Dá Penna na armação do Brasil
E o que seria uma viagem pra tirar mais algumas decisões dos ombros do nosso Moncho Monsalve hoje ganhou o potencial de “dor de cabeça”. Atende pelo nome de Fernando Feres Penna, armador de 1,89 de altura da equipe do Paulistano, que compõe a maioria da seleção que disputa o Super4 na Argentina.
No último jogo contra o Uruguai, nesta segunda-feira, Penna roubou a cena terminando a partida com 6 assistências. Mas você se pergunta “Seis? Só seis?”, bem, é quase um consenso de que a estatística engoliu alguma outra mas uma coisa é fato, foram 6 de classe, ousadas.
O Brasil entrou em quadra com Fúlvio encarregado da armação, o mesmo que executou um lance marcante no vídeo da Federação Australiana do jogo de anteontem, onde dribla o seu marcador por várias vezes infrutíferamente, sem sair do lugar e sem cortá-lo, depois passando para o pivô fazer um chute apressado de longe no estouro do relógio.
O chute claro, não caiu.
Penna conseguiu algo que há muito não se via numa seleção brasileira: armar o jogo. Achou por várias vezes os companheiros desmarcados em quadra, passes precisos, sem abusar do chute, mudando o ritmo de jogo do time, dando fluência ao ataque.
“E por causa de um jogo achamos a solução de todos os problemas?”
Não.
Armação no Brasil é comumente confundida como “a função do cara baixinho que leva a bola do fundo até a metade da quadra”, esquecendo o fato de que o nome armador não é aleatório, que é quem organiza o sistema.
Na última edição do NBB os líderes em assistências por jogo foram estrangeiros, Sucatzky de Minas com 7.4 e Larry Taylor de Bauru com 6.3.Sem figurar no ranking dos 20 melhores por ter sido limitado a 8 jogos por conta de uma grave lesão, Penna contabilizou 9.8 de média.
Em números totais, são 79. O 20º colocado, Shamell, de Limeira, em 21 jogos distribuiu 58, e o 5º colocado em média, Helinho, terminou com as mesmas 79, em 15 jogos.
Partindo para uma comparação mais ousada, Manteguinha, que foi recém convocado e também recém cortado da seleção, jogou 22 jogos no último NBB e mandou 3.8 assistências de média, no total, 4 a mais que o armador do Paulistano. O seu substituto na seleção, o ex-convidado e agora efetivado Luiz Felipe, de Minas, participou de todos os 28 jogos da campanha do seu time, terminando com 3.4 assistências de média e 96 no total.
É curioso atentar para o fato de que os últimos armadores da seleção brasileira, que disputaram o NBB, ficaram entre 3.4 e 5.3 assistências por jogo.
Ao abrir o perfil de Fernando Penna no site do NBB de cara chama a atenção o alto número de erros do armador, 4.4 erros por jogo, uma média relativamente alta, mas não se pararmos pra pensar que os principais assistentes da NBA são também os que mais erram, pois são os que mais arriscam passes. Então, como medir a “eficiência” de um armador? Será que os outros mesmo com menos assistências não erram menos?
Não.
Esmiuçando um pouco as estátisticas, se fizermos uma razão entre as assistências e os erros, dos últimos armadores que passaram pela seleção e figuram no Top20 de assistências do NBB, o líder é Hélio do Flamengo, com 2 por jogo, seguido por Helinho de Franca, Valtinho de Brasília, Manteguinha de Joinville e Luiz Felipe de Minas com 1.8 cada, por fim, Duda, do Flamengo – que pra Moncho é armador – e Nezinho de Limeira com 1.4.
Fernando Penna tem 2.2 assistências pra cada erro que comete em quadra, por pouco liderando o ranking. Para efeito comparativo, na NBA o líder dessa estatística é José Calderon, do Toronto Raptors, com 4.2, Jason Kidd tem 3.8, Steve nash 2.8 e Dwyane Wade aparece com 2.1.
Não venho por meio deste artigo transformar o Penna na salvação da armação da seleção brasileira, e sim em mais uma possível solução. Por ora, o cargo de armador titular é inconteste de Marcelinho Huertas, apesar da fraca temporada na Itália esse ano, mas o que precisamos de fato na seleção é um armador que pense antes de agir e que passe antes de arremessar. No Brasil só tem um capaz de fazer isso: Fernando Penna.
foto: Liga Nacional de Basquete