Entrevista exclusiva: Juan Manuel Fernandez, o futuro da armação argentina

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Publicado em: 15/03/2010

A geração dourada argentina é, sem dúvida nenhuma, um dos maiores feitos da história do basquete latinoamericano, se não o maior. A chegada de Ruben Magnano para o comando da seleção brasileira neste ano mostra que,  salvo raras e estúpidas exceções, o respeito e até a admiração pela turma de Ginóbili, Scola e companhia supera com louvor a rivalidade, tão comum em casos que envolvem estes dois países. Uma dúvida porém sempre vem ao debate por quem admira o basquete praticado pelos vizinhos:  eles tem futuro? É uma pergunta perfeitamente cabível, ao notar o envelhecimento dos gênios Ginóbili, Oberto, Nocioni (e em um futuro um pouco distante, de Scola e Prigioni) – isso para não falar de quem já não está na seleção há algum tempo, como   Pepe Sanchez, Montecchia e Sconochini.

Pois o nosso entrevistado surge como um dos principais nomes da seleção argentina para os próximos anos. Filho do antigo armador Gustavo Fernandez, com grande história na liga argentina, mas sem muito espaço na seleção em função da absurda concorrência de sua geração na posição 1 (Montecchia, Pepe, Facundo!), Juan é o armador da Universidade de Temple, que conquistou ontem o Torneio da Atlantic-10 e segue muito bem chaveada para o March Madness que começa esta semana- eles enfrentam Cornell, na sexta-feira, pelo primeiro round. Perguntei ao treinador Magnano sobre Juancito que prontamente me respondeu: “Creio que Juan assegura o futuro da posição 1 para a Argentina. O importante é que ele soube e sabe qual o caminho a seguir para ser um jogador muito bom. Acho que os ensinamentos de seu pai têm muito a ver com isso”. Há algumas semanas, falei com o armador do MTC Facundo Sucatzky sobre Juan. Ele pareceu também empolgado com o menino e ainda lembrou: “Ele está em Temple, é a mesma universidade de Pepe Sánchez. E tem apenas 18 aninhos!”.

Juan Fernandez foi um dos principais jogadores argentinos na boa campanha no Mundial sub19 recentemente disputado na Nova Zelândia. Depois de um ano interessante como calouro nos EUA, foi convocado por Sergio Hernandez para a seleção principal, quando esteve inclusive no Rio de Janeiro para torneio amistoso.De volta à Temple,  agora como segundanista, se tornou uma das principais armas da grande campanha dos Owls. A universidade, que fica na Philadelphia, figurou no ranking ao longo da temporada, tem em Juancito sua principal arma para o March Madness. O armador, que durante a época regular teve boas aparições , emergiu como um autêntico “copero y peleador” nos playoffs da A-10, lidererando seu time e o conduzindo na tarde de ontem ao título de MVP da mediana Conferência da NCAA.

Em nossa entrevista, o simpático e atencioso Juancito falou sobre a vida nos EUA, o March Madness, a seleção argentina, a constante comparação com Pepe Sanchez, entre outras coisas. Vale a pena ler o papo!

Você sabe que não há muitos argentinos na história da NCAA. Mas há um que sempre que falamos de você, nos lembramos dele: Pepe Sanchez. Você usa a camisa numero 4 como uma homenagem a ele? Você considera o seu jogo parecido com o dele?

Penso que a comparação acontece pelo fato dos dois serem argentinos e jogarem de armadores. Na verdade, a camisa numero 4 uso em homenagem a meu pai, que usava esse numero de camiseta quando era jogador. Na minha opinião, meu jogo é diferente do de Pepe em alguns aspectos. Ele era muito melhor defensor do que eu sou, e a mim me agrada mais atacar a cesta do que ele fazia.

Muito se fala do futuro da seleção argentina depois que Manu, Oberto e Nocioni deixarem a equipe. Sabemos que ainda há Delfino, Scola e talvez Prigioni pelos próximos anos. Mas e a respeito dos jovens? Na sua opinião, você, Nocedal, Lisandro e Luciano podem conseguir produzir algo como os atuais jogadores conseguiram?

É muito dificil comparar a nossa geração com essa geração de ouro. Espero poder jogar na seleção com esses jogadores que você citou, mas acho que ainda é muito cedo para falar em perspectivas desse tipo. Mas espero sim poder jogar e repetir os sucessos da seleção atual.

Em algumas da ultimas competições internacionais das categorias de base, a Argentina conseguiu derrotar a Espanha e os EUA, maiores potências do basquete profissional mundial hoje. Quando enfrentam o Brasil, quase sempre os argentinos conseguem sair vitoriosos com certa tranquilidade. Na sua opinião, entre as categorias de base, quem são as principais potências do mundo atualmente?

