Liga Nacional da Argentina: análise do playoff final
Terminou há pouco a temporada da Liga Nacional de Basquete da Argentina. O campeonato doméstico dos “hermanos” é com certeza a competição local de maior qualidade e organização do continente sul-americano. O playoff final (melhor de sete jogos) foi entre Atenas (Córdoba) e Peñarol (Mar del Plata) e com a presença de ótimos jogadores e treinadores. Do lado do Atenas se destacam Leo Gutiérrez (duas vezes medalista olímpico, ouro 2004, bronze 2008) e o treinador da geração dourada argentina (Rubén Magnano). Do lado do Peñarol o destaque é Román González (medalhista de bronze em 2008) e o técnico da geração de bronze argentina (Sergio Hernandez). Abaixo segue a análise geral da série que teve o Atenas como campeão.
Esse playoff final por si só já marcaria um duelo épico entre os dois treinadores medalistas olímpicos pela seleção argentina. Rubén Magnano e Sergio Hernandez estão com certeza em um seleto grupo de treinadores sul-americanos. Ambos ajudaram a escrever o nome do basquete sul-americano ao redor do globo. Em uma liga organizada, parelha e com alto nível técnico só se poderia esperar o melhor.
A SÉRIE
Os dois primeiros jogos em Córdoba: O Atenas começou a série abrindo 1×0 com uma vitória em casa por 69×61. O jogo foi marcado pela forte marcação de ambos os lados e os destaques foram Leo Gutiérrez (26 pontos, Atenas) e Román González (21 pontos, Peñarol). O maior ganhador da liga argentina começava bem sua caminhada em busca no nono título doméstico. Porém, no jogo 2 o time de Córdoba perdeu a vantagem do mando de quadra ao perder a partida por 85×75 com grande atuação do americano David Jackson (27 pontos) e do pivôzão Román González (23 pontos).
A retomada do mando de quadra: No jogo 3 o Atenas conseguiu retomar o mando de quadra com uma vitória no final do jogo (76×74) com excepcional atuação de Juan Locatelli (experiente jogador argentino que fez 23 pontos no duelo disputado no Poliesportivo de Mar del Plata). Essa vitória pode ser considerada como fundamental na série, afinal, Mar del Plata é famosa por ser um ambiente hostil em jogos de basquete. Os cordobeses não só venceram como abalaram o emocional do time de Sergio Hernandez que não esperava ser derrotado em casa após vencer bem um duelo fora. Mesmo assim, Román González (para muitos o MVP das finais) brilhou e garantiu o empate em 2×2 na série na partida 4. O pivô fez 18 pontos e apanhou 8 rebotes para acabar com quaisquer chanceis do Atenas abrir 3×1 e ficar com a mão na taça. O placar do jogo foi 77×68 para o Penãrol.
A uma vitória do título: Quando uma série de playoff está empatada em 2×2 o jogo 5 é sempre um dos mais nervosos que existe. Quem vencer fica a uma vitória da glória, quem perde é forçado a ganhar duas partidas seguidas para sair vencedor. Em uma série espetacular como essa não foi diferente. Peñarol e Atenas disputaram 40 minutos de ótimo basquete em total igualdade levando o jogo para a prorrogação. No tempo extra, a experiência dos comandados por Rubén Magnano e o fator local foram fatores determinantes para a vitória por 79×76. David Jackson fez 22 pontos mas não foi o suficiente. O conjunto do Atenas triunfou, afinal, os quatro principais cestinhas da equipe fizeram pontuação semelhante (Andre Laws 16 pontos, Leo Gutiérrez 14, Djibril Kante 14 e Juan Pablo Figueroa 11).
O maior ganhador repete a dose: O Atenas é um clube de bairro. Sempre aposta na sua base e em profissionais de Córdoba para buscar seus objetivos. Os cordobeses são os maiores ganhadores da liga argentina, os primeiros a serem bi-campeões (1987 e 1988), a repetir a dose (1997/1998 e 1998/1999) e em registrar a façanha pela terceira vez (2001/2002 e 2002/2003). São também os únicos a estarem presentes em todas as edições da liga (desde 1985 – 25 no total). Hoje foi a vez de marcar o nome na história mais uma vez. Apesar de um Ramón González fazendo de tudo para ser campeão argentino pela primeira vez, os cordobeses bateram 12 grandes jogadores, 1 excelente técnico e 8000 torcedores que lotaram o ginásio Poliesportivo em Mar del Plata. 91×83 no jogo mais aberto da série. Leo Gutiérrez foi mais uma vez incrível (13 pontos, 5 rebotes) e Andre Laws decisivo (21 pontos e uma bola de três que matou o jogo). Se destacaram também os experientes Bruno Lábaque e Juan Locatelli. Lábaque foi muito bem no terceiro período de partida e terminou com 14 pontos; Locatelli dominou o primeiro tempo de jogo e finalizou com 13 pontos. No fim, delírio dos 250 torcedores do Atenas que foram até Mar del Plata e, claro, dos jogadores. O Atenas conquistou seu nono título nacional e se consolida cada vez mais como o grande clube na Argentina.
ATENAS: Organização, qualidade, sistema de jogo, experiência e profissionalismo. Tudo isso representa o Atenas de Córdoba.
Rubén Magnano é um mito e prova isso mais uma vez. Campeão olímpico com a Argentina, o técnico armou um time consciente do que é capaz e sabendo valorizar o que tem de bom. Leo Gutiérrez venceu mais um título. Sempre presente com seus pontos e rebotes, atesta que é um vencedor nato, sua biografia comprova isso. Juan Locatelli, Andre Laws, Juan Pablo Figueroa, Djibril Kante e Bruno Lábaque finalizam um grupo experiente, talentoso e vencedor. Mantendo essa base, o Atenas é forte candidato a brilhar nas competições continentais da próxima temporada.
Raoni Moretto
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Foto: Diário Olé.