Draft Brasil entrevista José Neto, auxiliar de Moncho no Pré-Olímpico
Por email, o Draft Brasil falou Neto, auxiliar-técnico da seleção que vai disputar o Pré-Olímpico em Atenas nas próximas semanas.
O estilo de treinamento de Moncho Monsalve é diferente daquele normalmente praticado pelos técnicos brasileiros? Quais as principais diferenças?
Nos treinamentos, suas intervenções são constantes, pois gosta de detalhar cada ação do jogador. A execução tem que ser sempre “A EXECUÇÃO”, mas a preocupação maior não é O QUE fazer, mas COMO fazer e PRA QUE fazer. Ele gosta muito de trabalhar com conceitos de jogo, como por exemplo, ofensivamente, quando a bola chega no poste baixo que posicionamento os demais jogadores devem ter. Sem dúvida nenhuma é um grande conhecedor da modalidade. Também ofensivamente, Busca primeiramente, claro, o contra-ataque (vantagem numérica) e valoriza muito um ataque coletivo, mesmo sendo na transição. O jogo deve ser muito organizado, não só através de sistemas, pois hoje em dia os sistemas são fáceis de serem estudados, mas com conceitos que os sistemas utilizam.
De que maneira o novo sistema tem sido absorvido pelos atletas que se acostumaram com um estilo de jogo de menos valorização de posses e de jogo mais calcado em individualidade?
Posso dizer que não é um novo sistema de jogo, mas uma nova maneira de execução do mesmo. Nesta preparação todos os jogadores tiveram muita aceitação, pois muitos deles já utilizam esses conceitos em suas equipes na Espanha, Israel, Rússia e Letônia. Ficou bem claro que a individualidade deve ser utilizada, mas no momento certo. Os movimentos ofensivos foram preparados para que possam enfatizar essa individualidade dos jogadores. O que não deve prevalecer é o individualismo.
Em artigo em nosso site, fizemos um levantamento e apontamos como possíveis adversários nos cruzamentos para a vaga olímpica Alemanha e depois Croácia. Há algum tipo de estudo e preparação específico para essas duas equipes? E quanto aos adversários da primeira fase, a seleção já estuda Grécia e Líbano?
Conhecemos os adversários possíveis do torneio Pré-olímpico. Claro que o foco principal está sendo na preparação e formatação da nossa equipe, mas muitos conceitos defensivos que são utilizados em qualquer equipe mundial foram treinados a partir de partes de sistemas ofensivos que estes possíveis adversários utilizam. O jogo da Grécia, por exemplo, é muito recalcado no jogo de bloqueio na bola, e quando treinamos a defesa para esta situação, utilizamos parte de movimentos da Grécia. O Líbano também utiliza o bloqueio na bola, mas com outro objetivo, no entanto treinamos formas diferentes de marcar esta situação para dificultar o jogo do adversário. Ou seja, treinamos os nossos conceitos defensivos utilizando situações ofensivas dos adversários.
Nos dois amistosos contra a Venezuela, Jonathan Tavernari demonstrou peculiar desenvoltura para quem estava estreando na seleção brasileira. No Torneio Pré-Olímpico, a idéia é utilizá-lo ou Moncho Monsalve prefere utilizar os jogadores mais experientes?
O que está bem definido é que TODOS somos responsáveis por trazer a vaga olímpica. A experiência é um ingrediente que ajuda muito a atingir este objetivo, assim como o vigor físico de um jogador jovem, mas nenhum deles garante a vaga. O que garante é a utilização desses ingredientes em prol do grupo e é isso que estamos procurando. Os jogadores estão muito dispostos e receptíveis a isso. Portanto acredito que podemos ter sucesso.
A imprensa tem focado muito nos jogadores da NBA que não estão servindo a seleção brasileira, deixando de observar os demais jogadores. Na sua concepção, Tiago Splitter é hoje o melhor jogador brasileiro de basquete em atividade?
Em minha opinião, o Tiago Splitter tem lugar em qualquer equipe de basquetebol do mundo, pois é um jogador que além de grande habilidade nos movimentos de sua posição (pivô), joga com grande intensidade todos os momentos, ofensiva e defensivamente. Também em minha opinião, a NBA tem grandes astros, mas podemos ver um basquetebol fantástico em outras partes do mundo como que vemos na Euroliga por exemplo.
Neto, assistindo aos amistosos ficamos com a impressão de você ser o técnico de defesa da equipe. Existe isso? Você escolheu isso, ou o Moncho pediu? Qual a sua parcela de responsabilidade na variação defensiva da equipe? Deu pra botá-la em prática nos amistosos?
R- Estou muito contente em trabalhar nesta comissão técnica com o Moncho e o Diego Jeleilate que é um dos melhores preparadores físicos do Brasil. Todo o trabalho tático da equipe ofensiva e defensivamente é discutido entre eu e o Moncho. Ele é o técnico da equipe, a palavra final é sempre dele. Essa é uma hierarquia normal em qualquer equipe. Nos treinamentos um de nós observa mais o ataque e outro a defesa, para que possamos dar um retorno ao jogador de suas ações tanto ofensivas como defensivas. Nos amistosos contra a Venezuela, optamos em marcar individual os dois jogos, com exceção dos últimos minutos do segundo jogo, que mudamos para uma zona 2-3 em virtude disciplinar do jogo, que ficou muito “quente” naqueles instantes finais. Como era um jogo amistoso e já estava definida a vitória, pois a diferença era bastante ampla para nós, não queríamos correr riscos de ter um entrevero entre os jogadores. Enfim, não existe um técnico de defesa e um de ataque nesta equipe. Além de um excelente treinador, o Moncho é uma pessoa de grande caráter, que está 100% dedicado em trazer esta vaga olímpica para o Brasil. Como ele mesmo diz, seu país durante estes meses que aqui vai estar é o Brasil. Quero fazer o possível para ajudar a ele, e aos jogadores para que todos possam ver o basquete brasileiro em Pequim nos Jogos Olímpicos.
Foto: CBB