Estudar é preciso, compreender também é preciso mas ajudar é obrigação
Nos últimos dois meses estive no Curso de Formação de Treinadores Nível I e Reciclagem Nível III realizada pela Escola Nacional de Treinadores de Basquetebol em Belo Horizonte, que teve como principais palestrantes Professor Dante de Rose Júnior da Universidade de São Paulo e os técnicos Paulo Bassul, Flávio Davis, Del Harris e o preparador físico argentino, Professor Mário Mouche. Também estive presente, em São Paulo, na 4ª Clínica Internacional de Basquetebol para Técnicos, com a presença dos técnicos Larry Brown e Dave Hanners, evento realizado pela empresa Score Brasil em parceira com a Federação Paulista de Basquetebol.
Não preciso dizer que, para um técnico jovem como eu, estes eventos foram muito bons para o meu aprendizado e claro, poder ouvir e conversar com estes técnicos e ter contato com todos os outros que fizeram o curso/clínica.
A cobrança de estudo sobre os técnicos de basquetebol existe e é grande. Porém, a realidade nem sempre ajuda para que os treinadores consigam ir até os cursos. O comum no Brasil é um técnico de basquetebol trabalhar somente meio período com a modalidade e ter pelo menos mais um emprego para completar sua renda. Dessa forma, com dois ou mais empregos, se ausentar se torna uma luta ingrata e muitas vezes ímpossivel para que o profissional consiga a liberação de um dia de trabalho ou dois. Alguns cursos são em feriados, porém esbarram em outro problema, o calendário de jogos que nem sempre contempla os cursos com a importância que os mesmos deveriam ter.
Dinheiro é o principal fator limitante para a participação de treinadores em cursos e clínicas. Será que pagar para treinadores participarem é a única ajuda que entidades e empregadores podem fazer ?
Ainda temos o fator limitante do custo. As inscrições para este tipo de curso e clínica variam entre duzentos e trezentos reais. Quando o curso é fora da sua cidade, ainda existem: passagem àrea ou de ônibus, estadia e alimentação. Claro, isso tem um custo e normalmente é um investimento alto para qualquer treinador de categoria de base. Quando a palavra dinheiro é mencionada, todos sabemos que as brigas e discussões se tornam mais desgastantes e os problemas começam a aparecer.
Vamos imaginar que o treinador que trabalha em dois ou mais locais conseguiu a liberação de todos seus empregos não vinculados ao basquetebol e poderá se apresentar em uma clínica fora da sua cidade, porém não tem o total da verba necessária para participar. O que fazer ? Desistir ?
A imensa maioria, infelizmente, não participa. O que não quer dizer que não tentou participar. Mas não conseguiu arrecadar fundos necessários para viagem e termina em frustração por não poder ir. Alguns poucos conseguem algum tipo de ajuda como pagamento da inscrição ou as passagens. A exceção da exceção consegue ter tudo bancado por quem o emprega. Claro, em casos de técnicos renomados e com anos no meio do basquetebol, podemos supor que seja menos complexo e dificil de se fazer presente neste tipo de evento.
Porém, com os treinadores da base deveriamos ter um cuidado especial, afinal, eles que estão formando o futuro do basquetebol do país.
Se o clube, prefeitura, associação não tem dinheiro para enviar um treinador para um evento, quem deveria pagar a conta no final ? A CBB ? As Federações ?
O caso só aumenta em sua complexidade. Acredito que seria interessante tanto para a CBB quanto para as Federações terem em seus quadros treinadores que estudam, reciclam, enfim, tentam melhorar sempre e estão dispostos a melhorarem o basquetebol. Como estas entidades vão alegar mil problemas e claro, jamais terão dinheiro para antender todos os treinadores, deveriam existir diferentes maneiras para ajudar.
À príncipio, acredito que se um engenheiro renomado venha do exterior ou mesmo de algum lugar do Brasil para uma palestra no Brasil, o CREA não deve contemplar todos os seus filiados custeando algo. Aliás, não deve contemplar nenhum. Porém, devo imaginar que alguma ação deve ser feita pelo CREA para ajuda-los. Ainda que seja a divulgação do evento, algo que é ignorado pelos péssimos, tenebrosos, lamentáveis sites das federações e Confederação em nosso país. Busquei algo sobre a clínica deste final de semana no site da CBB, perda de tempo. Se existe menção, está bem escondido como sempre. E a desculpa para a incompetência será a mesma de sempre.
