Basqueteiros, uni-vos
Lucas Costa, ala-pivô outrora promissor, que chegou inclusive a disputar e bem Mundial na categoria de base pela seleção brasileira e que, em função de uma lesão, viu seu jogo não desenvolver toda sua potencialidade, fez o que muitos jogadores no Brasil tem vontade mas tem medo: falou.
Em carta enviada à imprensa capixaba ontem e que hoje chegou ao meio basqueteiro de internet através do Databasket, revelou a angústia do jogador de basquete do país.
Lucas certamente encontrará problemas para ser empregado na próxima temporada. Aos patrões, pouco importará o bom jogo de pernas que o pivô, apesar das cirurgias, exibe. Tampouco os rebotes e o bom jogo próximo a cesta, muitas vezes inconstante mas que prometia evolução muito clara nas mãos do grande Paulo Murilo.
Os maus pagadores do basquete brasileiro, que não são todos mas que existem e muito mais do que deveriam existir, se importarão em lembrar que Lucas não aguenta calado. Isso será o suficiente para deixar o seu nome bem distante dos planejamentos de times que procuram contratar primeiro e pagar depois.
Esse é um momento em que os jogadores de basquete do Brasil deveriam parar e pensar em seus próprios futuros. Lucas, Kaçamba e Mosley foram dispensados porque protestaram. Será que vão receber aquilo que reivindicam? E os de Londrina, se fizerem isso, verão a cor do dinheiro que tanto lhes é necessário para necessidades básicas da vida? Mesmo os flamenguistas, que sabem que, apesar dos atrasos, o clube sempre honra o prometido. Irão eles ter um futuro garantido quando não conseguirem encontrar um clube que honre seus compromissos?
Tantas vezes vemos os atletas brasileiros reclamando que a classe não é unida. Tantas vezes lamenta-se a falta de organização. Pois a oportunidade está lançada. E a internet é o meio mais fácil de se conseguir reunir gente de 15 cidades diferentes. Ouvi da própria boca do presidente da LNB, com Marcelinho ao seu lado de ouvinte, que só poderão negociar com os jogadores a ponto de ceder quando estes tiverem organizados. Pois organizem-se! Nunca houve um momento tão propício. Ou nos próximos anos, ao lado de Kaçamba, Lucas e Mosley haverão muitos outros.
Não será por falta de liderança que a Associação dos Jogadores não vai pra frente. Marcelinho, maior expoente do nosso basquete, inúmeras vezes deu sua cara a tapa na busca por respeito aos atletas do Flamengo. Os atletas de Londrina estão sempre lutando para que sua situação melhore por lá. A carta abaixo, de Lucas Costa, sobre o ocorrido, mostra a consciência política de um atleta em claríssima necessidade e que sabe lutar pelo que é seu. Falta apenas que eles consigam falar a mesma língua e realmente discutir em pé de igualdade com os seus empregadores.
Esse esporte é coletivo dentro e fora de quadra, basqueteiros. Uni-vos.
“Engraçado quando ouço dizerem:
-LUCAS, cuidado para não se queimar no basquete no cenário nacional…
que afirmação é essa?
devo então esquecer que já defendi essa agremiação por outros anos, onde o mesmo problema existiu e eu nada fiz, simplesmente aceitei as condições, paguei os juros que me foram cobrados por bancos, em virtude de atrasos salariais, sem nada cobrar de quem realmente foi culpado por isso e enfiar meu rabinho entre as pernas, como muitos o fizeram, “pra não me queimar” ?
devo então esquecer que o dono do apartamento onde vivo (de aluguel) me convidou a me retirar do apartamento por falta de pagamento?
devo esquecer então que a única coisa que dá cadeia no BRASIL é o não pagamento de pensão alimentícia (que pago para minha filha) e deixar a minha dívida rolar até que batam à minha porta pra me levar ao xilindró?
devo esquecer que o americano (MOSLEY) ficou a semana passada inteira sem água e sem luz no apartamento dele por falta de pagamento das contas?
devo esquecer que o DANIEL (KAÇAMBA) está sendo despejado do seu apartamento também por falta de pagamento?
devo esquecer que a agremiação tem dívidas altíssimas da temporada passada, inclusive com os jogadores, e por isso, tivemos que aceitar vir pra cá ganhando valores infinitamente menores do que é o valor de mercado, com a desculpa de que teriam que nos pagar e ainda pagar as dívidas assumidas na temporada passada com o dinheiro desse novo patrocinador, e que só teriam possibilidades de continuar, se aceitássemos essas condições, pois assim, eles teriam como honrar os compromissos e
que depois disso, melhoraria?
devo esquecer que apesar das promessas, ainda não acertaram os salários de alguns dos jogadores que aqui estavam na temporada passada?
devo esquecer que esse “projeto” só foi possível porque nós aceitamos e acreditamos na palavra da diretoria de que dessa vez atrasos não aconteceriam?
devo realmente entrar em quadra com “garra, determinação”, quando a expectativa sobre essa questão é de que piore daqui pra frente?
e mais: devo me dispor e me colocar em risco, quando nem plano de saúde tenho por parte da agremiação, para que se qualquer eventualidade acontecer, estar assegurado?
devo fingir que está tudo bem, quando tenho dívidas a pagar, sem perspectivas de quando receberei meu salário, simplesmente porque nessa hora ninguém aparece ao menos pra dar uma explicação do que está acontecendo e dar um prazo pra que as coisas se resolvam?
devo aceitar a fala da “diretora financeira” da agremiação, que diz: “-foram 18 dias de atraso, nem podemos dizer que foi atraso.” quando na verdade, hoje é dia 08 de março e do dia 14 até agora, se passaram 22 dias e mais: “…na sexta-feira, após o jogo de FRANCA, quem estava presente recebeu a parte que faltava…”(foi dito também que metade do salário já havia sido paga, mas eu recebi 23%, e em alguns casos, jogadores receberam uma porcentagem ainda menor), quando na verdade, EU estive presente, inclusive joguei e após o jogo, no vestiário, onde ela foi efetuar o pagamento, fui humilhado em frente aos meus companheiros de equipe, pois ela se dirigiu à mim, dizendo que não havia levado meu salário, pois eu não havia comparecido nos treinos durante a semana e por isso não sabia se eu estaria lá, portanto eu não seria pago?
devo aceitar que o dinheiro do principal patrocinador que deveria ser o responsável pelo nosso pagamento, foi destinado a outras dívidas, nos deixando nessa situação?
devo aceitar a nota de esclarecimento por parte dela perante os meios de comunicação, prejudicando minha imagem, sugerindo ser mercenário, quando estou apenas reivindicando meu direito de receber pelo que trabalhei?
sem contar que no início da temporada, vim pra cá arcando com os custos de viagem, hospedagem, transporte e alimentação, do meu bolso por quase 2 meses, até que se resolvesse a questão salarial, pelo simples fato de que acreditei que dessa vez, a coisa seria levada de uma forma mais séria por aqui.
apenas gostaria de propor uma reflexão e quem conseguir se imaginar tão desrespeitado, que se coloque em meu ou nosso lugar antes de tirar qualquer conclusão sobre o caso. se pra não “me queimar”, devo aceitar tudo isso e muitas outras coisas que não cabem dizer nesse momento, pois eu teria que escrever páginas e páginas pra detalhar tudo de errado que acontece e aconteceu na temporada nessa agremiação, então me joguem à fogueira e me queimem, pois minha essência não será aprisionada por um sistema cruel e escravizador em que nós somos as únicas vítimas e onde ainda tentam nos privar do direito de falar a verdade.
sem mais, LUCAS COSTA!!”
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