A julgar pelo que pude acompanhar no ultimo mundial juvenil disputado na Nova Zelandia, EUA, Croácia, Grécia e Austrália foram os melhores sem dúvidas. Depois deles existem algumas outras seleções que se equivalem em força, mas como disse, pelo último campeonato, as quatro que citei estavam acima das demais, não só pelo jogo coletivo, como também em talentos individuais.

Vamos falar agora da NCAA. Muitos jovens argentinos preferem seguir para a Europa em vez de irem para os EUA. Para você não importa passar quatro anos sem ganhar dinheiro na NCAA?

Acho que talvez a maioria prefiro a Europa pelo fato de haver mais informação, conhecimento e experiências de muitos outros jogadores na Europa. Na NCAA ainda existe pouca informação de como as coisas se dão por aqui. Para vir pra cá também existe o fato de que não é preciso apenas jogar basquete, também é necessário estudar e muitos jogadores não querem seguir esse caminho. Some a isso também o fato de não receber salários, como você citou. Na Europa você já chega com um contrato assinado e dinheiro envolvido. Para mim pesou o fato de considerar essa uma experiência e uma oportunidade única, penso que é o melhor caminho para a transição de jogador jovem para profissional.

Já sabemos que Temple é uma grande força na A-10, mas agora todos querem ver vocês contra os melhores, durante o March Madness. Como você acha que será esse mês? Quais são as suas expectativas para a competição?

Já conhecemos nosso primeiro rival no torneio, é algo impressionante o que acontece aqui nos EUA durante essa competição, o envolvimento do público e da mídia no país todo. Da minha parte, só espero que possamos jogar bem e avançar o máximo possível no torneio, para representar bem Temple e deixar a universidade em uma boa posição de destaque.

Temple jogou muito mal contra Kansas e muito bem contra Villanova. Qual foi a diferença de postura em relação a esses dois jogos? E na sua opinião, John Wall é mesmo o melhor prospect americano na atual temporada?

Por serem partidas diferentes, tratamos com diferentes estilos para cada equipe. Algumas vezes também dentro da partida, é preciso mudar o rumo para um jeito ou outro. Funcionou bem contra Villanova e não contra Kansas. A respeito de Wall, sem dúvida é o melhor jogador da NCAA na atualidade e deve ser a primeira escolha do draft.

Juan, poderia nos falar um pouco do seu dia a dia?

Geralmente as aulas são na parte da manhã. Depois há um pequeno tempo livre até os treinos, que geralmente começam por volta das duas e meia da tarde. O restante do tempo é livre, nele eu procuro estudar se tenho algo para estudar, ou simplesmente relaxar e ficar com os amigos que tenho por aqui.

Creio que sabe que Ruben Magnano é o novo treinador da seleção brasileira. Você acha que a nossa seleção com Nenê, Leandrinho, Varejão, Splitter… pode fazer algo parecido com o que a geração argentina fez, com Magnano no comando?

Magnano é um excelente treinador, sem dúvida um dos melhores. Na minha opinião, como os jogadores talentosos que o Brasil possui, vão formar uma grande seleção, um grande grupo e um grande time. Pude ver na competição em Porto Rico, com Moncho Monsalve, que já jogaram um estilo diferente de basquete. Agora com Magnano, creio que vão consolidar de vez esse novo estilo e terão muito sucesso.

Dentro do basquete e nos outros esportes em geral, quem são seus principais ídolos? E fora do esporte?

Sem dúvidas no mundo do basquete, meu grande ídolo sempre será meu pai. Ele me ensinou tudo e sempre estava do meu lado quando algo importante aconteceu. Além dele, procuro seguir grandes jogadores como Pepe Sanchez e Steve Nash, por terem grande destaque na posição que eu escolhi pra jogar. Fora do basquete não tenho nenhum grande ídolo. Talvez algumas pessoas que admiro por alguns ideais que defendem.

Para finalizar, gostaria de saber se já pensou como serão os jogos olímpicos no Rio em 2016. Sabemos que você tem grandes chances de ser o armador titular da seleção argentina em 2016. Já pensou a respeito de poder disputar jogos olímpicos tão perto de casa e fazer parte da história dos primeiros jogos disputados na América do Sul?

Seria muito importante para mim estar com a seleção nessa competição, exatamente pela possibilidade de estar tão perto da Argentina e a chance de muita gente poder torcer para nossa equipe, inclusive meus familiares poderem estar presentes. Com certeza espero ter a chance de fazer parte disso, mas ainda falta muito tempo e procuro sempre estar focado no presente e ir pensando no futuro conforme ele vai se aproximando.

Fotos:  Owl Sports, AP/Yahoo e FIBA.

Texto e entrevista: Guilherme Tadeu de Paula

Colaborou: Diego Silvestrini

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