Entrevista Exclusiva: Alex Garcia
Confira a longa e exclusiva entrevista concedida pelo ala-armador da seleção Alex Garcia ao Draft Brasil. Alex fala sobre a NBA, seleção brasileira, Nenê, seus ídolos, o furacão Katrina e muito mais.
Após uma intensa cobertura na série de amistosos realizados pela seleção brasileira contra a Nova Zelândia, a equipe do Draft Brasil pôde tirar algumas conclusões a respeito desta seleção e de seus atuais jogadores. Uma delas, sem sobra de dúvidas, é a de que o ala-armador Alex Garcia é o jogador com uma das personalidades mais interessantes do grupo.
Um cara realmente bacana, um jogador muitíssimo atencioso com os fãs e com uma paciência fora do comum, além de ser um verdadeiro guerreiro dentro e fora das quadras. Em suma, um daqueles jogadores por quem realmente você tem vontade de torcer.
E uma das maiores jóias remanescentes da recente cobertura corpo a corpo realizada pelo Draft Brasil é justamente esse interessante bate-papo com o jogador, feito em duas partes.
Enquanto que o trecho inicial da entrevista foi realizado ainda em quadra, logo após o término da primeira partida contra a Nova Zelândia, a parte final foi realizada no hotel em que se hospedou a seleção brasileira em Brasília.
Isso porque, diante do forte assédio dos fãs vivenciado por Alex na capital federal, era absolutamente impossível perguntar qualquer coisa a Alex no ginásio da ASCEB. Mas foi o próprio jogador que gentilmente sugeriu a entrevista no hotel.
No hotel, o jogador ainda perdeu a carona de um apressado Nézinho, para cumprir a promessa e conceder-nos a entrevista no saguão do hotel.
Devo confessar que fiquei com lágrimas nos olhos enquanto que Alex, emocionado, falava sobre as contusões que o afastaram da NBA.
Conquanto fosse mais óbvio separarmos as perguntas por temas, preferimos mantê-las em sua ordem original, a fim de preservar a naturalidade da entrevista.
Primeiro trecho – Rio de Janeiro (Ginásio do Tijuca Tênis Clube) – Dia 23/07/2006
Draft Brasil: O que a ida à NBA acrescentou ao seu jogo?
Alex: Acho que é uma escola diferente de jogar basquete. Jogam basquete com uma intensidade bem maior do que se joga no Brasil. Então acho que aproveitei bastante, aprendi um pouco de inglês. Mas acho que o estilo de jogo deles eu trouxe um pouco pra cá, que já era um pouco parecido com o meu, a velocidade, a enterrada, o contra-ataque. Então acho que a adaptação minha foi fácil lá, só não tive muita sorte por causa da contusão.
Draft Brasil: Continua a sua expectativa em relação à NBA ou já é um passado?
Alex: Passado não, acho que a expectativa existe ainda. Acho que a princípio uma Europa é o objetivo pra voltar ao basquetebol internacional, jogar fora do país, uma Europa viria muito bem. Mas se pintar uma proposta legal da NBA…
Draft Brasil: O Mundial pra você é uma prova de afirmação, pra mostrar que pode jogar lá fora?
Alex: Sim, eu acho que tive dois anos fora, tem aquela dúvida ainda se estou bem novamente.
Draft Brasil: Você se sente bem?
Alex: Sim, eu estou bem, eu me sinto bem, Estou à vontade, dou pique, não sinto contusão nenhuma. No treino, não sinto nada. Mas acho que, além de ajudar a seleção tenho que provar que estou beleza, que tenho condição de voltar a jogar fora do país e esse é o meu objetivo.
Draft Brasil: Você sabe que é a melhor arma de defesa da seleção brasileira?
Alex: A característica do Guilherme e do Marcelinho, que começam a partida, embora eles marquem, não é especificamente de defesa. Eles são mais de ataque, fazem mais pontos. Já o meu jeito de jogar é a defesa, é defender. Quando eu defendo me sinto bem, vou pro ataque solto. Quando eu defendo mal eu vou pro ataque e eu fico emburrado. Então acho que, primeiro eu defendo pra depois atacar.
Draft Brasil: E quem é o seu ídolo, Alex?
Alex: Scottie Pippen.
Draft Brasil: E atual na NBA?
Alex: Hoje o cara da defesa que eu gosto muito e joguei junto é o Bruce Bowen. Eu ficava analisando o jeito dele, as vezes pedia fita, o DVD que eles ganhavam pra ver como estavam jogando. Eu pedia o dele pra poder analisar pra poder fazer igual, porque pra mim ele está entre os cinco melhores defensores do mundo.
Draft Brasil: E você tenta trabalhar a defesa de seus outros companheiros de time que, como você disse, não são tão especialistas nisso como você?
Alex: A gente conversa pra um passar as coisas boas pro outro. O Leandrinho traz da NBA o que ele aprendeu no Phoenix Suns, o Varejão também, o pessoal da Europa traz. Isso forma uma coisa legal, todo mundo aprende um pouco com cada um.
