Draft Brasil entrevista Thelma Tavernari

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Publicado em: 10/06/2009

Hoje, o sobrenome Tavernari é conhecido para a maior parte dos basqueteiros em virtude de Jonathan, ala da seleção brasileira, de futuro promissor e que mantém sólida carreira universitária nos EUA (BYU). Contudo, para quem vive da modalidade, sobretudo para os jogadores formados no país, o sobrenome Tavernari se remete primeiramente à mãe de Jonathan, a Profª. Thelma Tavernari.

Pudera, Thelma é um dos principais nomes do basquete de base de São Paulo, estado responsável por revelar a esmagadora maioria de jogadores brasileiros. Ao todo são 24 títulos estaduais, conquistados entre as divisões Pré-Mini e Infanto. Somam-se, ainda, conquista internacionais, como 3 títulos do Torneio Alberto Rosselo, o último enfrentando o técnico campeão olímpico argentino Rubén Magnano, e 2 títulos do torneio sul-americano.

A idéia de entrevistá-la partiu de uma discussão alimentada em nosso artigo sobre a eliminação da seleção brasileira no Sul-Americano Sub16 e o trabalho de base no basquete brasileiro.

Confira abaixo a entrevista:

Draft Brasil: Aproximadamente quantos clubes brasileiros possuem condições de oferecer uma estrutura adequada para as categorias de base?

Thelma Tavernari: Os clubes que ainda trabalham com a base são os mesmos que trabalharam com os jogadores selecionados de outros tempos. Hoje estes clubes têm melhores estruturas, mas há falta de profissionais melhores capacitados.

Draft Brasil. O modelo de base do basquete brasileiro, onde as competições nacionais são disputadas por seleções estaduais e não por clubes é o ideal?
Thelma Tavernari: O ideal seria termos os dois, de seleções e de clubes, mas o custo? Hoje quase não existem patrocinadores no Adulto imagine então para a base.

Draft Brasil: Esse modelo não acentua de certa forma o individualismo, ao invés do desenvolvimento de uma filosofia de trabalho coletivo?
Thelma Tavernari: O individualismo de uma equipe acredito que seja a acomodação do profissional ou filosofia de trabalho, pois temos a NBA como exemplo.

Draft Brasil: Em São Paulo, os campeonatos estaduais de base são fortíssimos, de nível muito superior aos próprios “campeonatos nacionais”, mas e fora de são Paulo? É suficiente a bagagem de competições proporcionada aos garotos dos demais Estados?
Thelma Tavernari: Hoje São Paulo pode ter os campeonatos mais fortes, mas não os melhores formadores. Nesta Seleção Sub-17 só tínhamos 4 de São Paulo e os outros 8 de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Santa Catarina e, alguns até não jogando em clubes de seus estados de origem, ou jogando no exterior.

Draft Brasil: O presidente da LNB, Kourus Monadjemi, afirmou neste ano, que sonha em fazer um campeonato de base paralelo ao NBB nos próximos anos. O que você acha dessa proposta?
Thelma Tavernari: Temos que acreditar! Todo o amante do basquete tem o direito a esse sonho.

Draft Brasil: Diz-se que um bom time de base não é aquele que ganha títulos, mas sim aqueles que formam grandes jogadores. Até que ponto os técnicos da base no Brasil tem liberdade para deixar as vitórias para o segundo plano, principalmente nas seleções brasileiras de base?
Thelma Tavernari: Fora a crítica jornalística, a seleção brasileira Sub-17 foi sem dúvida a melhor e mais completa em todas as posições. Faltou preparo melhor, quais? Quem esteve presente e no comando poderá responder, eu não posso.

Draft Brasil: Na última convocação da “pré-seleção” brasileira adulta, chamou atenção o número de diversos jogadores jovens, com pouca bagagem no basquete profissional. A falta de bagagem desses jogadores não acaba forçando convocações prematuras para a seleção adulta, apenas para que o jogador finalmente “adquira experiência”?
Thelma Tavernari: Pré-seleção? Um misto de jogadores novos com atletas mais velhos sem experiência internacional.

Draft Brasil: Muita gente acha que se o armador Rafael Luz, destaque na Espanha, estivesse na Seleção Sub-17 o resultado no último Sul-Americano poderia ser diferente (o Brasil ficou fora da disputa pelo ouro ao perder do Uruguai). A que você atribui essa constante perda de jovens jogadores para o exterior?

Thelma Tavernari: Não sei, ele é um talento, mas o basquete é um esporte coletivo de ações individuais e não podemos ficar dependendo só do individualismo de um jogador. Prezo o coletivo. Os jogadores talentosos devem sim se aprimorar no exterior, terem contato com outra cultura de treinamentos e melhorarem sua formação educacional, mas no momento certo. O que se vê hoje é que, muitas vezes, o sonho de conquistar uma condição social e financeira familiar melhor, mas com má orientação, os pais deixam se levar por sonhos que se transformam em frustrações.

Draft Brasil: Os principais jogadores brasileiros do país hoje foram preparados ou pelo menos lapidados no exterior. É o caso de jogadores como Tiago Splitter, Leandrinho, Nenê e Anderson Varejão. O que acontece com jogadores que continuam no Brasil? Por que as últimas categorias de base no país não conseguem agregar muitas qualidades aos atletas?
Thelma Tavernari: O Tiago Splitter foi com 15/16 anos e sempre foi talento, só poderia evoluir na Espanha. Leandrinho, Varejão e Nenê foram formados aqui, foram sempre campeões e se aprimoraram no exterior, muitos que aqui continuam têm qualidade, mas o mercado internacional está desaquecido, há uma retração financeira mundial, os atletas da base, como falei, continuam aparecendo e os talentos, se orientados e preparados com determinação por profissionais capacitados, poderão ter seu lugar ao sol em outros países.

Draft Brasil: Você comentou que o trabalho de base no basquete brasileiro é bom até os 15 anos de idade. Quais as principais diferenças a partir desta idade?
Thelma Tavernari: Muitos atletas de potencial param por falta de estrutura familiar, precisam trabalhar para ajudar a família, outros não conseguem conciliar o esporte com a escola e optam, com inteligência, pelo estudo em ter uma formação profissional. Hoje a estrutura a partir das idades de 16; 17 e 18 anos é nenhuma, campeonatos curtos decididos em poucos dias.

Draft Brasil: Com 18 anos seu filho Jonatthan Tavernari, tomou uma decisão de deixar o basquete brasileiro em direção ao basquete universitário norte americano. Além da oportunidade de estudar enquanto joga, quais foram os benefícios “técnicos” dessa decisão?
Thelma Tavernari: Jonatthan sempre se mostrou talentoso e fanático como poucos no Brasil, palavras também de seu treinador. Na universidade treina muito antes, durante e depois da temporada quase sempre sozinho, é determinado e disciplinado. O que posso falar da saída do Jonatthan com 16 anos e meio é que esses 5 anos foram de uma trajetória de sucesso com a formação que ele teve aqui no VW Clube e E.C. Pinheiros.
Draft Brasil: Qual a sua expectativa sobre o novo comando da CBB? O presidente Carlos Nunes já apresentou algum projeto concreto para o basquete de base do país?
Thelma Tavernari: Toda mudança espera-se que seja para melhorar. A minha proposta é que os técnicos da base façam um encontro nacional com o apoio amplo da mídia, avaliarmos o que temos, o que podemos e o que devemos mudar, não ficarmos olhando só nossa capacidade individual e dividirmos experiências e idéias concretas dentro de nossa realidade e de um país com dimensões continentais.

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