Cinco anos de NBB

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Publicado em: 28/05/2013

Nós humanos somos obcecados por datas “redondas”, afinal, qualquer data é sempre mais lembrada quando completa 5, 10, 15 anos e assim por diante. Deste modo, aproveitando que a liga nacional de basquete completa sua 1ª data de referência, vamos fazer um balanço do que ocorreu até agora e o que pode melhorar na principal competição brasileira.

Organização: É inegável que a criação de uma liga de clubes, além de pioneira para o esporte brasileiro, foi extremamente benéfica para o basquete. Nestes 5 anos tivemos campeonatos com começo, meio e fim sem que nada ameaçasse a interrupção dos mesmos. Todas as decisões foram acatadas pelos franqueados sem ninguém ficar melindrado e ameaçar roer a corda, um avanço em relação à maneira como a CBB administrava a competição. O que melhorar? Tratar melhor as datas “especiais”, tornando-as especiais de fato. O jogo de abertura do campeonato não pode ser um quase clandestino Minas e Tijuca (nada contra os times), o início dos playoffs não pode ocorrer antes da fase regular terminar, mesmo que o(s) jogo(s) restante(s) não altere(m) nada. E, claro, o jogo final não pode ser disputado em um sábado, às 10 horas da manhã. Nem campeonato infantil é decidido neste horário.

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Minas e Tijuca abriram a 5ª edição do NBB. Quais serão as equipes que estarão na partida de abertura do NBB 6? (Crédito: Orlando Bento/Minas TC)

Calendário: Com exceção do NBB 1, que começou em janeiro de 2009, todos os demais se aconteceram no período de novembro/maio, deixando o campeonato mais espaçado e adequando-se ao calendário mundial do basquete e, apesar de não ser cumprida integralmente, a fixação de jogos em dias específicos da semana (sexta e domingo nas 3 primeiras edições e, quinta e sábado nas 2 últimas) é interessante para a fidelização do torcedor. Porém, a estabilidade está longe de ser alcançada. No nível doméstico, uma situação que parecia superada voltou com força total. Depois de 2 anos de calmaria, o campeonato paulista voltou a interferir, inserindo os jogos da série final entre Pinheiros e São José no meio do NBB (e da liga Sul-Americana). Talvez tenha sido o mês de dezembro mais bagunçado do basquete brasileiro nos últimos tempos, dignos dos tempos sombrios do ex-presidente Grego (toc, toc, toc na madeira). Este ano, a invasão de espaço na folhinha promete ser ainda mais intensa. Segundo a Federação Paulista, seu campeonato se arrastará até dezembro e poderá consumir até 37 datas (8 a mais que o campeonato passado), o que resulta em uma encruzilhada para a Liga: começar o NBB 6 apenas em dezembro, deixando as equipes de fora de São Paulo com um calendário vazio por quase 6 meses ou continuar misturando (e bagunçando) os 2 campeonatos? Uma constatação: nas 3 edições que o NBB e o campeonato paulista dividiram algum espaço (NBBs 1, 2 e 5), os paulistas não chegaram à final.

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Coincidência ou não, nas 3 edições que o NBB e o Paulista de basquete dividiram algum espaço, as equipes de SP não chegaram à final da Liga.

Liga de Desenvolvimento: Sem dúvida, uma criação formidável. A deste ano vem com uma série de melhorias: competição mais longa, maior número de jogos e principalmente, com a participação de equipes de 11 Estados e mais o Distrito Federal. Destaque para as equipes do nordeste (Maranhão, Bahia, Pernambuco e Ceará), região que está abraçando o basquete pra valer, e equipes do Rio Grande do Sul, Paraná e Goiás, locais onde os times profissionais vivem uma espécie de hibernação e que, nos quais, a LDB pode ter um efeito despertador. O que poderia ser revisto? O limite de idade poderia ser de 19 anos, para que a competição se configure realmente como de base. Ou que os clubes tenham bom senso e utilizem apenas atletas que estão sem tempo de quadra nos times profissionais. Na última edição, tivemos a participação de jogadores como Ricardo Fisher, Gui Deodato, Léo Meindl, Lucas Mariano e até do norte americano Desmond Holloway, todos já muito bem aproveitados na rotação de suas equipes. Que se faça valer o significado da palavra “desenvolvimento”.

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Léo Meindl do Franca e Ricardo Fisher do Bauru provaram valer o significado da palavra “desenvolvimento”. (Crédito: João Pires/LNB)

Relação com o Público: Está cada vez mais fácil ter acesso ao basquete de qualquer nível. Uma rápida visita às redes sociais e se recebe links para as transmissões das mais variadas competições, sem contar que muitas ligas já têm o seu “league pass” e a overdose de transmissões pela TV (esse ano NBA, NCAA, Euroliga e liga ACB foram transmitidas do começo ao fim). Portanto, quem é fã da bola laranja, só não vê uma partida se não quiser. Mas adivinha qual é o campeonato mais difícil de ter acesso? Sim, isso mesmo, o brasileiro. O uso da internet como meio de transmissão é zero e a TV anda sugerindo horários ingratos – o 5º jogo da série Flamengo X São José foi disputado as 21:30 e quase no mesmo horário de uma partida de final de conferência de NBA. A relação clube/torcida também tem que se estreitar. É fundamental que os clubes se enveredem para o caminho de se tornarem autossustentáveis e que não dependam exclusivamente de um mecenas (como Uberlândia) e nem de prefeituras (São José). Ter o ginásio cheio durante a temporada toda e lucrar com isso tem que ser uma meta perseguida sem descanso.

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Será o fim das arquibancadas cheias, quando o basquete tiver mais acessos de transmissões dos seus jogos?

Outras melhorias:

  • Permitir que um jogador que já atuou por um time, jogar por outro – hoje basta ter o nome na súmula para o atleta ser impedido de atuar por outra equipe. Uma cota máxima de jogos evitaria que Lucas Tischer, por exemplo, fosse atuar na Argentina depois de ter sido dispensado pelo Brasília. A melhoria nas relações comerciais entre os clubes (trocas e empréstimo de jogadores) também seria muito bem vinda.
  • Envolver a CBB e as federações estaduais no processo. Os clubes que não estão no NBB, apesar de terem que seguir as regras das federações às quais estão filiados, são todos candidatos a serem franquias da Liga, então nada de mais legítimo que LNB monitore como os campeonatos fora do NBB estão sendo executados. Mas o envolvimento deve parar por aí. A criação de uma 2ª divisão, que tem sido ensaiada há algum tempo, por exemplo, não deve ser comandada somente pela LNB. Querer assumir tudo seria um grande erro. Como dizia um antigo chefe, é melhor fazer uma tarefa de modo brilhante, do que várias de maneira medíocre.

Vale ressaltar que, se a parte técnica não evoluir (este tema merece uma coluna própria), tudo que foi escrito acima se tornará apenas perfumaria.

Enfim, o saldo destes 5 anos é positivo. A Liga cresceu em uma velocidade que lhe foi permitida, bem diferente daquela que os basqueteiros gostariam. Ainda que em doses homeopáticas, a lama do pântano no qual o basquete brasileiro se meteu tem sido drenada. Que esta bomba não pare.

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