Draft Brasil: Você deu mais algum toco no Tim Duncan nos treinos?
Alex: Só aquele só!(risos)
Draft Brasil: Mas aquele já basta?
Alex: Ah…já basta!
Segundo trecho – Brasília (Saguão do Grand Bittar Hotel) – Dia 25/07/2006
Draft Brasil: Alex, com Tony Parker machucado no início da temporada 2003/04, você parecia estar diante de uma ótima oportunidade. Conte-nos como foi a frustração após a sua contusão.
Alex: Depois da contusão do Tony Parker, a gente ainda teve a contusão do segundo armador, o Anthony Parker, que havia se machucado. E eu senti que aquela era a minha oportunidade, eu estava fazendo uns jogos da pré-temporada, eu estava indo bem, só que por uma infelicidade em um lance de rebote, acabei caindo com o pé errado, torci o tornozelo e quebrei um osso do pé. Foi uma situação muito chata para mim. Não chata, mas eu fiquei chateado pela oportunidade que eu tive. Num momento desses, eu tinha tudo para crescer dentro do time e dentro da NBA. Um sonho meu, e acabei vendo ir embora essa oportunidade minha num lance que é normal de jogo, mas foi uma pena…
Draft Brasil: Como você recebeu a notícia do furacão Katrina, que arrasou New Orleans, pouco tempo depois de você deixar o time da cidade?
Alex: Fiquei assustado por estar olhando na televisão as ruas que estavam do lado da minha casa, o hospital que era do lado de onde eu morava, tudo debaixo d’água. Fiquei assustado, mas aliviado por saber que a minha família não estava mais.
Draft Brasil: Você chegou a conversar com o pessoal do time?
Alex: Não, não. O pessoal me mandava email. O técnico e alguns outros que acompanhavam o time me mandaram email para dizer que estava tudo legal com eles, apesar de estar tudo debaixo d’água, mas mesmo assim eu fiquei assustado, pois as ruas em que eu passava diariamente, passeava com a minha esposa e a minha filha e vendo tudo debaixo d’água.
Draft Brasil: Quando você atuava pelo San Antonio Spurs você chegou a enfrentar o Denver Nuggets. Foi legal poder encontrar o Nenê? Vocês chegaram a fazer alguma coisa juntos após aquela partida?
Alex: Não, após a partida não. Mas um dia antes, eu fui jantar na casa dele e aquela foi a primeira oportunidade de eu jogar alguns minutos da temporada regular. E foi a primeira vez que brasileiros se enfrentaram na NBA.
Draft Brasil: Depois você teve a oportunidade de enfrentar o Leandrinho, mas ele tava machucado…
Alex: No meu segundo ano, pelo New Orleans, eu tive oportunidade de jogar contra o Phoenix Suns, time do Leandrinho, mas ele não estava jogando. Mas foi legal, foi uma experiência legal enfrentar o time de outro grande brasileiro na NBA.
Draft Brasil: Você ficou chateado com a decisão do Nenê de não participar do Campeonato Mundial?
Alex: Eu acho que cada um tem os seus motivos, cada um tem os seus problemas particulares, profissionais também. Mas a gente fica chateado, porque o Nenê é um grande jogador, é um jogador de respeito internacionalmente. Todo mundo conhece ele, e seria de grande ajuda para a gente. Mas se ele tem os problemas particulares dele, a gente tem que respeitar. Mas faltou um pouco de vontade sim.
Draft Brasil: Você defendeu o COC/Ribeirão Preto por vários anos de sua carreira. Como você avalia a extinção dessa grande equipe e o momento atual do basquete brasileiro?
Alex: O que aconteceu com o COC está relacionado ao momento do nosso basquete. Esse problema todo que aconteceu no campeonato, e que acabou impedindo o COC de atingir o bicampeonato, contribuiu para que a equipe acabasse.
Draft Brasil: Você considera a seleção brasileira de hoje bem balanceada entre ataque e defesa? Se você pudesse comparar com uma equipe da NBA, estaria mais para o Detroit Pistons, ou para o Phoenix Suns. (O que o Brasil deve fazer para jogar mais no estilo Detroit Pistons?).
Alex: Mais para o Phoenix Suns. A nossa equipe possui um estilo mais ofensivo, mas nós também temos opções de defesa. Quando entram o Marcelinho Huertas ou o Nezinho e eu, o time fica mais forte na marcação. Não que o Guilherme e o Marcelinho não sejam bons na defesa, mas eles possuem um estilo mais ofensivo. São estilos de jogos diferentes e que trazem mais opções para a seleção.
*O Artigo inicial foi escrito por Alfredo Lauria.
*No Rio de Janeiro, Alex foi entrevistado por Alfredo Lauria e Fábio Balassiano, enquanto que em Brasília, apenas pelo primeiro.
**As fotos deste artigo foram tiradas por Alfredo Lauria, Junior Passini e Guilherme Aton e, posteriormente, editadas.