Quais ações as Federações e a Confederação poderiam fazer ? Uma primeira, seria tentar um diálogo com as escolas ou Secretárias de Educação para mostrar a importância da liberação de um ou dois dias, para o treinador. Que ele não irá viajar para passeio, que ele estará buscando conhecimento. Este diálogo, formal e bem estruturado é uma ajuda. Poderia não render em nada ? Sim, porém seria um respaldo a mais para um treinador conseguir uma liberação.
Larry Brown esteve no Brasil para uma clínica e a tradição foi mantida, CBB e Federação Mineira de Basketball não divulgaram. Será que isso é ajuda ?? Ou será que o custo da divulgação para a mínima divulgação nos péssimos sites pelos quais estas entidades respondem ?
Divulgar, como já mencionado, é uma obrigação destas entidades. Claro, não podemos esperar muito de quem não consegue fazer um misério site, porém ainda que ridículos estes sites existem e alguma menção deveria ser dada para clínicas e eventos, como esta do final de semana em São Paulo.
A ajuda financeira, que poderia vir em forma de rodízio, contemplando uma região do estado por temporada, para ajuda em uma clínica que seja. Em Minas, por exemplo, um ano a Federação ajuda os treinadores da Zona da Mata, no outro ano, os treinadores do Triângulo, depois treinadores da Região Central. E em contra partida, os treinadores apresentam um seminário para os que não foram, enfim, uma troca. Não somente depositar qualquer quantia na conta dos treinadores e ponto final. Apresentar relatórios, ter estes relatórios arquivado para qualquer treinador poder estudar. Seria algo simples, porém mais do que é feito hoje.
Uma última idéia de ajuda, levar um corpo técnico e se possível (claro, negociando com a organização) gravar a clínica e ter disponível somente dentro da Federação para estudo. Criar um banco de dados para que qualquer treinador possa assistir ainda que somente um trecho da clínica, fazer algo no sentido de democratizar o conhecimento. Claro, mesmo que o treinador para ter acesso ao vídeo pague algo, teria o mínimo que é poder assistir e ouvir o que foi colocado nestes eventos. Se não em todos os eventos, negociar com alguns organizadores. Deve existir uma forma, com a quantidade de mídias disponíveis hoje, para que um treinador interessado possa ter acesso ao material.
Deixar claro que as idéias aqui são esboços simplificados e claro, existem pessoas bem mais competentes e inteligentes para criarem variadas formas de ajudas para que os treinadores possam ter acesso ao material para estudar, que acredite você leitor, não é simples de achar por aí. Não se acha em qualquer biblioteca ou livraria. Acredito que nenhum treinador suplique por esmola de qualquer entidade, mas seria inteligente e bom para todos que algo fosse feito por quem diz contribuir para o basquetebol.
Na relação empregador e empregado, acredito que os clubes, associações ou prefeituras que ajudam seus profissionais a irem para este tipo de evento, com certeza estarão num futuro próximo à frente das que fecham os olhos para estas oportunidades e pensam somente no gasto e não como investimento. Investir no profissional da casa é algo que deveria estar na mente de todo administrador. Claro, novamente o dinheiro é o fator limitante do processo, porém, mais uma vez, existem formas para sanar a falta de verba. Se somente um técnico pode ser bancado pelo empregador, que vá pelo menos um e na volta este dê uma palestra para os demais ou se faça um grupo de estudos e na próxima clínica outro será contemplado e fará o mesmo. É uma pequena solução. Pode não ser a ideal. Porém, fechar os olhos para a realidade e ignorar por completo a necessidade do empregado, com certeza não parece ser a melhor solução.
Logo, estudar é preciso, compreender a situação complexa na qual os treinadores estão inseridos também é preciso, mas ajudar, seja a CBB, Federações ou empregadores, deveria ser obrigação. E ressaltar que ajuda, nem sempre é financeira. A financeira, claro, tem um peso maior e resolve os problemas de uma forma mais simples, afinal, envia os treinadores para dentro dos locais dos cursos. Mas, se existir boa vontade, diálogo, seriedade, outras formas de ajuda vão aparecer e os profissionais terão condições de estudarem, que no final das contas, é o que faz a diferença.