A dor da derrota
Na prévia do jogo deixamos claro que a presença de Fabricio Oberto na equipe adversária complicaria. O pivô argentino desafoga um pouco Luis Scola, afinal, a defesa precisa se preocupar com os dois pivôs. Além disso, Román González e sua lentidão são substituídos por um jogador inteligente e que tem ótimo passe. E foi isso que aconteceu. Quando a defesa dobrava em Scola, Oberto convertia. Quando a defesa dobrava em Oberto ele distribuia para Scola. Além disso, a ajuda dos alas fica prejudicada e como havíamos avisado, Hernan Jasen seria problema. Enquanto muitos desconhecem ou estão desmerecendo o ala argentino, cabe lembrar que Jasen é capitão e ídolo do Estudiantes da ACB e teve médias de 10 pontos por jogo na última temporada. Além disso, com 1,99m fica muito fácil para ele atacar sendo marcado por Alex e Leandrinho (quase 10cm mais baixos).
Vale ressaltar que no quarto período o Brasil chegou a abrir 6 pontos de vantagem e nesses momentos não foi Scola quem definiu a partida. Primeiro Jasen com duas bolas seguidas do perímetro buscou o empate, depois, Jasen, Leo Gutiérrez e Oberto converteram as cestas que deram a vantagem de 4 pontos (que seria final) para a Argentina. Scola ficou marcado pelo final, porque, de fato, nos últimos dois minutos a bola só foi pra ele. Porém, vale lembrar que em nenhum momento o astro do Houston Rockets venceu o jogo sozinho. O que aconteceu foi aquele previsível final do jogo de basquete, quando o grande astro põe a bola embaixo do braço e define os ataques. Nossa seleção não teve e não tem isso. Faltou no jogo contra os EUA também. Por sinal, Marcelinho Huertas de partida absurda tentou assumir esse papel de definidor. Por muitas vezes conseguiu, entretanto, é complicado armar e finalizar os ataques. Isso pesa muito no final do jogo. Além do que, Huertas descansou 1 minuto e durante 11 desses minutos foi pressionado pelo fraco, mas chato, Luis Cequeira. Falando em Cequeira, muitos riram do jogador durante o jogo, afinal, é visível que ele não tem nível internacional. O problema é que Cequeira mesmo no limite foi importante hoje. Sim, Cequeira foi importante. O jogador de 1,80m (2 pontos, 3 assistências, participação direta em 10 pontos) jogou 11 minutos, ou seja, 11 minutos de descanso para o experiente Pablo Prigioni. No final do jogo, Prigioni que não é nenhum garoto estava inteiro. No jogo contra a Sérvia, o armador jogou 35 minutos e pode-se notar seu cansaço nos minutos finais.
Voltando a Luis Scola, não há muito o que se comentar. A lenda do basquete aproveitou-se da companhia de Oberto para jogar todo seu basquete. Passou, infiltrou, lutou e até bola de três converteu. Por sinal, saindo do pick and pop foi mortal como sempre é. Foram inúmeros chutes médios que mataram a defesa brasileira. No final, 37 pontos. Huertas fez uma luta interessante com o argentino, afinal, mesmo em outro setor da quadra, também jogou demais. 32 pontos e uma atuação que ficará na história do basquete nacional.
Por fim, cabe ressaltar que a falta de um definidor não pode acabar por crucificar alguém. Anderson Varejão de fato não tem esse perfil. Splitter não encontrou seu melhor jogo, entretanto, atacou contra Oberto e Scola que o conhecem de longa data. Por sinal, Oberto tem um valor de “cancha” incrível. Reclama, faz faltas pontuais, bate forte, vibra e passa uma experiência incrível. Sobre Leandrinho, o mesmo também não tem o perfil de definidor. Leandrinho sempre terá o perfil de um veloz pontuador que tem ótimo chute de fora. Nas horas decisivas não é o homem ideal porque não sabe tomar as decisões corretas, entranto, não existem muitas escolhas e a bola sempre acaba nele nesse momento. Talvez Marcelinho Machado fosse uma boa opção, entretanto, há inúmeros fatores a serem citados. Machado já teve sua chance como definidor do Brasil e não mostrou muito mais do que isso tudo que vimos. Além disso está com 35 anos e não tem mais condições físicas de criar seu próprio chute. Por fim, passou despercebido para muitos, mas Federico Kammerichs jogou 2 minutos. Como citado na prévia, foram 2 minutos (3:51 até 1:43 restantes no quarto período) com uma marcação específica nos chutadores de perímetro. Kammerichs, defensor nato de 2,05m e uma envargadura assustadora, marcou Marcelinho por um ataque nesses 2 minutos. Magnano sabendo dos problemas que Machado iria enfrentar, afinal, seria difícil conseguir um espaço equilibrado para o chute, o retirou logo em seguida e apostou na velocidade de Alex.
No fim fica a dor da derrota. Porém, é necessário ressaltar o que foi feito nesse Mundial. O Brasil de mero coadjuvante passou a ser uma realidade. Fez jogo duro contra a fortíssima seleção da Eslovênia e teve por duas vezes a bola da vitória contra os Estados Unidos. Já ali o mundo se rendeu a essa seleção de Magnano. Essa seleção que conta com dois bons pivôs, alas titulares de qualidade, alguns bons valores no banco e um ótimo armador principal. Hoje, nas oitavas-de-final, essa mesma seleção foi derrotada no detalhe para os argentinos. Esse mesmo time de Magnano voltou a impressionar, afinal, participou de um dos melhores jogos de basquete em anos. A crítica mundial reconhece a evolução do Brasil, rende-se a Marcelinho Huertas e valoriza Rubén Magnano. Basta agora o Brasil seguir a tendência e continuar acreditando no projeto e no trabalho. Há novos objetivos no horizonte e continuando com essa evolução podemos avançar mais um passo. Quem sabe da próxima vez sejamos nós vibrando e cantando no ginásio. A quatro anos atrás isso era inimaginável.