Entrevista Exclusiva: Marcelinho Machado

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Publicado em: 7/02/2006

O nosso colunista, Fábio Balassiano entrevistou com exclusividade o ala-armador Marcelinho Machado, apontado por muitos como um dos maiores símbolos desta geração da seleção brasileira que fracassou nos últimos torneios importante.

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Marcelo Magalhães Machado, o Marcelinho, é um dos jogadores mais criticados pela imprensa e pelos torcedores brasileiros. É chamado de “atiradeira”, em referência aos tiros de três pontos, maior arma do atleta de 31 anos, mesmo esquecendo que as médias sempre se mantiveram na faixa dos oito arremessos por partida. Por telefone, o ala atendeu, com exclusividade, o Draft Brasil e conversou a respeito da campanha no Mundial do Japão.

Draft Brasil: Você já conseguiu assimilar o que aconteceu no Mundial?

Marcelinho: Ainda estou muito triste, como não poderia deixar de ser. Sabíamos que tínhamos uma seleção forte, com ótimos jogadores, e é por isso que estamos nos lamentando tanto. Em 2002, o oitavo lugar foi até certo ponto condizente com o elenco que possuíamos. Agora havia condição de irmos melhor, mas não foi o que aconteceu. E é por isso que há essa comoção no meio, essa incompreensão. Porque a capacidade técnica deste grupo é inquestionável.

Draft Brasil: E quais os fatores que levaram a seleção a falhar?

Marcelinho: Na minha opinião, a estréia ruim que tivemos, contra a Austrália, e o grupo forte foram as maiores causas da nossa desclassificação.

Draft Brasil: Você, que já atuou no basquete europeu, não acredita que tenha faltado maior capacitação nos treinamentos?

Marcelinho: Não acredito nisso, sinceramente. Se isso fosse verdade não teríamos chegado perto em todos os jogos, apresentando um bom nível na maioria deles. Não acho que os treinos tenham sido ruins, mas seleção é momento também, e talvez não estivéssemos no nosso melhor. Nenhum jogador conseguiu render o que se esperava dele.

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Draft Brasil: Por quê isso aconteceu?

Marcelinho: A verdade é que não soubemos ganhar. A derrota contra a Austrália abalou o grupo, e não soubemos nos recuperar corretamente. Chegamos com os jogos apertados, mas perdemos. E quando perde, o grupo inteiro é culpado, da comissão técnica a Confederação. O fracasso é do basquete brasileiro.

Draft Brasil: Muita gente critica você e seus tiros de três pontos. Chamam-lhe de culpado por uma série de derrotas do basquete brasileiro desde 2002. Como você enxerga isso?

Marcelinho: A verdade é que pouca gente entende realmente de basquete. Não existe uma mídia especializada, que acompanha o esporte e o estuda profundamente. Honestamente, não ouço críticas de quem não entende, de quem não procura se atualizar. Por isso não concordo com essa crítica. Meu volume de três pontos sempre foi de 10 arremessos por jogo em clubes e um pouco menos na seleção (no mundial e nos amistosos foram 8 por partida). O insucesso deve ser dividido por todos. E ainda complemento: em 2002 eu ainda arremessava mais, hoje em dia a bola é mais bem distribuída na seleção.

Draft Brasil: Mas como você analisa o seu rendimento individual?

Marcelinho: Acho que rendi abaixo do que eu poderia. Todos foram assim. O Leandrinho, por exemplo, estava cercado de muita expectativa, e não produziu também. Sei que não sou um jogador completo, mas, para aqueles que me criticam por arremessar muito, acredito que se os meus companheiros passam a bola para mim, é porque eu possuo alguma capacidade e a confiança deles.

Draft Brasil: Você concorda que alguns de seus 43 arremessos longos foram precipitados? Se sim, houve alguma conversa da comissão técnica ou treinamento para mudar a situação?

Marcelinho: Concordo sim, alguns foram em horas equivocadas. E não, não houve nenhuma conversa e treinamento tático a respeito disso. No máximo, quando assistíamos aos vídeos o Lula e sua comissão técnica apontavam os lances errados.

