Andando de lado
Com certo atraso, algo em torno de 20 dias, venho externar uma das rodadas da LDB que assisti no Minas Tênis Clubes em Belo Horizonte (MG).
Em primeiro lugar, ficar claro que nenhuma questão colocada aqui é pessoal. É sempre bom lembrar isso por uma série de motivos, os principais, que as análises são apenas técnico-táticas, levando-se mais em conta uma visão do que assistimos por aí de basquetebol.
Os jogos que assisti foram Ginástico (MG) x São José (SP) – este completo – e uma parte (um período e meio) de Liga Sorocabana (SP) x São Luís (MA).
Infelizmente, o que eu assisti foram os mesmos erros e acertos dos últimos 5, 10 anos nas categorias de base. Não há nada de novo no “front”. As defesas são ruins, tem erros básicos de rotação seja em que marcação se propõe a defender, a transição é feita com muitos dribles e poucos passes, ferindo a lógica mais simples de todas, que a bola é mais rápida sendo passada do que o atleta driblando. Alguns ainda driblam olhando para a esfera, muitos não conseguem usar a mão não dominante no drible e tão pouco conseguir algum corte para o lado da perna não dominante. O jogo é feito basicamente em arremessos de 3 pontos e algumas infiltrações, algo muito similar ao que assistimos no adulto.
Atletas com elevado Q.I. de jogo, por exemplo, são poucos que conseguimos filtrar nos jogos vistos. Desmond Holloway, que é destaque no NBB, evidentemente também foi destaque uma categoria abaixo. É um atleta que tem no chute sua grande arma e se no adulto consegue deitar e rolar, o mesmo foi visto em BH. Não havia atletas disponíveis para pará-lo, nem mesmo sistemas que fossem capazes de retardar seu ímpeto ofensivo.
Sobre os sistemas, podemos dizer que todos os times assistidos jogam da mesma forma no ataque. São jogadas coreografadas, todas decoradas, e a grande maioria nada resulta por não existir boa técnica para realizá-la. Até quando os técnicos não conseguirão compreender que não adianta o atleta saber que tem que estar no lugar X ou Y, se ele não consegue realizar um bloqueio indireto e girar? Do que adianta termos nomes lindos para as jogadas, se os atletas não conseguem pensar um pingo a mais? Se qualquer coisa não sai como desenhado na prancheta?
Q.I. de jogo. Neste ponto temos muito o que melhorar. Entender o jogo, como funcionam as movimentações, para que elas existem, porque existem sistemas defensivos diferentes, como quebrá-los. Estes meninos treinam todos os dias nos melhores clubes do país. Não é possível que nenhum seja capaz de entender o jogo com 20 anos de idade.
Quando comparamos o nível destes jogos com o nível universitário norte-americano (NCAA, por exemplo), temos a impressão que estamos assistindo outro esporte. A grande maioria dos times do “March Madness” tem prospectos de NBA que tem 19 ou 20 anos. Ou seja, idades similares ao que temos na nossa liga de desenvolvimento.
Mas, o jogo universitário é feito para que exista um desenvolvimento do atleta sobre o jogo. Não o contrário. As regras, por serem diferentes dos profissionais, tanto da NBA quanto da FIBA, torna o jogo mais inteligente para aqueles que vão jogá-los. Ataques com 35 segundos de duração, regras diferenciadas para os lances livres, 2 tempos de 20 minutos. Enfim, o jogo é diretamente proporcional ao momento que os atletas vivem. Um garoto de 19 ou 20 anos, não é um adulto para o mundo do basquetebol, aliás, é claro, existem exceções que estamos cansados de ver e saber (como por exemplo, Kobe Bryant, LeBron James, Kevin Garnett, Moses Malone, Shawn Kemp, etc). Porém estes nomes, são 5 em uma dezena de gerações de atletas por aí. A exceção não pode ser tratada como regra. No Brasil, mais uma vez erroneamente é.
Agora, não temos que imaginar que existirá um dia alguma melhora na nossa base, se desde cedo, não nos preocuparmos com questões que são evidentes. Melhora do entendimento geral sobre o que é basquetebol (conceitos), melhora no desenvolvimento técnico dos atletas (passe, fintas, arremessos, controle do corpo, controle do objeto e por aí afora) que é diretamente ligado ao fato do atleta X ou Y, conseguir realizar o que o técnico pede seja conversando, desenhando na prancheta, vendo um vídeo, etc.
Por ora, queremos construir a casa do telhado e mais uma vez, chegaremos à conclusão que isso não é possível. No Brasil, parece que a teimosia e a burrice caminham lado a lado, de mãos dadas.
As dúvidas são as mesmas de sempre. Quantas gerações a mais, teremos de jogar fora, para entendermos que o jogo de basquetebol não é isso que assistimos nas nossas pífias categorias de base e no adulto? Quantos anos se passarão e as desculpas serão sempre as mesmas que estamos cansados de ouvir dos dirigentes e técnicos?
Pelo visto, com Grego ou Carlos Nunes disputando a CBB, serão longos anos de frustrações e desculpas pela frente.