Edwin Bancroft Henderson, o pioneiro

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Publicado em: 21/04/2013

Este é o primeiro texto da série O Negro no Basquete Americano

Neste ano de 2013, Oscar Schmidt entrou para o Hall da Fama do Naismith Memorial, talvez a mais prestigiosa homenagem do basquete mundial, no entanto, outro eleito passou quase despercebido para nós brasileiros: Edwin Bancroft Henderson. Ele foi simplesmente o primeiro negro a ter contato com o basquete e o introdutor da modalidade nas comunidades de afro-americanos dos EUA. Atualmente é inimaginável pensar em basquete sem mencionar Jordan, Magic Johnson, Bill Russell, Barkley, Wilt Chamberlain, Lebron James, David Robinson, entre muitos, mas muitos outros.

Henderson com a bola no time da YMCA. Foto: Reprodução

Henderson com a bola no time da YMCA. Foto: Reprodução

Edwin Henderson, natural de Washington e nascido em 1883, era afro-americano filho de mãe doméstica e pai trabalhador braçal. Graduou-se em 1904 no Miner Teachers College, em um curso de dois anos que formava professores para dar aulas em escolas para negros. É bom lembrar que em 1904 a segregação racial nos EUA estava em pleno vigor.  O período entre 1876 e 1965 ficou conhecido como a Era Jim Crow, em que leis segregacionistas estaduais e locais foram impostas no país, principalmente nos estados sulistas. Determinavam locais separados para negros e brancos em escolas públicas, transportes públicos, restaurantes, banheiros, bebedouros, exército e em qualquer outro espaço público. Em alguns estados era proibido, inclusive, o casamento entre brancos e negros. Essas leis tiveram profundo impacto nos esportes. No basquete praticamente não existia times com negros e brancos atuando juntos e times de negros raramente conseguiam participar das ligas mais importantes, exclusivas dos brancos (houve algumas poucas exceções, que comentarei em outra oportunidade).

Henderson, após a graduação, fez um curso de verão de Educação Física em Harvard (durou três verões, de 1905 a 1907), onde conheceu o basquete. Voltou para Washington e passou a dar aulas de ginástica em diversas escolas para negros. Foi nessas escolas que Henderson apresentou o novo esporte aos seus alunos.

Henderson, o terceiro na fileira de cima. Foto: Reprodução

Henderson, o terceiro na fileira de cima, durante o curso de Educação Física em Harvard. Foto: Reprodução

Além de introduzir o basquete para uma nova audiência e para potenciais novos jogadores, Henderson também queria jogar. Em Washington as ligas de basquete existentes na cidade eram todas para brancos, na cabeça de Henderson, para competir em alto nível, qualquer jogador teria que disputar uma dessas ligas. Em 1907, tentou uma aproximação com a YMCA¹ Branca (YMCA, também era segregada, havia a YMCA para brancos e a YMCA para negros), foi a um jogo do time, mas não pode sequer assistir a partida, sendo expulso do local.

Resolveu, então, fundar uma liga em que afro-americanos pudessem competir, em 1908 organizou um campeonato com oito times, compostos por jogadores de escolas, faculdades e clubes esportivos da cidade. Foi a primeira liga de basquete para negros dos EUA.

Sua iniciativa deu início ao surgimento de times de afro-americanos em outras localidades, como NY, Pittisburgh, Philadelphia, Newark e Baltimore. Ele ajudou a fundar a ISAA (Interscholastic Atlhletic Association), espécie de Conferência para atletas afro-americanos, o que permitiu a realização de jogos entre times de negros de diferentes cidades do Leste dos EUA.

Henderson, durante o período que atuou como jogador, defendeu o time da YMCA para negros, o Twelfth Street Colored Y.M.C.A, e ajudou a conquistar o título do campeonato nacional para negros de 1909-10. Posteriormente, como técnico, venceu o campeonato de 1911-12 do Colored Basketball World’s Championship.

Mas a atuação de Edwin Henderson extrapolou o mundo do basquete. Ele foi um dos líderes dos movimentos pelos direitos civis em Washington e um dos que se levantaram contra as leis de Jim Crow, praticamente 40 anos antes da década de 1950 (década em que as manifestações pelo fim da segregação racial se tornaram mais massivas). Em 1910 organizou uma campanha que conseguiu retirar uma restrição imposta pela representação local da “American Athletic Union” (em tradução livre, algo como Sindicato dos Atletas Americanos), que impedia jogos inter raciais (apesar da retirada da proibição, jogos inter raciais ainda eram pouco freqüentes). Em 1915, organizou a primeira filial rural da NAACP (National Association for Advancing of Colored People) em Faifax country, Virgínia, associação fundamental no combate às leis segregacionistas. Durante quase 50 anos ele escreveu mais de duas mil “Cartas para o Editor” para o jornal The Washington Star e outros veículos, criticando as leis de Jim Crow, a discriminação nos eventos esportivos e a restrição aos negros do acesso a lugares públicos.

Primeiro livro sbore o negro nos esportes foi escrito por Henderson em 1939. Foto: Reprodução

Primeiro livro sobre o negro nos esportes foi escrito por Henderson em 1939. Foto: Reprodução

Faleceu em 1977.

Ao longo de sua vida recebeu uma série de homenagens, mas é curioso que Henderson só foi eleito para o Hall da Fama do Naishmith Memorial neste ano de 2013. Um pouco tarde, mas não menos merecido.

A afirmação dos negros no basquete americano não foi feita sem luta, a história dos negros no basquete na primeira metade do século XX se confunde com as lutas pelos direitos civis. Pretendo discutir outros pontos e personagens em futuras postagens, aguardem!

NOTA:
1. A YMCA (Young Men’s Christian Association), conhecida no Brasil como ACM (Associação Cristã de Moços), foi importantíssima para a disseminação do basquete pelo mundo, o inventor do esporte, James Naismith era da YMCA. No Brasil, o basquete não chegou via ACM, mas, posteriormente, um dos seus principais divulgadores, Henry J. Sims, pertencia à ACM do RJ.

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