Algumas estatísticas avançadas do NBB
Todos que acompanham a liga americana já devem ter notado um aumento significativo na quantidade de medições presentes em qualquer análise. Atualmente pode-se varrer o desempenho de jogadores e equipes através dos mais variados índices. Sites como o Basketball Reference disponibiliza dados como %USG, que avalia a porcentagem que um atleta é utilizado durante o jogo e WS (Win Share), que indica o quanto o atleta contribuiu para o triunfo do seu time. Há pouco tempo, a NBA reformulou parte do seu site, dedicada aos números, de modo que, aqueles que gostam de estatística podem se saciar com a quantidade de informações. Até a Euroliga, através do site Gigabasket, já tem um local que se dedica a destrinchar os jogos em função da matemática.
Em uma visita a qualquer um desses sites, você encontrará um link denominado “estatísticas avançadas”. Algumas delas, como as expressas em número de posses, já eram usadas pelo lendário técnico de North Carolina, Dean Smith. Segundo ele, o como a equipe pontuava era tão importante como o quanto. Munido de um pouco de paciência e com a ajuda do (santo) Excel, o colunista teve um momento ‘nerd’, e resolveu aplicar algumas destas fórmulas nas equipes do NBB.
Primeiro foi determinado o número de posses de cada equipe. Pode-se fazer uma estimativa usando-se a fórmula: [arremessos tentados − rebotes ofensivos + (0,475 × lances livres tentados) + Erros] (se quiser entender, clique aqui). Feito isso, determinou-se o número de minutos que cada time já tinha jogado, para que o número de tempos extras não turbinasse os números. O Paulistano, por exemplo, jogou oito prorrogações, ou seja, 8 × 5 = 40 minutos = um jogo. Assim, usando a equação [(Nº de Jogos × 40) + (Nº de Tempos Extras × 5)] chegou-se ao número total de minutos que cada time esteve em quadra. Pronto, agora podemos brincar de John Hollinger!
A equipe com maior número de posses de bola é Suzano, com uma média de 78,8 posses a cada 40 minutos. O líder Flamengo é o terceiro com 77 posses. No outro extremo, com ritmo mais lento, está o lanterninha Tijuca, com 71,9 posses a cada 40 minutos. O tricampeão Brasília é o oitavo, com 75,6 posses, próximo à média do torneio que é de 75,1 posses por time. Uma comparação: a média de posses dos times da Euroliga é de 72,5 por 40 minutos. Isto pode significar que, ou o jogo de lá não está mais tão cadenciado, ou o nosso tem tirado o pé do acelerador?
Esse número de posses de Brasília mostra que ser muito apressado ou comedido demais não significa ter um ataque de boa qualidade em terras nacionais. Os candangos são os que mais aproveitam as chances, com 117,2 pontos a cada 100 posses, enquanto Joinville é o que menos produz: 92,9 pontos. Se levarmos em conta o quesito pontos por jogo, o Flamengo tem o melhor ataque (90,8) e o Tijuca, a menor força ofensiva (69,0).
Na defesa Franca lidera sofrendo 94,6 pontos e o apressado Suzano é o dono da defesa peneira da competição, sofrendo 116 pontos a cada 100 posses. Interessante observar Brasília, que aparece apenas como a oitava melhor defesa em pontos por jogo (78,2), é a quarta em pontos sofridos a cada 100 posses (102,9) e o Tijuca, que é a sétima defesa do NBB considerando apenas o que acontece a cada peleja (78,1), despenca para o décimo terceiro lugar, quando se mede o que ocorre a cada centena de posses do adversário (108,7).
O fato de Suzano ter a pior defesa e ser a equipe com maior número de posses pode ser explicado pela quantidade de erros: 25,8% das posses terminam com desperdício. O Basquete Cearense é quem cuida melhor da bola, errando apenas 16,7 vezes a cada 100 ataques. Esta porcentagem de erros é um dos “quatro fatores do sucesso” que segundo Dean Oliver, são os pilares para se ganhar uma partida de basquete (leia mais aqui). Os outros três são: I) Rebotes: mede a porcentagem de rebotes defensivos e ofensivos conquistados por uma equipe em relação à quantidade de rebotes totais que a partida oferece. Aqui seriam necessários os dados de quantos rebotes cada equipe permite ao oponente. Como a página da LNB não fornece estes dados, não foi possível determinar quem lidera esse item. (Na verdade até fornece, mas teria que se verificar boxscore por boxscore. Como o colunista não pretende assinar nenhum pedido de divórcio fica devendo essa); II) Eficiência de arremessos (% eFG): Usa-se a fórmula {[arremessos convertidos + (arremessos de 3 convertidos × 0,5)]/arremessos tentados}. Esta estatística bonifica quem tem um melhor aproveitamento do perímetro. O líder do NBB na % eFG é o Pinheiros, com 59,2% de eficiência e Joinville o pior, com 46,0%; III) Fator lance livre: mede com que frequência uma equipe vai para o lance livre. Usa-se a relação: (Lances Livres tentados / Arremessos tentados). Com um índice de 0,40, Mogi e o líder do campeonato, Flamengo, têm os melhores desempenhos, porém os outros companheiros de G4 do rubro negro estão na rabeira: Bauru (0,30), Uberlândia (0,30) e Brasília (0,32), só ficam à frente de Limeira, que tem o pior índice com 0,21. Dean Oliver e Byra Bello dizem que lance livre ganha jogo. O NBB tenta provar que não.
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Tudo sobre a eleição da CBB já foi dito, mas parece que um cargo de maior inimigo do basquete brasileiro está preenchido. Ele já disparou contra a liga de desenvolvimento, não apoia a situação na CBB, mas abandonou o candidato opositor na hora do pleito e ao divulgar a fórmula (poderá ter oito datas a mais) e o calendário do campeonato paulista (terminará em dezembro) parece querer dificultar as coisas para a LNB (que já acenou a bandeira branca e está disposta a conversar). Este é Tony Checkmatti, o senhor feudal da federação paulista.
Nota do autor (1): Para o cálculo destes números foram utilizados os dados obtidos até a rodada do NBB do dia 02/03/2013.
Nota do autor (2): Em uma conversa via twitter com o Guilherme Tadeu, editor-chefe do Basketeria, ele alertou o fato das estatísticas do NBB ainda serem confusas. Já houve jogo só com duas assistências e é comum observar um time com um número de bolas roubadas maior que o número de erros do adversário.