De olho na arbitragem – Draft Brasil entrevista árbitra FIBA, Karla Diniz
Arbitragem é um assunto sempre polêmico em qualquer lugar e em qualquer esporte. Porém na mesma quantidade em que é criticado e colocado na cruz, pouco é ouvido. Poucos os arbítros tem espaço na mídia, mesmo quando acertam ou fazem grande partida. Como sempre uma equipe perde, alguns técnicos e atletas tem a necessidade de desafogar os resultados em alguns lugar, imaginem quem sempre é o “escolhido” ?
Considerando a arbitragem como ponto crucial no desenvolvimento da modalidade e na boa dinâmica do jogo, a reportagem do Draft Brasil em Belo Horizonte, entrevistou à árbitra FIBA, Karla Diniz.
A entrevista concedida na sede da Federação Mineira de Basket resultou em conversa sobre a carreira da árbitra, competições apitadas, momento vivido pela arbitragem nacional e internacional, melhorias e o que tem sido feito pela arbitragem para ajudar no desenvolvimento do basquetebol.
Vale lembrar que a arbitragem brasileira sempre foi destaque em eventos internacionais. Podemos citar sem pestanejar Renato Righetto, membro do Hall da Fama (apitou entre outros, as finais olímpicas de 60, 68 e 72) e Carlos Renato dos Santos (apitou final olímpica de 2000 e 2004), dois arbítros com finais olímpicas no currículo, algo para todo basquetebol brasileiro se orgulhar e claro, acompanhar de perto da carreira de Karla Diniz e torcer para ela nos representar em torneios cada vez mais importantes.
Karla é das principais revelações da arbitragem nacional neste final de década. Prosseguindo com a tradição de excelentes árbitros que temos no país.
Draft Brasil – Karla, sua carreira começou de que forma ? Qual foi a motivação para você se tornar árbitra, foi algo planejado ?
Karla Diniz – Eu era atleta de basquetebol e minha técnica sempre achou muito importante os atletas saberem as regras da modalidade para entenderem melhor o jogo. Logo, tive a oportunidade de fazer o curso de arbitragem em 1995 e a partir daquele momento comecei a ser convocada como mesária. Fui mesária até 2004, quando fiz uma clínica com o Fontana (Geraldo Fontana, coorndeador de arbitragem da CBB) e apitei as Olímpiadas Escolares ainda em 2004. Naquele momento dava ínicio a carreira mesmo de árbitra.
Draft Brasil – Não é muito comum vermos árbitras pelas quadras. Naquele momento em que você foi apitar seu primeiro torneio, existiam outras árbitras ?
Karla Diniz – Sim, existiam. Claro que não eram muitas, mas sim, existiam. Não é mesmo tão comum vermos em jogos masculinos mulheres apitando. Porém, em outras categorias é normal e a competência é o que tem que ser levado em consideração.A arbitragem feminina em jogos do masculino tem expandido também, isso é algo positivo e demonstra qualidade do que está sendo feito.
Draft Brasil – Quais as principais competições que você apitou ?
Karla Diniz – Olha, na arbitragem é uma progressão. Logo, comecei nas Olímpiadas Escolares como disse e continuo fazendo o torneio. Mas em 2005 fiz o Nacional Feminino, que continuo fazendo desde então. Em 2007, me tornei árbitra nacional e em outubro de 2008 me torneio árbitra internacional, quando apitei o Sulamericano sub-15 Feminino, no Paraguai. Em 2008 fiz também minha estréia no Nacional Masculino. E agora em 2009 fiz a Copa América Feminina, em Cuiabá e os Jogos da Lusofonia, em Portugal.
Draft Brasil – Você também apita categorias de base. A chamada “arbitragem educativa” existe mesmo ? Como é feita e para que serve ?
Karla Diniz – Existe o que chamamos de arbitragem preventiva. Nas categorias iniciantes, tentamos orientar os atletas. Os técnicos não gostam muito se corrigimos demais os atletas deles. Acontece também dos próprios técnicos não saberem profundamente as regras da modalidade. Este é outro problema.
Draft Brasil –Como conviver com criticas de quem não domina o assunto ?
Karla Diniz – Temos que respeitar. Acontece em todos os locais. Não é porque eu sou árbitra que tenho que achar que estou certa sempre. Acontece de errar, todos nós erramos. Porém, claro, não tem como dizer que nunca fiquei brava na vida. Porém, tudo é a forma como é feita a crítica. A crítica vai existir sempre.
Draft Brasil – Então, aceitar a crítica é válido sempre. Mas, quando não tem como aceitar ? Dentro de quadra por exemplo ?
Karla Diniz – Depende da forma. Tem atletas e técnicos que perguntam tranquilamente, com respeito sempre. Nós sabemos que é um momento de adrenalina, tensão e às vezes, em uma marcação a pessoa perde à calma. Porém não pode perder o respeito com o árbitro de forma alguma. A educação é algo fundamental.
Draft Brasil – E isso também nos jogos dos mais novos ?
