A culpa é do armador
A fala que abre esse escrito é de Ricky Rubio, armador titular do Barcelona que ao final da partida assumiu que, se o ritmo foge do controle, a culpa é do armador. Ao meu ver, o talentosíssimo jovem tem toda razão.
O que se viu na tarde de ontem foi um banho de Pablo Prigioni com conhecimento total da quadra. Aliás, quando jogam juntos o argentino, o sérvio Marko Jaric e o espanhol Sergio Llull, o perímetro fica absurdamente competente. Todos os jogadores (uns mais outros menos) sabem pensar o jogo, tem muita técnica de passe, controle de bola e leitura de defesas. Mesmo quando entravam os menos dotados Louis Bullock e Travis Hansen, a manutenção de pelo menos um dos três na quadra garantiu o sucesso merengue.
Do outro lado, o quase sempre ótimo Ricky Rubio não conseguiu ditar o ritmo da partida. O escape (o melhor escolta da Europa) Juan Carlos Navarro não foi brilhante como de costume e dessa vez o melhor armador reserva do mundo Jaka Lakovic não conseguiu devolver os catalães à partida. Tanto que o time teve de apelar, mais uma vez, a uma dupla pouco talentosa se comparada aos craques do outro lado: Gianluca Basile e Victor Sada – e até funcionou por alguns momentos.
Lá dentro o jogo foi tão duro quanto as outras partidas. Ante Tomic, porém, surgiu espetacular. O jovem croata, que deve estar na NBA em algumas temporadas, foi brilhante e fez, de longe, sua melhor e mais importante atuação com a camisa branca. Ao lado de Lavrinovic, Reyes e do cada vez com menos espaço (embora eu considere brilhante) Novica Velickovic, Tomic conseguiu mesclar inteligência, raça e muita técnica. O poderoso garrafão barcelonista brigou e em vários momentos do jogo conseguiu igualar em qualidade, com Ndong e Lorbek em alto nível. Pete Mickael, que faz um híbrido entre as posições 3 e 4 quase foi decisivo novamente, numa remontada catalã, que esbarrou em um Prigioni genial.
O argentino, ao meu ver, foi a razão da vitória madridista, embora seja, merecidamente, Tomic o nome do jogo. Ele mostrou ser um dos melhores, senão o melhor, armador hoje da Europa. Decisivo quando precisou, cerebral a maior parte do tempo, com um gatilho poderosíssimo e uma leitura das nuances do jogo que realmente separa os bons dos excelentes. Não tenho dúvidas que tanto Ricky quanto Lakovic tem as qualidades necessárias para ditar o ritmo de um jogo deste nível. Já fizeram isso, aliás, em pelo menos 3 das 5 vezes que as equipes duelaram essa temporada.
O problema é que terá que vencer pelo menos uma vez em Madrid para permanecer vivo na competição. E dessa vez, o Real Madrid encontrou o caminho para derrotá-los. A temporada barcelonista, apesar de brilhante até aqui, está devidamente ameaçada se tropeçar justamente para os principais rivais.
Dia 30, o terceiro round.