Brincando com Fogo
“Manipular algo sem o devido cuidado, ser imprudente tratando com displicência ou desaviso coisas sérias ou perigosas.” Tais palavras explicam o significado da expressão do título desta coluna e, de maneira alguma se aplica ao modo como Rubén Magnano costuma conduzir seus trabalhos.
Pegando uma carona na coluna do Lucas Pastore (leia aqui) no Basketeria, onde ele demonstra como a atual temporada da NBA está despedaçando nossa seleção para a disputa da Copa América que será realizada na Venezuela, a ponto dele temer que a classificação para o mundial de 2014 (os 4 melhores se garantem) fique ameaçada. Indo um pouco em direção contrária, acho que neste ciclo olímpico que culminará no Rio em 2016, não haverá hora melhor para Magnano “brincar com fogo”, ou seja, abrir mão de seus conhecidos veteranos (que já entraram ou estão batendo na porta da casa dos 30 anos) e ver como alguns jogadores, muitos deles passando nos próximos 4 anos pelo ápice físico, técnico e mental, reagem quando postos na fogueira.
Se o Brasil falhar em ficar em uma das 4 primeiras posições, a FIBA oferece 4 vagas de “repescagem” para o Mundial. Mesmo que não signifique certeza absoluta que seja agraciada com uma destas, caso necessite, é difícil imaginar que a nossa seleção, pela história e pelo momento, não esteja entre as escolhidas. Basta lembrar que no último mundial, o Líbano foi um destes quatro convidados.
Até 2016, o Brasil terá 3 competições oficiais pela frente (os Sul-Americanos, apesar de oficiais e pelo nível de exigência, não foram contabilizados). Será a referida Copa América, além do Mundial (Espanha-2014) e do Pré-Olímpico em 2015. Por motivos óbvios, o Brasil não é obrigado a disputar o Pré-Olímpico de 2015, mas faltando um ano para disputar uma Olimpíada em casa, seria recomendável não desperdiçar qualquer chance de azeitar o time, de preferência com a formatação desejada muito bem encaminhada.
Os candidatos aos carimbos para o mundial do ano que vem são Argentina, Brasil, Canadá, Porto Rico, República Dominicana e, por jogar em casa, Venezuela. Seis candidatos para 4 vagas. Com certeza a temperatura será alta, haverá pressão e nossos concorrentes têm a possibilidade de contar com jogadores como Greivis Vasquez, Juan Barea e Al Horford e, mesmo que a Argentina não leve seus veteranos (Luis Scola já confirmou presença), não deixarão de ser nossa eterna pedra no sapato. Existirá ambiente melhor para as seguintes perguntas serem respondidas de forma satisfatória?
Vitor Faverani, Rafael Hettsheimer e Raulzinho já podem ter papel de protagonistas na seleção? O primeiro deve ser a coqueluche do mercado no próximo verão europeu, enquanto que o segundo vai recuperando a forma em Madri após a contusão que o afastou de Londres (tem jogado em média apenas 13 minutos). O ex-armador do Minas Tênis, após um Mundial, uma Olimpíada e 2 anos na Liga ACB, já tem cancha para ser mais que apenas mascote do grupo. Os 3 podem mostram ao comandante argentino que podem ser excelentes opções de rotação (ou até mais do que isso) em uma seleção completa.
Paulão Prestes deixou de ser a eterna promessa? De volta ao basquete nacional, talvez o jogador que tenha deixado o torcedor brasileiro mais empolgado nos últimos tempos vai mostrando que ainda é cedo para desistirem dele. Arrisco a dizer que é o melhor pivô do campeonato. Lucas Bebê também pode entrar aqui, mas tem o crédito de ser 4 anos mais novo e estar em pleno desenvolvimento na Espanha.
O basquete jogado em território nacional já é confiável? A Copa América pode fornecer uma resposta precisa. Temos vistos alguns jovens despontando no NBB, outros nem tão garotos, mas que podem fornecer alternativas táticas para Magnano. Seria bom vê-los como se saem atuando contra o contingente do nível 1 do basquete internacional (europeus, argentinos e australianos são o nível 2 e norte-americanos o nível 3). Podemos listar a tropa francana Jonathan Luz, Lucas Mariano (uma verdadeira jóia), Léo Meindl, Cauê Borges e Jefferson Soccas (é bom ter um armador alto), Betinho do Minas (quase que na mesma situação de Paulão), Ricardo Fischer e Gui Deodato do Bauru, Matheus Dalla do Limeira, Luis Gruber do Uberlândia (gostaria de vê-lo atuando como ala), Vitor Benite do Flamengo (parece que definiu a posição) e Rafael Mineiro do Pinheiros (faz sua melhor temporada, poderia evoluir fisicamente para enfrentar adversários mais pesados). Por tabela, alguns dos jogadores deste parágrafo poderiam responder a pergunta “Temos alas?”.
Marquinhos vai jogar o que dele se espera? Melhor jogador do NBB e vivendo uma ótima fase, o ala do Flamengo talvez seja o único dos veteranos que ainda não jogou o máximo defendendo a amarelinha. Partidas como o último Flamengo X Brasília ainda atraem um pouco de desconfiança. Magnano deveria dar-lhe a tarja de capitão nesta hipotética seleção.
Afinal, quem são Fab Melo e Scott Machado? Motivos de esperança e alegria no começo da temporada americana, ambos estão em baixa no momento. Seria uma boa oportunidade para dissipar as dúvidas (pelo menos para mim) sobre estes misteriosos jogadores.
Ainda há os “esquecidos” Jonathan Tavernari (2º divisão da Itália) e Marcus Vinicius (2º divisão da Espanha), e os conhecidos Rafael Luz e Augusto Lima.
Com os jogadores citados acima acredito ser possível a formação de uma seleção competitiva, que pode brigar pelo título, porém Magnano é um treinador extremamente competitivo, odeia perder e não vai querer correr o risco de manchar sua reputação. O fato de o Brasil estar defendendo o título da competição (é o atual bi-campeão) também deve contribuir para que ele não faça tantas apostas assim e levar quem estiver saudável. O time será muito parecido com aquele que foi para o Pré-Olímpico de Mar del Plata em 2011.
Mas admito, gostaria de queimar a língua.