Karla Diniz – Sim, sim. Isso não muda porque mudamos de categoria. A educação para com o árbitro tem que existir. E claro, também a nossa para com os atletas e técnicos.
Draft Brasil – Da parte prática do dia-a-dia de um árbitro. Qual é a rotina em dia de jogos e como é a rotina em competições maiores, como foram os Jogos da Lusofonia ou a Copa América ?
Karla Diniz – Em jogos de base, por exemplo, reunimos e conversamos sobre o jogos a serem apitados. Mas temos mais contato entre os árbitros por serem mais jogos na mesma cidade, por exemplo. Nos jogos do Nacional, viajamos e encotramos em hotéis, por exemplo. Daí fazemos reunião sobre o jogo. Sempre temos reuniões e são muitas delas. No caso dos Jogos da Lusofonia, tivemos reuniões diárias e discussões sobre vídeos que revemos as atuações. Claro que nos torneios de base, são muitos mais jogos e isso é algo que ainda não é feito rotineiramente. Porém, estamos criando uma videoteca na FMB para ter este banco de dados e criar mais recursos para nossos árbitros. Virando realidade isso irá ajudar demais. Na Copa América, assim como na Lusofonia, temos reuniões diárias da arbitragem e muito estudo. Não falta estudo e discussão sobre o que é feito por nós nas quadras. Claro, sempre pensando em melhorar as nossas atuações.
Draft Brasil – O basquetebol brasileiro é alvo de críticas pelo seu papel dentro da quadra, principalmente com o masculino. A crise técnica na modalidade parece não afetar a modalidade. A arbitragem brasileira sempre foi muito boa se comparada com as arbitragens de outros países e nesta última década não caiu mesmo com tantos problemas. O que existe de diferente na arbitragem, o que é feito para estar sempre evoluindo mesmo nos piores momentos do basquetebol dentro do país ?
Karla Diniz – Acredito que o trabalho realizado pelo Geraldo Fontana é muito importante. Ele é o coordenador de arbitragem da CBB e ministra várias clínicas pelo país a fora, com apoio de patrocinadores oficias do basquetebol, como a Eletrobrás e consegue gerir de forma muito interessante a nossa arbitragem. Ele é comissário da FIBA e sempre organiza clínicas nos torneios que temos, mesmo os internacionais. Isso nos dá um grande suporte porque estamos sempre estudando a modalidade. Acredito que sem estas clínicas seria bem mais dificil a nossa evolução. Além de que, nestas clínicas podemos garimpar talentos para arbitragem.
Draft Brasil – Você citou a Copa América Feminina e os Jogos da Lusofonia, ambos este ano, como torneios internacionai que você apitou. Tivemos à uma semana atrás, a Liga Sulamericana, aqui em BH, com árbitros estrangeiros apitando. Existe muita diferença na arbitragem brasileira com a arbitragem estrangeira ? Principalmente a nossa para européia ou argentina ? E em qual nível está a arbitragem mundial ?
Karla Diniz – Acredito que não. Acho que não existem diferenças agudas. O critério que é algo importante. E nisso eu acredito na rigidez e no estudo das regras. O critério tem que ser mantido sempre para o jogo transcorrer bem. A arbitragem nacional é semelhante ao que vemos no resto do mundo.
Draft Brasil – E em qual nível está a arbitragem mundial ?
Karla Diniz – Acredito que um ótimo nível. Estamos em um nível que podemos ajudar no desenvolvimento da modalidae através da aplicação e estudo das regras.
Draft Brasil – Falamos um pouco das melhorias que podem ser feitas no nível estadual. Pode aprofundar um pouco mais ?
Karla Diniz – Posso. Acredito que com vídeos e estudos deles, podemos melhorar muito o nosso nível. Claro que isso requer investimentos, a gravação dos jogos, a edição. Porém é algo que podemos imaginar próximo de nós. Além disso, a idéia de um grupo de estudos que também pode vingar.. Isso em um nível estadual. São melhorias que podem ajudar ainda mais no desenvolvimento da arbitragem local. Claro, além das clínicas e do curso de arbitragem que são realizados.
Draft Brasil – Existem grandes diferenças ao apitar os jogos femininos e masculinos ?
Karla Diniz – Poucas. Acredito que tenhamos um pouco mais de contato nos jogos domasculino. Porém não vejo tantas diferenças cruciais. Acho que a velocidade é maior no jogo masculino mas também não é tão significativa. O importante é a boa aplicação das regras.
Draft Brasil – Para finalizar, qual principal objetivo à curto prazo ? E um conselho para quem está começando na carreira de ártibro ?
Karla Diniz – O principal objetivo é apitar o Mundial Feminino. Claro, fazer um bom Nacional Masculino, que está começando em novembro. E o principal conselho é gostar muito da profissão que escolhe e estudar bastante. Mas, é vital gostar, muito importante fazer o que gosta, sendo assim tem mais motivação para prosseguir melhorando na profissão.