Cenários para armação do selecionado nacional e o recado de Moncho, por Henrique Gonçalves
O técnico Moncho Monsalve convocou a Seleção Masculina Adulta, que jogará em Porto Rico para tentar avançar ao Mundial da Turquia, em 2010.
Podemos considerar que a lista de Moncho trouxe uma novidade. Vamos à Copa América com apenas um armador principal. Duda e Leandrinho, possíveis armadores nos momentos em que Huertas não estiver na quadra, não são armadores natos e tem vocação para definir jogadas e não organizá-las.
Muito tem se falado sobre a convocação, discutindo nomes, os faltosos ou os incluídos. Porém, isso perde o foco da discussão, que deveria ser, o que de fato vamos mostrar em Porto Rico com este elenco. A discussão dos nomes se encerra no momento em que Moncho convocou a Seleção, ainda em terras portuguesas. Naquele exato momento, as possibilidades do nosso selecionado estavam nos ombros dos 20 nomes que a Comissão Ténica escolheu.
A principal falha, ao meu ver, é que abriremos mão da possibilidade de termos uma dupla armação na quadra. “Artificio” que vem sendo utilizado por muitas equipes mundo à fora e que tem facilitado as ações ofensivas da equipe e por que não, defensivas, com a maior velocidade dos armadores para recuperação na defesa.
Desta forma, nós vamos analisar alguns cenários pertinentes, para que não tenhamos surpresas desagradáveis como em outros momentos recentes do nosso basquetebol.
Cenário 1: Huertas participa de uma média de 32-35 minutos por jogo na Copa América.
Neste cenário, Duda ou Leandrinho fariam muito pouco tempo de armação e possivelmente não teríamos problema com quem for o condutor por 1 ou 2 minutos, no máximo, por período. Logo, Huertas poderia sentar no banco, analisar a partida, falar com Moncho e auxiliares, evidentemente descansar e retornar para o jogo novo.
Cenário 2: Huertas partipa de uma média de 26-28 minutos por jogo na Copa América.
Neste segundo cenário, Duda e Leandrinho terão que revezar mais na armação. Ficou claro no jogo contra o Uruguai, no Rio de Janeiro, que se a marcação dobrar sobre Duda levando a bola, teremos problemas. Se for mais ou menos um minuto por período, talvez a equipe adversária não consiga fazer os ajustes necessário. Porém com a utilização dele por mais tempo na quadra, com o atleta brasileiro sendo pressionado constantemente, a idéia não agrada. Fora que, Leandrinho quando precisou conduzir a bola e organizar o jogo na seleção, teve poucos bons momentos.
Huertas jogando menos de 30 minutos por jogo, com a nossa armação ficando a cargo dos definidores por 4 minutos por período, pode ser o começo de muitos problemas para nossa organização de jogo.
Cenário 3: Huertas carregado de faltas na partida.
Com Huertas enfrentando problemas de faltas teríamos o nosso segundo pior cenário possível. Sendo no começo do jogo, perderemos nosso condutor por boa parte da partida. Um ausência do armador por 20 minutos no jogo, poderá enterrar o sistema ofensivo de vez e logo colocar uma pá de cal em jogos complicados como contra Argentina ou Porto Rico.
Poderá ser trágico para transição e a leitura de jogo. Com Duda e Leandrinho tendo que executar outra função por muitos minutos, não só perdemos Huertas, como perderemos o potencial de ambos para definir, uma vez que estarão, ao menos um deles, fazendo outra tarefa na quadra. Se por 3,4 minutos por período já teríamos problemas, por 15-20 minutos seguidos, acredito que a tarefa da armação terá mesmo de ficar com Duda e este teria de mudar radicalmente a maneira de jogar. “Vícios” como os de arremessar de três na transição, excesso de dribles sem agredir a defesa adversária, erros de bandeja nos contra-ataques, precipitação de arremessos (vários deles desequilibrados) não poderão acontecer de forma alguma.
Logo, o tempo excessivo sem poder contar com Huertas colocará em xeque a opção de não ter levado nenhum outro armador para o torneio continental. E neste cenário está nosso maior medo. A possibilidade de a equipe ficar perdida em quadra, sem ter uma boa sequência de ataques, com os atletas perdendo a concentração e começando aquele desespero que estamos acostumados…
E, convenhamos, este cenário será explorado pelos adversários. A partir do momento que Moncho oficializou a lista nacional, ele também deixou escancarado para qualquer técnico adversário: Criem problemas para Huertas, carregue ele de faltas e o Brasil não terá um armador nato para levar o jogo. Esta mensagem “subliminar” na convocação é temerosa e acredito mesmo que os técnicos vão mandar que os armadores criem todas as situações sobre Huertas para coletar duas faltas com a maior velocidade possível.
Cenário 4: Huertas fora de um jogo ou do torneio por lesão.
(Batamos na madeira 3 vezes cada, por favor). Este cenário é catastrófico! Temos que estar preparados para o que fazer se não tivermos Huertas durante o Torneio. É evidente que ninguem quer vire realidade. Porém é bom questionarmos: E se Huertas não estiver apto?
A tendência sem Huertas é Leandrinho ter que fazer a armação por mais 20-25 minutos, caso realmente Duda não consiga armar, e Diego entrar na quadra para fazer o papel que Leandrinho faria. A convocação de Diego só pode ser entendida como a possibilidade dele atuando, ainda que por alguns minutos apenas, ao lado de Leandrinho. Duda e Diego na quadra juntos, não é uma situação confortável para nós. Porém temos que encarar como possível esse cenário, pois com um desfalque de Huertas, é certo que os dois dividirão por minutos o nosso perímetro.
______
Esses 4 cenários são possibilidades reais. As análises foram feitas somente para tentarmos entender o que poderá acontecer com nossa Seleção e qual foi o pensamento do técnico ao abdicar de outro armador na convocação. Se os nomes dos testados e pelo visto, não aprovados por Moncho são discutivéis, isso é natural e sempre vai acontecer. Cada um tem atletas de sua preferência e confiança. Porém, muito mais importante do que isso, é que fica claro que estamos em falta na preparação de nossos armadores.
Existe uma lacuna de qualidade na armação para a Seleção. Não conseguimos levar para um torneio de importância monstruosa para nós, dois organizadores. Ficamos refém do talentoso Huertas ?
Se sim, poderemos ter um futuro sombrio caso Huertas não esteja apto para os próximos torneios, entre eles o Mundial, se avançarmos na Copa América. E com isso temos várias dúvidas plausíveis:
– Será que até 2010 acharemos outro armador para o grupo ?
– Será que em um ano as deficiências de Fúlvio, Luiz Felipe e outros que foram reprovados hoje serão sanadas ?
– Será que o nome de Fernando Penna será lembrado para possíveis testes no selecionado nacional? Uma vez que são feitos tantos testes com tantos atletas.
– Por que não testar um armador mais experiente na Seleção ?
– Colocaremos nos ombros de um garoto de 17 anos, Raulzinho, todas nossas esperanças e expectativas para ser uma possibilidade na armação da Seleção ? Mesmo que com isso tenhamos que queimar várias etapas na sua formação ?
Enfim, essas e várias outras dúvidas chegaram com a lista de Moncho. O artigo contempla somente a armação por entender que as outras posições estão bem servidas e possivelmente é o que temos de melhor. Logo, a armação, não somente para este torneio, mas também para os torneios de um futuro próximo, é realmente a posição mais preocupante. Hoje, temos somente um armador apto no basquetebol nacional para servir a Seleção. Este recado de Moncho é mais mais profundo e devastador do que poderíamos imaginar.