Draft Brasil: Você acha que os erros podem ser corrigidos através de sessões de vídeos?

Marcelinho: Não, mas houve pouco tempo de treinamento, né. Foram muitos amistosos, quase todos sem tempo de recuperação recomendável. Tudo isso influencia. É difícil treinar durante o Mundial, pois os jogos são praticamente diários. Talvez tenha faltado coordenação maior.

Draft Brasil: Membros da comissão técnica atribuíram o insucesso ao fator sorte. Você acredita em ‘sorte’?

Marcelinho: Não (veemente). Sorte é a combinação de oportunidade, trabalho e talento.

Draft Brasil: Segundo o técnico Lula Ferreira, o Brasil possui elenco mais qualificado que todas as seleções do grupo com exceção de Grécia e Lituânia. Por que não deu certo então?

Marcelinho: Não concordo que tenhamos mais elenco que os demais adversários. O nível, em geral, está muito parecido. Perdemos porque o nosso momento técnico não foi bom. Jogar bem em clube não significa que dará certo na seleção. São circunstâncias diferentes. Faltou render mesmo, essa é a explicação. Perdemos todos os jogos por pequenas margens, nenhum por grande diferença.

Draft Brasil: Você falou em fase, mas Leandrinho teve uma temporada brilhante no Phoenix. Varejão ganhou espaço no Cleveland. Tiago foi titular e finalista espanhol no Tau. Guilherme atuou na Ucrânia. A fase não era favorável?

Marcelinho: Insisto que jogar em clube e seleção é diferente. Todos temos que estar encaixados no mesmo esquema. Existem anos que as coisas correm melhor.

Draft Brasil: Desde o Pré-Olímpico foram sete jogos e derrotas por diferenças menores que seis pontos. Como vencer estes confrontos e alcançar o tão sonhado “salto de qualidade”?

Marcelinho: Não sei te dar essa resposta. Jogamos e perdemos os jogos, isso é um ponto terrível. Acredito que a partida contra a Austrália tenha pesado mais do que deveria. Talvez tenhamos jogado 30, 35 minutos de todas as partidas de uma maneira ordeira e correta, e no final mudamos o estilo de jogo.

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Draft Brasil: Você acredita realmente que os lances-livres decretaram a eliminação do Brasil?

Marcelinho: Não, definitivamente não. Os lances-livres te ajudam a vencer os jogos, mas temos o jogo inteiro para ganhá-lo ou perdê-lo também. Lógico que o índice, baixo, pesa bastante, mas há outras variantes mais importantes que nos fizeram perder.

Draft Brasil: No circuito de base, você e Ginobili protagonizaram bons momentos, bons duelos. Você acredita que a administração da CBB tenha influenciado na trajetória que cada um seguiu?

Marcelinho: Honestamente não acredito nisso. Para mim, o maior fator é a facilidade que os argentinos têm pelo passaporte europeu. Quando atuei pela primeira vez na Itália, fui como estrangeiro, não como comunitário. Isso pesa, pesa muito. O Manu jogou anos na Itália, pôde aprender lá, evoluir e, aliado ao seu talento extraordinário, chegar às conquistas conhecidas.

Draft Brasil: E você acha que ainda pode evoluir? Em quais fundamentos? Você se arrepende de não ter treinado mais em alguma característica de seu jogo?

Marcelinho: Tento sempre melhorar, me aprimorar. A defesa não é minha principal força, e é nela que tenho tentado melhorar bastante. Com relação ao passado, não me arrependo de nada.

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Draft Brasil: Existe a possibilidade de você abandonar a seleção depois dessa campanha no Mundial?

Marcelinho: Não consigo lhe responder essa pergunta. Preciso conversar com minha família e meus amigos, mas não devo renunciar, principalmente porque o Pan-americano será jogado no Rio de Janeiro, minha cidade natal.

Entrevista realizada por Fábio Balassiano, colunista do Draft Brasil Envie os seus comentários para: balassianof@hotmail.com

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