Coluna do Chiaretto – Moncho e as implicações políticas

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Publicado em: 5/05/2008

Uma das facetas que traz a contratação de um técnico estrangeiro para o basquete brasileiro nesse momento e que ainda não vi abordagem profunda na crítica especializada, é a política. Se alguém me acha “verdinho” para emitir opiniões sobre seleção brasileira, o faço sobre política. Garanto que não sou tão “verde”. Pode ser que seja muito vaga a afirmação sobre implicações políticas e corra o risco de parecer devaneio, mas estou falando de fatos que mudam a ordem de algumas coisas, a partir do momento que alguém neutro entra no meio das decisões do basquete nacional. Como acompanhei todo o período de administração da gestão Grego, incluindo reuniões de campanha do primeiro mandato, posso dizer que essa é uma das poucas decisões acertadas que ele tomou ao longo do mandato na área técnica. A forma como demitiu o técnico que estava em 1997, no em que ocupou a cadeira de presidente da CBB, não foi boa.

O primeiro benefício que se pôde observar com a contratação do Moncho, foi a ponte construída por ele entre CBB e Oscar Schmidt. O próprio Oscar falou nisso no programa “Bem Amigos” do Galvão Bueno, disponível na www.globo.com, não que haja boa vontade da parte dele com a direção da CBB, pelo contrário, mas trata-se da reaproximação do maior ídolo da modalidade no país com o próprio esporte, quando pôde ser ouvido e até o papel em que ele rabiscou suas opiniões foi “capturado” pelo Moncho. O que precisa ser compreendido é que o Oscar, assim como Hortência, Paula e Janeth, não têm que ser tratados como adversários pela confederação ou como inimigos do basquete.

O esporte da atualidade, que a partir das Olimpíadas de 1992 entrou na era do Marketing, vive de imagem positiva para se sustentar e ter mídia espontânea nos meios de comunicação, sendo esse o produto que os patrocinadores compram. Esses ídolos não precisam ser unanimidades dentro do mundo do basquete, mas sim a cara que vai abrir portas do mercado de patrocínios. Será que todos acham que Pelé e Ricardo Teixeira, presidente da CBF, vivem às mil maravilhas? Ou que Michael Jordan é bem quisto na NBA por seus antigos adversários? E por que todos falam bem do Jordan e por que Teixeira se reaproximou de Pelé na preparação da copa de 2014? O que está por trás disso? Acordos de rateio dos bônus que a imagem traz? Não sei responder, mas deve ser uma conduta bem profissional e não passional. Com certeza há algo. E a NLB deu frutos com a imagem dos ídolos? Alguém sabia que uma grande empresa ofereceu 20 milhões para patrocinar a NLB desde que houvesse acordo com a CBB? O que houve então? Acordo com certeza não foi. E perdeu-se o dinheiro que poderia ter mudado a história atual do basquete. As oportunidades que o nosso esporte vem perdendo, os outros esportes não deixam escapar, como o atletismo, que pegou a Caixa de nós e só vem dando alegrias para o banco.

Há alguns anos, ouvi uma afirmação de uma pessoa ligada aos bastidores do basquete que me deu arrepios: “Há certas convocações na seleção brasileira que são políticas”. Até então eu não tinha dado importância, mas com o advento da NLB e a proibição inicial de se convocar jogadores da Nossa Liga para a seleção brasileira, caiu minha ficha. Que sensação ruim eu tive e aquelas palavras fizeram sentido. A proibição ruiu, mas ninguém da NLB foi convocado. E o então campeão nacional Rio/Telemar estava jogando nela. Será que não tinha nenhum jogador na NLB que pudesse contribuir com o Brasil? Porém, isso é passado, e aí esperamos o segundo benefício político que o Moncho possa nos trazer: A liberdade para convocar quem quiser. Mesmo que seja de times da Super Copa dos paulistas, pois o racha político continua e o termômetro da independêcia do Moncho vai ser a convocação para o pré-Olímpico Mundial.

Talvez seja desnecessária a contratação de técnicos estrangeiros para o Brasil do ponto de vista técnico, mas é imprescindível do ponto de vista político para o momento em que vive o nosso basquete, necessitado de pacificação e que os fatos do próprio basquete brasileiro expostos na grande mídia, não sejam apenas a medalha condecorativa que Oscar ganhou do presidente Lula da Silva ou o trágico câncer de Nenê, pois o que vende são vitórias da seleção principal, onde se escreve o nome de patrocinador na camisa. O Moncho é uma esperança política para nós, esperança esta, que se reflita também nos resultados técnicos mundo afora.

por Chiaretto Costa

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