Agora é que começa, por Prof. Paulo Murilo
Acredito que até o presente momento, o grande adversário da seleção venha sendo a alimentação fornecida pelo hotel da delegação, pois já são três os casos de intoxicação estomacal que, segundo a reportagem do UOL-Basquete, tirararam o Moncho do sério, nas críticas dirigidas à CBB pela ausência de um nutricionista no controle dos alimentos fornecidos. É uma situação bastante séria, pois bastam algumas colheres de leite estragado (talvez o responsável pela intoxicação do Baby, segundo os médicos gregos que o atenderam), para derrubar meia equipe.
No mais, o treino contra os libaneses (que me desculpem a constatação…) somente teve importância para um ou outro jogador ainda inseguro em sua produção, que para alguns comentaristas é provocada pela pouca experiência internacional, mas para mim trata-se mesmo de deficiências nos fundamentos do jogo, haja visto que, mesmo ante uma fraquíssima seleção, a defesa fora do perímetro fracassou inúmeras vezes, principalmente no bloqueio de arremessos de três, e em muitos passes errados para os pivôs.
Defender o indefensável, é tarefa muitas vezes enganosa, pois gregos, alemães ou neo-zelandeses estão muito além do arremedo de equipe apresentada pela seleção libanesa, que sequer se classificaria entre as oito equipes do nosso campeonato nacional. Soou meio constrangedor os esgares ufanistas do narrador e alguns comentaristas do SPORTV, mas que encontrou na Hortência a devida e equilibrada análise do que realmente ocorria naquele enorme e deserto ginásio.
Ficou para amanhã, o atestado de real competência dessa equipe em busca de uma classificação olímpica. Será de extrema importância que a mesma lute com todas as forças possíveis para tentar vencer a partida, pois o resultado da mesma estabelecerá os parâmetros necessários para aquilatar suas possibilidades dentro da competição. Trocar “um passe a mais…ou a menos”, contra uma nulidade defensiva libanesa é inconsistente, e até danoso, na medida em que “achem, ou achemos” que a equipe já absorveu a nova “filosofia”das tradições ibéricas, que integrou novas atitudes e comportamentos, fatores estes que qualquer técnico, mesmo iniciante, sabe muito bem, quanto de trabalho e treinamento ser necessário para adquiri-los. A dúvida que tenho, por longos e longos anos de prática, é a de que jamais testemunhei mudanças técnico-táticas, com no mínimo de 2-3 meses de prática intensa, e não 25 dias e quatro jogos amistosos, como foi o caso desta seleção.
Essa constatação, explica a manutenção do sistema único mantido pelo Moncho, agregado ao seu princípio de “um passe a mais”, que vem sendo aplicado pelos jogadores, ainda tentados pelo livre arbítrio a que estavam acostumados, mas que estarão à prova logo mais, quando a bola subir realmente para valer. À partir daquele momento constataremos a validade do que foi treinado, do que foi ou não absorvido e assumido nas ações defensivas e ofensivas, nas atitudes e comportamentos, na obediência ou não ao comando central, na busca do coletivo, ou na inexorável recaída daqueles que confiam somente em seus tacos, vício arraigado pela conivência e cumplicidade de uma geração de técnicos voltados ao prático e pouco trabalhoso sistema único de jogo.
No entanto, quem sabe, possa vir a baixar uma nesga de lucidez e alguma coragem técnico-tática que ouse transgredir essa esmagadora mesmice internacional, algo como jogar em quadra o que temos de melhor na armação, dupla de preferência, e três jogadores de briga dentro do perímetro interno, forçando os gigantes gregos às faltas, e abrindo espaços para os arremessos de media e longas distâncias, com um mínimo de liberdade e equilíbrio, somente possíveis com a qualificação dos passes e dos dribles incisivos. E muito além da necessária defesa aos arremessos de três da equipe grega, a busca incessante dos rebotes, principalmente os defensivos, darão a tônica do jogo, se quebradas e anuladas forem as segundas chances de arremessos de cada ataque grego.Temos de ter em quadra, pelo maior espaço de tempo possível nossos melhores reboteiros, gerando equilíbrio e posterior supremacia sobre o ponto de partida de todo sistema de jogo grego, seu domínio neste fundamento.
Será uma tarefa enorme e cansativa, desgastante, mas que é o preço a ser pago se quisermos ascender à magna competição, as Olimpíadas.
Que os deuses os ajudem, e a nós também.
Amém.
Paulo Murilo
O Prof. Paulo Murilo Alves Iracema é professor da UFRJ (aposentado), técnico atuante de basquetebol, doutor em Ciências do Desporto – FMH -Lisboa, licenciado em Ed.Física pela EEFD/UFRJ, bacharel em Jornalismo Audiovisual pela ECO/UFRJ e é responsável pelo blog parceiro do DB, Basquete Brasil e é nosso colaborador desde o ano passado.