Entrevista – João Fernando Rossi
O blog do Draft Brasil entrevistou João Fernando Rossi, diretor de esportes do Pinheiros e vice-presidente da LNB. Dentre outros assuntos, Rossi falou sobre o processo de reestruturação e as dificuldades que a equipe pinheirense enfrentou na última temporada, a superação no título da Liga das Américas e suas expectativas para o Mundial de Clubes da FIBA e o NBB. Confira abaixo a entrevista exclusiva:
Draft Brasil: Para começar, na “calmaria” deste início de temporada você tem conseguido aproveitar o tempo com a família, já que vem por aí “tempestade” com a correria e as complicações decorrentes de um ano tão importante para o Pinheiros?
J.F. Rossi: Na verdade, quando tomo essas decisões de trabalhar com voluntariado no esporte, compartilho a decisão com minha família. Pois procuro ser intenso em tudo que me proponho a fazer. Tanto como Diretor de Esportes do E.C. Pinheiros e Vice Presidente da LNB são trabalhos de voluntariado. As regras são claras na partida com a família, porém o segredo é ter bom senso. Quando tenho este tipo de cargo, procuro ficar na estratégia, deixando o tático operacional para os funcionários das entidades, que realmente fazem acontecer.
DB: Como foi ter que remontar boa parte do elenco “no estouro do cronômetro” (usando uma gíria do basquete), com as saídas inesperadas de Figueroa, Marquinhos e Olivinha na temporada passada?
JFR: Realmente perdemos esses 3 jogadores, porem tínhamos também a lesão de “LC” do Fiorotto, tendão de Aquiles do Shammell e ruptura abdominal do Morro. Foram 6 jogadores estratégicos que retiramos do planejamento da temporada, e com isso pudemos definir os novos atletas para temporada. Foi o momento mais difícil que passei no esporte, tínhamos que remontar e ser campeões, pois todos desconfiavam e com razão da nossa performance na temporada. Nossas contratações foram pontuais, estudadas ao extremo levando em conta, experiência, parte técnica e fator financeiro, pois não tínhamos reservas financeiras com 3 jogadores lesionados.
DB: Em relação aos acertos, você pode se considerar vitorioso juntamente com o grupo após a maratona de jogos, de desfalques importantes e da superação envolvida durante a última temporada?
JFR: Uma temporada como a nossa, é completamente diferente de uma temporada de clubes que não jogam o calendário Internacional e o Paulista de basquete. A temporada passada chegamos no limite do ser humano no basquete. Jogamos 4 campeonatos com viagens para México, Equador, Argentina, Puerto Rico e Brasil. Jogamos mais de 80 jogos, chegando a jogar 3 campeonatos simultâneos com 3 bolas diferentes sem direito a treino na mesma semana. O Pinheiros/SKY, esteve participando de decisões o ano todo, decisão no exterior para classificar próxima fase Sul Americano, decisão do Paulista, decisão LDA, decisão NBB em playoffs. Não existe esportista que aguente esta carga emocional, física e técnica. Jogadores não são máquinas, necessitam de respeito dos organizadores.
Fomos super vitoriosos. Olhar para trás e ver o que fizemos com 15 homens solitários e desacreditados por todos, é como expedicionar o Polo Sul nos anos 20. Foi uma aventura e tanto com um grande final feliz. Tenho o maior orgulho de todos que participarão da temporada passada.
DB: Sobre o troféu mais importante dos últimos anos para o basquete do Pinheiros. Em que momento vocês sentiram que dava para chegar ao título da Liga das Américas? E qual foi a sensação depois da conquista?
JFR: Vou ser sincero, tudo que o Pinheiros conquistou era questão de tempo. Tinha muita paixão envolvida. Tinha muita determinação. Tinha muita competência dos envolvidos.
Alguns poucos sabem, que quando iniciamos nosso projeto no basquete, o objetivo final era disputar o Mundial de Clubes. O Cláudio Mortari estar no Pinheiros, nunca foi por acaso. Tem 5 Mundiais de Clube e um título de Campeão, inúmeros títulos Nacionais e Internacionais, experiência em olimpíadas, Seleção Brasileira e administrar grandes atletas.
Tanto ele como os jogadores na época, sabiam que o objetivo final era ser Campeão do Mundo. A curiosidade é essa, quando assumi o Pinheiros, nosso time estava arrendado para o São Caetano. Assim que retomamos o controle do time, reuni os jogadores na sala, sem dinheiro e disse que queria ser campeão do mundo…Metade foi embora. Ficando na sala, Paulinho Boracini, Bruno Mortari, Morro, Gustavinho. Logo em seguida chegou o Marquinhos e o Olivinha, todos sabedores do objetivo na hora da contratação.
DB: Pode-se dizer que o Torneio Intercontinental da FIBA foi uma das suas maiores realizações em todos estes anos no basquete?
JFR: Podemos dividir o sonho de realizações em 2 partes: o Pinheiros que é uma realização real e o basquete brasileiro que é um objetivo a realizar um dia.
