Dá para apostar no Denver?
Dois anos atrás, quando Carmelo Anthony decidiu deixar o meio-oeste e ir para Nova Iorque, iniciando um processo de reconstrução em Denver, imaginou-se que o Nuggets entraria naquele período sombrio que toda franquia enfrenta quando se desfaz de um “top 5” da liga: ser relegada ao ostracismo, virar um saco de pancada e só ser lembrada quando alguma piada for contada (algo parecido com a situação vivida em Cleveland e Orlando)
Se mesmo na época mais badalada a equipe nunca foi considerada um real favorito ao título, não seria agora que esse status seria alterado, mas de forma silenciosa, quase ser sem notado, Denver vai fazendo uma campanha muito consistente, principalmente após a virada do ano. Em 2013, até o dia 26 de fevereiro, o time ganhou 19 dos 25 jogos disputados (chegou a ganhar nove partidas em sequência). Será que apostar que os rapazes do Colorado podem ser uma surpresa nos playoffs é algo tão absurdo assim?
Hoje, pensar em algo diferente de Spurs e Thunder na final do Oeste é motivo de internação em sanatório, mas como a coluna não preza muito pela palavra sanidade, escorado pela frieza dos números, vamos defender que o Nuggets é um postulante à pedra no sapato de Duncan, Parker, Durant e Westbrook.
Um dos responsáveis pelo momento é o competente George Karl. Que pese em seu currículo a mancha de ser o primeiro técnico a sofrer uma derrota dirigindo uma seleção dos EUA com os jogadores da NBA (mundial de Indianápolis-2002) e de ter chegado a apenas uma final (95/96 dirigindo o Seattle contra o Chicago), Karl tem um histórico de montagem de bons times. Em Seattle, construiu um time centrado no talento de Gary Payton e Shawn Kemp e foi sob o seu comando que o Sonics atingiu duas campanhas com mais de 60 vitórias na temporada regular (as melhores da história da franquia). Em Milwaukee, colocou Glen Robinson no eixo e com a ajuda de um jovem Ray Allen fez a equipe atingir a final do leste na temporada 2000/2001, que representou o melhor resultado da franquia desde a temporada 85/86. Em Denver, quando chegou ao começo de 2005, encontrou um time que tinha uma campanha de 17 vitórias em 42 jogos. Nos 40 jogos seguintes, foram 32 vitórias e somente 8 derrotas e classificação para a pós-temporada. Em 2009 levou o Nuggets até a final da conferência, onde foi derrotado pelo Lakers em seis jogos.
Quando se entra no território dos números, o Nuggets apresenta bons indicativos que o credencia, pelo menos a ser um time que merece um pouco mais de atenção. De acordo com o site de estatísticas da NBA (em novo formato e com muitas informações), considerando a produção a cada 48 minutos, a equipe é a terceira nos quesitos pontos (104,1) e assistências (23,8) e segunda em rebotes totais (44,6). Na defesa, apesar de ser a segunda em bolas roubadas (8,8) e a quarta em tocos (6,5), as coisas ainda não se acertaram: é a oitava que mais sofre pontos (100,4) e a terceira que mais permite que o adversário apanhe rebotes ofensivos (12,2). O elenco é atleticamente privilegiado e jovem, (Andre Miller é o único acima dos 30 anos) e isso explica a sangria de erros cometidos (15,3 por jogo, o quarto maior índice). Apesar de contar com Andre Iguodala e Ty Lawson, não existe um grande destaque individual (não teve nenhum All Star esta temporada). Os dois já citados, mais Danilo Gallinari (é o principal pontuador, faz sua melhor temporada ofensiva), Corey Brewer, Kenneth Faried e Wilson Chandler possuem dígitos duplos em média de pontos (JaVale Mcgee tem 9,9 pontos de média).
Ocupando a quinta colocação do oeste, Denver tem conseguido encarar os quatro times que estão a sua frente (Spurs, Thunder, Clippers e Grizzlies). Até agora foram nove jogos contra estas franquias, com cinco vitórias (está invicto jogando em seu ginásio). Contra o Grizzlies, vantagem de dois a um e a única vitória obtida fora de casa. Contra as demais, uma vitória e uma derrota, sempre levando a melhor em casa e sendo derrotado fora. Estes confrontos são uma representação fiel do que tem sido o campeonato do Nuggets: no Pepsi Center, um cartel de 24 vitórias em 27 jogos (campanha igual ao do Heat e inferior apenas à do Spurs). Longe das Montanhas Rochosas, modestas doze vitórias em 31 jogos. O que pode servir de alento é que em 2013 foram quatro vitórias em nove jogos jogando na casa do adversário.
No mês de março, um calendário recheado de pedreiras. Pela frente Clippers, Thunder (duas vezes), Spurs, Grizzilies e Knicks. Uma boa prévia para saber se o Denver será um lutador capaz de causar estragos, ou ainda é somente um esforçado sparring.