Antes que seja tarde
Kobe Bryant, 31 anos. Inegavelmente um dos jogadores mais talentosos que o mundo já teve a chance de ver jogar. E também uma das cabeças mais duras do jogo.
Kobe vê, em 2010, certamente sua última chance de ser MVP da liga novamente. Simples: será quase impossível concorrer com LeBron James, Dwyane Wade, Kevin Durant e, quem sabe, Chris Bosh, daqui pra frente. Isso afeta diretamente a forma de jogar e, acima de tudo, de pensar do craque de Los Angeles.
O jogo contra o Memphis, segunda-feira passada, só trouxe isso à tona. Como foi bastante divulgado, foi nesse jogo que Kobe ultrapassou Jerry West no topo da lista de cestinhas do Los Angeles Lakers. Legal, belo fato. Cestinha de uma das maiores franquias da liga. Mas o modo como foi alcançada tal marca, acaba ofuscando um pouco o feito.
Bryant chutou nada menos que 28 bolas durante a partida, e foi mais 13 vezes pra linha de lance livre – considerando que 3 foram por um arremesso de 3 em que recebeu falta, e outra por uma falta técnica – foram mais 5 finalizações, totalizando 33. Pau Gasol teve apenas 7 arremessos tentados e Andrew Bynum, que vinha de uma partida impecável contra o Boston Celtics, marcado pelo belo defensor Kendric Perkins, chutou apenas 3 bolas! Apenas uma no primeiro tempo todo. Ron Artest, que acertava tudo, chutou 9 e Lamar Odom, que comanda o time reserva, chutou mais 9. Kobe finalizou o jogo com 44 pontos, um recorde quebrado e uma derrota para o time. O pós-jogo foi recheado de críticas, incluindo a Gasol, que certamente achou humilhante a derrota para o irmão mais novo.
Pra não dizer que foi um caso isolado, Kobe com vontade de bater o recorde e tudo mais, busco o jogo de 19 de Janeiro, dessa vez uma vitória sobre o Orlando Magic. Kobe tentou 19 bolas, mesmo com elas não caindo, já que só acertou 4. Acertou só 4 bolas também 8 dias antes, contra o Bucks. Só que dessa vez tentou 21. O time venceu, mas foi um jogo salvo por Bynum e Odom que pegaram 18 e 17 rebotes cada. Pra finalizar, o Lakers foi até Portland no dia 9 de Janeiro, onde não ganha desde 2005 e Kobe arremessou 37 bolas. Mais de 30% das bolas do time, enquanto Brandon Roy, do outro lado, meteu 9 de 11 e marcou 32 pontos. Derrota do Lakers.
Por que isso acontece?
Pra mim está claro que a temporada fenomenal de LeBron James tira Kobe do foco TIME e liga um neón mais brilhante que a Times Square na cabeça de Kobe, com três letrinhas: M, V e P. Deve ser extremamente difícil pra ele conseguir esquecer um pouco toda atenção que a mídia e a liga dá a LeBron, tratando-se de um jogador de altíssimo nível e que esteve acostumado a ser considerado o melhor jogador do mundo nos últimos anos.
Mas a culpa não fica só na temporada monstruosa de LeBron. Nosso querido Phil Jackson também entra aqui. Desde que voltou a Los Angeles, o treinador parece não estar muito preocupado em dar limites a Kobe. O armador agora tem, provavelmente, o elenco mais talentoso da NBA ao seu lado e não faz o uso correto disso muitas vezes. Uma pena. Talvez LeBron caminhe a passos largos para seu primeiro título (meio tarde já, lembrando que Kobe com 21 já tinha um anel no dedo), mesmo com um elenco inferior, mas melhor utilizado.
João de Lima é de Recife, Pernambuco.
foto: LA Times