1) Pinheiros:
O Mundial de Clubes, a Copa Intercontinental, foi o grande objetivo estipulado desde o início do projeto, esta era a meta. Chegar nela, foi muito mais difícil que imaginava, sofremos demais, é muito dolorido, muitos tentaram e muito poucos conseguiram, portanto é a maior realização sim do nosso projeto. Disputar um Mundial de Clubes, é escrever a história do basquete brasileiro e a história do esporte dentro do Pinheiros. Lembrando que somos um clube com uma pequena torcida, um clube social esportivo, que não pode contar com apoio e pressão que ajudam os outros clubes. Às vezes fico imaginando, se fossemos um clube com torcida o estrago que faríamos. Trabalhamos muito fora da quadra para que acontecesse a Copa Intercontinental, que será nos dias 4 e 6 de outubro na Arena Barueri.
Iremos representar o Brasil, no maior evento do mundo FIBA para clubes, e ver o Pinheiros/SKY jogar contra o Olympiacos nesta final no Brasil, é poder dizer a todos que através de muito trabalho o sonho vira realidade.
2) Basquete Brasileiro:
Gostaria de ver todos os estados brasileiros fazendo basquete na escola, gostaria de ver todas as federações motivadas fazendo basquete, gostaria que a Seleção Brasileira fosse agente direta da massificação do basquete em todo território brasileiro, gostaria de abocanhar um grande pedaço da mídia, dos investimentos financeiros que hoje estão no futebol.
Gostaria de comandar a conquista da medalha de Ouro em uma Olimpíada pelo Brasil, esta seria a maior de todas realizações. Impossível? Será? A resposta já sei, “metade sairá da sala e a outra ficara…”
DB: Por falar no Mundial de Clubes, qual sua expectativa para o evento em geral, em relação à organização, à participação da FIBA e de todo o apelo gigantesco atrelado a competição?
JFR: A minha expectativa é de fazer o melhor entretenimento esportivo da história do basquete brasileiro, sinalizando para a comunidade internacional que a retomada do basquete brasileiro é uma realidade. FIBA é muito exigente e muito organizada. O Mundial será transmitido ao vivo para toda a América Latina e mais de 50 países da Europa e Ásia. A LNB e o Pinheiros estão dando todo o suporte para o evento, e sem essas instituições extremamente sérias, organizadas, e apaixonadas por esporte, seria muito difícil a realização do evento em tão pouco tempo. Dividimos os grupos de trabalho em logística, comunicação, Marketing e estamos a todo vapor. Neste evento estamos contando com o apoio do FIBA, Euroleague, FIBA Americas, Ministério do Esporte, Governo Estado de São Paulo, Prefeitura de Barueri, CBB, Liga Nacional de Basquete (LNB), Esporte Clube Pinheiros, SKY, ou seja, nosso evento é de muita responsabilidade dentro e fora da quadra.
DB: Qual sua expectativa técnica, ao enfrentar o Olympiacos, atual campeão da Euroliga, o maior torneio de clubes depois da NBA?
JFR: Sei bem o que representa o Olympiacos no cenário mundial, sei bem a grandeza da Euroliga. Não tem o que discutir que estão vários degraus acima do basquete brasileiro. Em organização, em qualidade técnica, em poder financeiro.
Iremos enfrentar o Olympiacos de forma igual para igual, 5 contra 5, e com a mesma paixão que nos trouxe até aqui. Vamos entrar não para participar e sim para sermos campeões, e se formos campeões já desafio o Miami Heat para saber que é o melhor (risos).
DB: Falando de NBB agora. Te deixa um pouco frustrado, o fato do Fluminense ter encontrado tanta dificuldade na montagem de elenco, no fechamento de patrocínios e de ter sido colocado em xeque a participação do time na liga?
JFR: Me deixou muito frustrado, pois o Fluminense fez de tudo para entrar, investiu na Copa Brasil, e depois solicitou o convite. O Fluminense iria ajudar muito na promoção e a popularizar o basquete, como faz hoje o Flamengo e o Palmeiras. Acho que o convite foi correto, mediante as condições e garantias que o Fluminense apresentou no dia da apresentação do projeto. Aqui vale ressaltar a seriedade da LNB, que possui um segundo filtro que ajuda na definição operacional dos clubes que irão jogar o NBB.
DB: Para finalizar, gostaríamos de saber quais seus planos e expectativas para a próxima temporada do NBB, com relação ao calendário ainda mais apertado, à pressão da torcida por resultados e à responsabilidade de tentar manter o mesmo nível da última temporada.
JFR: Nosso plano está em abrir mais o Pinheiros para o público de São Paulo, nos tornar referência da cidade e não somente do sócio Pinheirense. Já estamos trabalhando hoje para que isso aconteça e espero colher os resultados em breve.
Quando falamos de calendário, fica claro que as instituições se comunicam muito pouco. A LNB tem procurado liderar este processo, e acredito que em pouco tempo teremos um calendário onde todas as instituições fiquem satisfeitas, respeitando o espaço de cada um. Todo o segmento da modalidade deve ser escutado, jogadores, árbitros, clubes, ligas, federações, confederação e FIBA. Esse processo já está em andamento para o melhor do basquete, e com certeza todos tem interesses comuns para que funcione o calendário.
O que acontece com o Pinheiros, é muito interessante, pois com baixo orçamento estamos sempre sendo competitivos a cada degrau que subimos na escala dos torneios internacionais que participamos.