Dr. Magnano e sua Criatura
Conhecem a história do Dr. Victor Frankenstein? Escrito pela britânica Mary Shelley, o romance relata como um jovem suíço, estudante de ciências naturais, consegue dar vida a uma criatura formada com partes de diferentes corpos humanos. Apesar de humanizado, o ser, que ficou conhecido pelo sobrenome de seu criador, causa horror na sociedade em que vive, já que é considerado um monstro. Depois desta introdução mórbida, seria justa uma comparação do trabalho que Ruben Magnano vem fazendo a frente da seleção para esta Copa América com o realizado pelo Dr.Victor? Afinal, o argentino configurou uma equipe até agora sem equilíbrio, confusa, assimétrica e que é vista de maneira não muito agradável, o que lembra muito o monstrengo fictício. Ou seria injusto colocar tudo na conta do técnico, pois os doze nomes que sobraram após os (muitos) pedidos de dispensa e os cortes, podem ser muito diferentes dos idealizados inicialmente por Magnano?
O ponto mais atacado é o excesso de “baixinhos” no time (e a falta de alas mais altos) o que causaria desequilíbrio na defesa e perda de agressividade no ataque. Não vejo esta questão somente pensando na altura. Na última semana, no amistoso em que a Espanha venceu a França (85 x 76), os espanhóis desgarraram no placar quando no último quarto usaram sua formação “baixinha” com José Calderon, Sergio Rodriguez e Sergio Llull. E não foi necessária nenhuma tática revolucionária, já que o trio só utilizou o que está escrito no manual do basquete: abusar das infiltrações, bagunçar o posicionamento da defesa francesa e achar o jogador melhor posicionado. Totalmente o oposto apresentado pelos jogadores do Brasil nos jogos de preparação: estáticos, só passando a bola para os também lentos homens de garrafão e sendo presa fácil para qualquer defesa minimamente organizada.
A convocação de Ruben, também aguçou um tipo de comportamento bipolar em quem acompanha a seleção. Houve reclamações da ausência de Murilo e Fúlvio, talvez os 2 jogadores que mais sofreram nos últimos tempos com o rótulo “só servem para nível doméstico”. Apareceram questionamentos sobre o corte pré-maturo de Léo Meindl, afirmando que ele poderia ser o ala que a seleção tanto precisa, porém suas estatísticas no campeonato paulista mostram um dado que chega até ser preocupante para a jovem revelação francana: Léo tenta por jogo, em média 11 arremessos de quadra, sendo 6,7 da linha dos 3 pontos, (acerta 2,8, aproveitamento de 42,5%), o que mostra que está atuando muito longe da cesta, ou seja, esta apresentando a mesma característica dos jogadores que permanecem na seleção.
Outros nomes, como o de Luis Gruber, Lucas Cipolini e Gui Deodato (que por que diabos está jogando a liga de desenvolvimento?) foram lembrados como possíveis soluções contra a pobreza ofensiva. Ok, até acho que Magnano poderia ter arriscado mais na convocação (já havia escrito algo sobre isso), mas agora se coloque no lugar do treinador (que é o sujeito que põe o pescoço a prêmio) e lembre-se do que tem acontecido com a maioria dos jogadores que atuam em território nacional quando jogam pela seleção. O histórico é mais de fracassos do que de êxitos. Até alguns que chegaram quase que como unanimidade (Vitor Benite e Rafael Hettsheimer) já começam a ser questionados.
Escrever sobre esta seleção que vai à Copa América é tão confuso quanto ela mesma. Se o basquete apresentado não é lá estas coisas, as convicções do treinador não são tão absurdas assim.
Na lenda do Dr. Frankenstein, a criatura depois de ganhar vida, não se cansa de atormentar seu criador. Que esta seleção não faça o mesmo com Magnano.
Suco de maracujá na veia: Geralmente encarado pela seleção brasileira de maneira protocolar, o torneio pré-mundial sempre gerou tensões microscópicas quando comparado ao seu equivalente pré-olímpico. Desde sua criação, em 1989, nunca se cogitou o Brasil, que é o atual bicampeão, fora das semifinais ou até mesmo do pódio. Pois bem, a partir da próxima 6ª feira, dia 30/08, a Copa América da Venezuela promete níveis de adrenalina elevados para aqueles que ainda teimam em acompanhar a seleção brasileira. Infelizmente, um cenário que sob a gestão de Ruben Magnano parecia superado – o de se preocupar com as seleções do continente que não fossem EUA e Argentina – pode voltar a assombrar nosso basquete.
Para apreciar: Com o caminhão de desfalques, o melhor para se ver será Luis Scola, provável MVP do torneio. Olho também no dominicano Karl Anthony Towns, de apenas 17 anos. Já acertado com Kentucky para esta temporada da NCAA, é considerado material de 1ª rodada do Draft da NBA (projetado como 6ª escolha pelo Draft Express e 10ª escolha pelo NBA Draft em 2015).