Argentina, óbvio!
Na sequência do jogo da seleção brasileira, argentinos e paraguaios fizeram o jogo mais esperado da rodada, afinal, colocava frente a frente a seleção mais forte contra a mais fraca do torneio. Qual a graça do jogo então? Primeiro ver o ginásio Ilhas Malvinas lotado, segundo a geração dourada toda reunida em seu país e terceiro descobrir o que o Paraguai poderia mostrar.
O título já diz tudo, claro, vitória argentina. 84-52 em um jogo decidido já no primeiro quarto com atuação exuberante do monstro Luis Scola. Além dele, Andrés Nocioni, Emanuel Ginóbili e Juan Gutiérrez demoliram os guaranis nos dez minutos iniciais. O cestinha do jogo viria a ser Paolo Quinteros (19 pontos) que mostrou porque foi preferido por Julio Llamas em relação a Juan Pablo Figueroa.
Tudo isso é bem óbvio e vale ressaltar que essa seleção argentina deve atropelar boa parte dos adversários. É bastante superior a maioria dos times e tem uma média de altura interessante. Hoje sem Delfino e Oberto mostrou que tem profundidade no seu banco de reservas.
De resto, não vim falar da Argentina e sim fazer um destaque ao Paraguai. E porque o destaque? Talvez esse time paraguaio até complique algum jogo contra o Uruguai ou Panamá, entretanto, é bom citar e elogiar esse time agora, antes que se esqueça dele. O basquete esteve ‘parado’ por quase 20 anos na terra de Roque Santa Cruz e Carlos Gamarra. Sem jogar campeonatos internacionais fica impossível desenvolver um esporte como o da bola laranja. Já elogiamos a CPB por participar do Sul-Americano de Neiva. Para entender melhor, nem Sul-Americano os guaranis vinham jogando. Naquela competição na Colômbia, surpreenderam e chegaram até o quinto lugar, perdendo apenas para os quatro grandes da América do Sul. Bruno Zanotti, Javi Martínez e Guillermo Araújo mostraram que as andanças pelo continente e pelo basquete europeu ou norte-americano renderam frutos para formar um núcleo de bons jogadores. Aliado ao bravo Fábio José e ao armador Daniel Pérez esse time conseguiu bons jogos em Neiva e praticamente está dando as caras no Pré-Olímpico.
Muitos países talvez nem aceitassem o convite por saber de suas limitações, entretanto, os guerreiros paraguaios estão aí, dando a cara a bater. E hoje, quando muitos riam do massacre no primeiro quarto, os jogadores ainda assustados pareceram lutar contra as próprias limitações individuais e de elenco para reagir na partida e lutar com muita dignidade nos três períodos que viriam. 15-18, 17-14 e 12-15 as parciais, ou seja, um tanto quanto parelho considerando a diferença técnica e de experiência internacional dos dois times.
Araújo e Zanotti foram mais uma vez muito bem. O primeiro mostrou qualidade no jogo interno e boa presença física para anotar 18 pontos. Zanotti que é um ala de potencial extremamente defensivo, se jogou de cabeça na partida e apesar das limitações ofensivas, aproveitou seu atleticismo para converter 13 pontos. Por fim, Fábio José batalhou muito para quase chegar ao double-double (11 pontos e 9 rebotes).
Arturo Álvarez tem seus méritos em treinar esse time. Só não viu quem não quis o tamanho da noção tática dos jogadores. Apesar de tudo, é um time ordenado ofensivamente. Não marcou bem (e quem marcaria?) mas pode complicar algum jogo contra um time mais fraco. Não digo que vá vencer, mas pode fazer um jogo nivelado contra uruguaios e panamenhos.
Enfim, falar de um time fraco é tarefa dura, entretanto, nesse caso é preciso louvar o trabalho de estruturação que está sendo tentado pelos paraguaios. Do outro lado, uma seleção pra lá de vencedora e com craques da bola venceu com facilidade, óbvio.
Foi o único momento em que esses dois times chegaram perto, afinal, o torneio é bem diferente para cada país. Amanhã os argentinos jogam contra o Uruguai no clássico sul-americano (com transmissão da TV brasileira) e o Paraguai enfrenta outra pedreira que é Porto Rico.
Raoni Moretto
raoni@draftbrasil.net