Coluna do Chiaretto – O Big Bang Capixaba
A forma mais direta de descrever o que aconteceu com o basquetebol do Espírito Santo é fazer uma comparação com um acontecimento sem precedentes e, possivelmente, sem procedentes. É muito difícil imaginar algum estado da federação que vá ter nos próximos anos um crescimento vigoroso como aconteceu lá nos últimos três anos. Não sei o quanto isso pode ser exagero, mas o quadro é animador.
Os ingredientes do sucesso capixaba passam por coragem, continuidade, persistência, estrelas solitárias e agora, grande participação do público. Os resultados são credibilidade do poder público, cobertura maciça da imprensa(leia-se, mídia espontânea), ginásios lotados e entrada forte de grandes empresas patrocinando os maiores times. Obviamente na contra mão do basquete nacional, esse quadro tem deixado babando muita gente do meio do basquete.
Um trio comanda essa cena. Telmo Riomar, presidente da Federação Capixaba de Basquetebol– Fecaba. Jovem, de cuca fresca, deu novos ares às decisões tomadas no basquete. O Espírito Santo deixou de ser conhecido pela rivalidade e violência entre as equipes. Outro protagonista é o médico Alarico Duarte. Técnico por anos a fio do time do Saldanha da Gama, meteu a mão no próprio bolso para manter a equipe que revelou muitos craques. E o outro é o ex-craque da seleção brasileira Luís Felipe Azevedo, do outro lado da fronteira da capital Vitória, montou time em Vila Velha. Cestinha de campeonatos nacionais no passado, foi peça importante na ausência de Oscar Schmidt e Marcel nas décadas de 80 e 90, quando estes atuavam no exterior, dirige o CETAF, sigla de Centro de Treinamento Arremessando para o Futuro.
Por hora, as duas equipes lideram o cenário capixaba e já fincaram os dois pés no cenário nacional. Apareceram junto com a NLB e na NLB. O Cetaf foi mais longe naquela competição, depois disso o Saldanha da Gama tem conseguido melhores colocações. Porém, quem está na frente é o que menos importa, pois o investimento já rompeu a casa dos milhões de reais ao longo dos últimos três anos, dinheiro que antes não circulava no nosso basquete e com isso criou-se novos postos de trabalhos para todos que se envolvem com basquete.
Uma característica que tem ficado evidente no trabalho deles é o equilíbrio de ações. Tudo é muito estudado. Venceram a tentação da prostituição dos seus trabalhos para os paulistas, bloqueando um “paulistismo” no estado, sem, contudo, deixar de contar com a força de trabalho dos mais tradicionais. O Saldanha repatriou Sandro Varejão e Aylton, mas também contratou o técnico paulista João Marcelo e depois trocou pelo Ênio Vecchi. O Cetaf trouxe de volta o ala/armador Márcio Azevedo, ex-Uniara, e o filho do Luís Felipe, também chamado Luís Felipe, sem falar que ambas usaram e usam estrangeiros nas suas equipes e outros paulistas e capixabas menos famosos. Isso os faz figurar no hall das grandes equipes. Em caso de dúvida é só dar uma conferida na tabela do nacional da CBB.
É importante salientar que nada disso foi construído a base de oportunismo de qualquer natureza, político ou financeiro, são pessoas sérias que trabalham duro e sabem o que fazem. O que ilustra isso tudo, é que na eclosão desse processo, em 2005, auge da crise política no basquete NLB x CBB, a federação capixaba foi um dos nove votos contra o presidente Grego na eleição da CBB, também ocorrida naquele ano, e já era presidida por Riomar, que foi aclamado meses atrás para mais quatro anos à frente da Fecaba, sendo conduzido de novo à decisão de escolher o futuro do basquete brasileiro na eleição do ano que vem na CBB.
Aos céticos que acham que pode ser mais uma febre terçã em um estado inviável para o basquete, pensem que a tal febre já dura três anos e é olhando para o exemplo dos amigos capixabas que devemos conduzir nossos trabalhos com competência administrativa em clubes, federações e, porque que não dizer, Confederação?
por Chiaretto Costa