Dando voz ao apito
Durante as duas partidas desse domingo (20), válidas pelas semi-finais do NBB, e também durante boa parte dos playoffs, pudemos observar mais uma vez a utilização de um recurso incomum por parte da transmissão do SPORTV: um microfone acoplado a “lapela” dos árbitros. Os telespectadores agora podem ouvir, em alto e bom som, todos os comentários, marcações e discussões efetuadas pelo árbitro principal da partida. Neste artigo, tentarei levantar alguns pontos sobre essa questão.
A priori, não podemos negar que se trata de uma inovação ousada. Para os que estão tendo os primeiros contatos com o basquete, poder ouvir as marcações e alguns comentários dos árbitros da partida é uma boa forma de obter familiaridade com o esporte. É também um meio interessante de emergir no clima do jogo entender melhor certas questões ocorridas dentro de quadra. Quem não tinha curiosidade de saber o que um jogador veterano como Marcelinho Machado vem falar no ouvido do árbitro após cometer uma falta? Ou a explicação do árbitro sobre um lance controverso? Pois é, agora tudo isso é possível.
Entretanto, dar voz ao apito traz uma série de questionamentos. Se por um lado essa prática pode acabar com algumas polêmicas, por outro pode vir a gerar outras ainda maiores. Na última sexta-feira (18), por exemplo, o narrador Roby Porto se viu obrigado a pedir desculpas aos telespectadores pelos palavrões proferidos pelo árbitro de Flamengo e São José, Sérgio Pacheco. Já o árbitro Carlos Renato dos Santos, o Renatinho, vem contabilizando momentos em que usa o novo recurso pra atrair os holofotes para si. Primeiro ao ser “flagrado”, durante a série entre Pinheiros e Joinville, explicando um lance de arbitragem ao treinador da equipe de Santa Catarina, José Alves Neto, para em seguida pedir, em tom de brincadeira, que Neto depositasse em sua conta por causa da aula particular. Durante a última partida da série, Renatinho atraiu as atenções novamente, dessa vez orientando, após discussão com o ala Renato, do Pinheiros, a fazer com o adversário o que Neymar fez com a equipe do Bolívar, em alusão aos 8 a 0 sofridos pelo time boliviano.
Diante desses e outros problemas que a utilização de microfones nos árbitros pode vir a ocasionar, devemos levantar algumas questões. O primeiro e mais relevante tange a autonomia que é dada ao árbitro durante uma partida. Imagina o que pode vir a passar na cabeça de um juiz ao saber que tudo o que ele disser está sendo transmitido, sem cortes, em rede nacional? Trata-se de uma superexposição (exagerada e desnecessária, diga-se) daquele que deve prezar pelo bom andamento da partida. A velha máxima de que a boa arbitragem é aquela que passa despercebida é algo compreensível e verdadeiro. Quanto mais holofote se dá aos árbitros, maior é a chance deste influenciar decisivamente o andamento de uma partida (ainda mais durante os playoffs, como é o caso do NBB). E como bem sabemos, praticamente toda arbitragem é passível de críticas, sejam elas movidas pela paixão clubista ou por um erro factual. Com o recurso do microfone, o árbitro fica refém da sua própria sorte e a tendência é de que as críticas sejam cada vez maiores, pois como é chavão no cinema noir: “tudo que você disser pode ser usado contra você”.
Uma solução conciliadora poderia ser a utilização do microfone, assim como no futebol americano, somente nos casos de decisões duvidosas, além de serem anunciadas para todo o estádio e não só para os que acompanham a partida no aconchego do seu lar. No atual formato das transmissões do SPORTV, o microfone do árbitro fica ligado durante toda a partida.
E você, o que acha da utilização desse recurso? Comente!