo com esta dificuldade para as convocações, é um orgulho estar presente e ser parte desta geração ?
Facundo Sucatzky – Claro. É um grande orgulho fazer parte dessa geração que venceu as Olímpiadas de Atenas em 2004, que conseguiu o vice-campeonato Mundial de 2002, medalha de bronze agora em Pequim-2008. É muito bom fazer parte e saber que ajudou de alguma forma para que isso se realizasse.
Draft Brasil – Chegou a joga contra Emanuel Ginóbili, hoje o jogador argentino mais famoso e conhecido nos quatro cantos do mundo ?
Facundo Sucaztky – Sim. Vi-o começando, em Baía Blanca e realmente era complicado de jogar contra ele. Naquela época já era um grande jogador e realmente não era fácil enfrentá-lo.
Draft Brasil – Você participou de um momento do basquetebol argentino que a Liga se renovou. Começou a ser bem organizada e isso rendeu todas as conquistas que sabemos de cor. O que vê de semelhanças e diferenças com o momento que o basquetebol brasileiro vive hoje ? Acha que a NBB é o primeiro passo para um basquetebol melhor aqui?
Facundo Sucatzky – Penso que o NBB poderá ser mesmo um novo começo. Uma nova fase do basquetebol aqui no Brasil e principalmente chamar o público, os garotos, os meninos para verem os jogadores, para que depois, em um futuro próximo eles se espelhem nestes jogadores de hoje e ocorra o que aconteceu na Argentina. Porém isso depende de muita organização do torneio, que somente assim atrai o público, a mídia, os patrocinadores. Ou seja, que envolve a sociedade e claro, cria-se um ciclo em torno do basquetebol. Cria prestígio e é bom para todos os envolvidos.
Draft Brasil – Qual a principal diferença entre a cobertura da imprensa especializada no Brasil e na Argentina?
Facundo Sucatzky – Como a Liga é mais antiga e mais organizada, claro, a mídia cobre mais e praticamente existe cobertura para cada cidade que tem uma equipe que disputa o torneio. Espero que com o novo torneio, o basquetebol consiga receber uma página entre os principais veículos no Brasil e claro, em Minas Gerais. Na internet e em outros meios. Mas isso, como disse, é conseqüência direta da organização da liga.
Draft Brasil – Em relação ao público nos ginásios, notou muita diferença?
Facundo Suctzky – No principais jogos da Liga Argentina, nós vemos casa cheia. Porém aqui também temos essa condição. Ontem mesmo eu vi o jogo 5 da Semi-Final do Paulista Masculino entre Franca e Paulistano e o ginásio estava lotado. Claro que Franca pode ser a exceção aqui, por ser um dos celeiros do basquetebol nacional, porém acho que com o NBB poderemos ver os ginásios cheios. Basta claro, a Liga dar respaldo nos jogos, chegar ao fim, ser organizada, ou seja, atrair as pessoas. As pessoas gostam de basquetebol.
Draft Brasil – Como foi sua chegada ao basquetebol brasileiro? Quem fez o contato, por que trocar o seu país pelo país vizinho, como se deu essa situação? Como foi sua adaptação?
Facundo Sucatzky – Bom, primeiramente, o Professor Flávio Davis, nosso técnico aqui no Minas, foi a pessoa que entrou em contato com meu procurador na Argentina. Isso foi em dezembro de 2005. Em janeiro de 2006 já tinha chegado! Foi tudo rápido e não estava mais muito satisfeito na Argentina, onde estava jogando. E quando não estou satisfeito em algum lugar, procuro eu mesmo sair. Então procurei saber a respeito do Minas Tênis, do clube, da situação, do trabalho aqui em Belo Horizonte. Vi que tudo era da melhor qualidade e embarquei. A adaptação foi rápida e gosto do clube e de Belo Horzonte. Minha esposa embarcou grávida do meu filho! Ele nasceu no Brasil e é brasileiro! Nunca tive problema algum por ser argentino. O povo me trata super bem e não tenho problemas! Estou muito bem servido aqui!
Draft Brasil – Sobre a sua lesão, a expectativa de retorno é para quando, já que não viajou com o grupo para Joinville?
Facundo Sucaztky – Estou me tratando no clube mesmo e a expectativa é que retorne aos treinos assim que o grupo chegar. Poderei estar na quadra novamente e 100% para estréia dia 28 contra o Paulistano.
Draft Brasil – A expectativa para a Fase Final da Liga das Américas ? (Final Four)
Facundo Sucatzky – Pôxa, é uma honra estarmos no Final Four viu? Não é fácil chegar até aí. É um orgulho muito grande poder participar novamente desta fase do torneio e vamos tentar o título do torneio. Temos elenco para isso.
Draft Brasil – E a expectativa para a NBB?
Facundo Sucatzky – Com a chegada do Ricardo, que ajuda muito o grupo, faremos o possível para sairmos campeões. Claro que respeitando todos os outros times envolvidos e temos grandes clubes disputando. Será muito difícil, mas temos um bom elenco, um bom investimento, temos como chegar ao tão sonhado título nacional. As dificuldades não serão poucas!
Draft Brasil – E os planos para o futuro da carreira? Pensa em jogar até quando? Parar está nos planos?
Facundo Sucatzky – Não, não! Quero jogar sim! Pelo menos mais uns 3 ou 4 anos! Aí depois eu vejo o que eu faço. Claro que continuar em Belo Horizonte, no Minas Tênis pode ser uma possibilidade interessante. Gosto muito daqui e me adaptei muito bem! Não vejo problemas em estar aqui! Porém, hoje, meu pensamento é todo voltado para jogar e render ao máximo na quadra. Esta situação de parar, só bem mais pra frente ainda!
Draft Brasil – Assisti a vários jogos seus desde quando chegou ao Minas. E, na primeira vez que vi driblando, armando, com uma visão de quadra fora do comum, logo associei, “é a cara do jogo do Steve Nash”! A qualidade do arremesso de longa distância, a tranqüilidade em quadra, as bolas importantes nos momento decisivos. Este conjunto todo. Como você analisa esta comparação e, mais, se orgulha dela ?
Facundo Sucatzky – É muito legal esta comparação e realmente é de orgulhar a qualquer um. Nash é um grande jogador desta época na NBA. Eu me inspiro no que ele faz, tento ver quando posso ele em ação e acho que ele é um exemplo de atleta para todos do basquetebol.
Texto e entrevista de Henrique Lima Gonçalves