Com estilos opostos, Duke e Butler avançam no Final Four
É impressionante o poder de mobilização que os esportes universitários têm nos Estados Unidos. Em épocas decisivas, o país parece parar e a unica coisa que importa é o evento. O Torneio da NCAA desse ano não é diferente. E com motivos. Além de contar com várias surpresas, como a eliminação das favoritíssimas Kansas e Kentucky o país (e o mundo, por que não?) estão espantados com a “Cinderela” da vez: a universidade de Butler.
Butler que não comeu pelas beiradas pra chegar onde chegou. Enfrentou grandes universidades como Syracuse,Kansas State e Michigan State. Confesso que vi pouco dos jogos contra essas duas primeiras para uma análise mais detalhada, mas após uma rápida olhada pelas estatísticas desses jogos e confronto com os números de hoje, é fácil perceber que Butler vem ganhando por ter uma defesa forte. Com um ataque apenas bom, cujo desempenho e eficiência não se comparavam às rivais, restou aos Bulldogs, como último recurso, lutar contra o que os adversários poderiam oferecer de melhor. Atitude corajosa, atitude premiada. Butler soube se impor defensivamente, e, um a um, foi abrindo seu espaço. E mostrou ao mundo que a Cinderela não quer saber de meia-noite tão cedo.
Entretanto como diria um poeta qualquer, “competência e sorte andam lado a lado”. O jogo de hoje contra Michigan fez valer essa máxima. Tudo bem que foi um jogo travado, em que as equipes se respeitaram até mais do que deveriam, mas Butler fez de tudo para sair de quadra eliminada. Ofensivamente, a universidade foi pífia, com um aproveitamento de apenas 30% nos arremessos de quadra. Do outro lado, Michigan não estava muito atrás com apenas 40%, mas fez o suficiente para liderar pela maior parte do primeiro tempo, que acabou empatado. A confusa jogada do buzzer-beat no intervalo mostrava que Michigan parecia estar um pouco mais concentrada. Os Spartans também lideraram o jogo em rebotes e assistências, números mais ou menos esperados e que deveriam dar a vitória. Dariam. Não fosse a defesa de Butler que forçou nada menos que 16 erros de Michigan. Desses, 12 bolas resultaram em roubos e geraram posteriores contra-ataques. Defesa que esteve em cima das jogadas o tempo inteiro não permitindo arremessos fáceis. Defesa que venceu. Apertado, mas venceu. Por 52 x 50.
E como golpe final da sorte, na última jogada, quando Butler vencia por apenas um ponto, uma falta clara de Gordon Hayward (excelente jogador, por sinal) não foi marcada, decisão que afetou diretamente o desenrolar dos segundos finais. Hayward, que não em nada com isso, disse na entrevista coletiva após o jogo que na hora não viu “exatamente” o que aconteceu, que não sabia se havia pegado na bola, na mão ou em qualquer outra coisa. Tudo bem, deixa o menino ser malandro..
Na outra semifinal a tradicional Duke enfrentava West Virginia que vinha credenciada por eliminar a favorita da nação, Kentucky. Logo no primeiro minuto a proposta das duas equipes se mostrava claramente o oposto do jogo anterior. Ataque forte, equipes partindo pra cima uma da outra e um aproveitamento de quase 60% para ambas. Por cerca de 10 minutos, West Virginia fez frente aos Blue Devils. Mas o que se viu a partir daí foi uma aula da equipe do lendário Mike Krzyzewski. Com ataques inteligentes, movimentações bem feitas, passes certos e uma precisão incrível a equipe disparou no placar para nunca mais ver nem sombra de West Virginia.
Kyle Singler é o nome de Duke. O líder da equipe na temporada não fugiu da responsabilidade e dominou o jogo técnica e fisicamente. Em todos os matchups, Singler se sobrepôs ao adversário, terminando a partida com 21 pontos, 9 rebotes e 5 assistências; aproveitamento de 50% nos arremessos de quadra e 60% para três. Aliás, a equipe de Duke mostrou estar calibrada acertando espantosos 13 de 25 arremessos do perímetro. Não podemos deixar de mencionar também a dupla de armação, formada pelos talentosos Nolan Smith e John Scheyer. Com 6 assistências, cada, e ótimos aproveitamentos de 3 (4-9 e 5-9, respectivamente) eles foram importantíssimos para um resultado mais dilatado. O trio por fim, foi responsável por 63 dos 78 pontos marcados por Duke.
A nota triste do jogo ficou por conta da lesão de Da’Sean Butler. A equipe de West Virginia vinha numa tentativa dereação na metade do segundo tempo, baixando uma vantagem de 15 para 9 pontos quando o ala infiltrou numa jogada ofensiva e acabou levando um “encontrão”. No mesmo momento ele desabou no chão chorando de dor e foi atendido por um longo tempo pelo médico de West Virginia. Saiu por fim, carregado, para os vestiários sem conseguir pisar no chão.
Com a estrela do time fora, um placar de 10 pontos atrás e contra Duke inspirada, não restava nada a West Virginia a não ser esperar pelo fim do jogo. A vitória veio por 78 x 57 e Coach K irá, pela 8ª vez, disputar o título da NCAA.
É difícil dizer que espero outra coisa na final além de mais um duelo ataque x defesa. Butler chegou dessa forma e não acredito que vá mudar o ritmo logo agora. Duke, por sua vez, parte para cima de quem quer que seja e tentará impor seu jogo desde o começo.
Uma observação é válida, porém. Butler demonstrou uma inconsistência em momentos decisivos. Faltando alguns minutos para o fim do jogo a equipe liderava por 5 pontos e tinha o jogo na mão, podendo fechá-lo de uma forma muito menos “stressante”. A equipe porém deixou o placar encostar e como o ataque não funcionava, por pouco não é eliminada. Sabe-se lá o que poderia ter acontecido caso a falta de Hayward fosse marcada. Uma vantagem semelhante, contra Duke não pode ser desperdiçada. Michigan mostrou que perdoava as falhas dos Bulldogs, Duke com certeza não o fará.